segunda-feira, 17 de maio de 2004

sUBMARINe - Spaces&Places (The Acoustic Wash Machine)



Peguemos numa misturadora e deitemos lá para dentro um pouco de pop, hip-hop, trip-pop, dub, pós-bop e umas gotas de sons que nos transportam aos anos 80. Agitemos antes de usar. Agora levemos o cocktail ao fundo do mar para refrescar. Nas mãos temos, pronta a saborear, uma bebida de nome sUBMARINe.
Antes de provar a mistura coloquemos na tela um filme de si-fi. Pode ser o Blade Runner. Se ele não estiver à mão qualquer um do David Linch serve.
Depois de darmos os primeiros goles, sentimos que este sabor tem um travo igual a muitas outras bebidas. No início o gosto que emana do copo, é capaz de nos despertar os sentidos. Mas se continuarmos a beber, sentimos que a lingua já não separa o gosto dos ingredientes, e temos quase vontade de chegar o copo para o lado. Resistimos e voltamos a levar o copo à boca. Quando o vidro nos mostra que a bebida está quase no fim, conseguimos detectar no fundo um sabor que nos faz pensar que se na borda do copo ele fosse o primeiro a entrar na boca, tudo poderia ter sido diferente.
Pena é que o barman que preparou esta bebida não tenha conseguido ser mais arrojado. Perdeu-se a juntar no mesmo recipiente ingredientes que já estamos fartos de provar noutros lugares. E assim sUBMARINe perde por não encontar forma de subir à tona de água.
O ideal seria escolher qual o mar certo em que navegar, sem ter de andar à deriva. Mas tal não acontece e esta bebida perde por incluir dentro tantos componentes diferentes. É pena que o barman não tenha carregado no aroma dub saído da garrafa “Like Paradise”. Este sim um sabor fresco e com um toque inovador. São poucos os bares neste país que servem cocktails assim.
Olhando para a prateleira onde se amontuam as garrafas que ajudaram a dar cor a esta bebida sentimos que se “Spy Eyes” tivesse vertido mais liquido o gosto teria sido outro.
No final, ao olharmos para a base de copos que está na mesa por baixo desta bebida, podemos ler: “o conceito fundamental é que não existem ideias novas. Existem sim caminhos alternativos, que se podem considerar rotas para novas ideias, mas para se chegar até elas tem que se olhar para todas as áreas. Só se pode chegar a algo novo combinando a observação de novas e velhas fontes”.
Se antes de provarmos sUBMARINe tivessemos lido isto, sentiriamos que afinal o sabor desta bebida tinha mesmo que ser este. Mas como as letras em que este aviso vem escrito são pequenas, faz todo o sentido pensarmos que isto deveria ter soado de outra maneira.
Mas atenção, que este barman formou-se numa boa escola de hotelaria e sabe do seu oficio. As bebidas que prepara não fazem mal nem provocam ressaca. Seria é bom que ao baterem na nossa cabeça estes liquidos despertassem os nossos neurónios de outra forma. Mas se calhar já estamos a pedir demais.
Agora, resta esperar para ver qual a próxima receita a ser confeccionada… Vamos ver se será nessa altura que fazemos o brinde que por agora ficou esquecido.

Nuno Ávila

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