segunda-feira, 23 de maio de 2005

NOVIDADES DE SAMUEL JERÓNIMO


“Rima” dedicada a Fernando Magalhães

Samuel Jerónimo dedica a sua mais recente peça intitulada “Rima”, ao jornalista -recentemente desaparecido - Fernando Magalhães. Com este acto, o compositor pretende homenagear aquele a quem muito deve. A música perdeu um dos seus melhores amigos.

Arranque da pré-produção de “Rima”

Samuel Jerónimo terminou o processo de composição do seu novo álbum. O mesmo será composto por uma só peça intitulada “Rima”, que reúne música para quarteto de cordas, dois pianos, electrónicas, aparelhos mecânicos e vozes tratadas. Nesta peça, o compositor propõem uma abordagem musical dividida em dois conceitos, sendo que o primeiro lida com a estética musical e o segundo com os ideais nela contidos. Assim sendo, ao nível estético, “Rima” pretende abandonar a ideia do presente como aniquilador do passado, negando a compartimentação do tempo ao unir o passado ao presente, num exercício em que o risco sentido neste se atenuará no futuro. O próprio nome da peça ilustra a ligação e dependência das diferentes dimensões temporais passado – presente ou presente futuro.

O século XX foi rico na invenção de novas estruturas que puseram em causa as estruturas vindas do passado. Tais mudanças radicais provocaram pela primeira vez a repulsa perante a novidade, quer pela extrema radicalidade das propostas, quer por tudo aquilo que punham em causa.

O sentimento de repulsa nascido com a criação destas novas estéticas vai de encontro à noção de que o modernismo implica uma negação do tempo, ao inventar um presente contínuo. Como diz Stravinski: "A música é o único reino onde o homem pode construiro presente". O modernismo, seja em Rilke ou Rimbaud, Varèse ou Picasso, é visto sobesta perspectiva como uma arte da verdade, de uma verdade mais verdadeira que averdade do passado, tudo o que se cria tem de cair, portanto, na necessidade paradoxal de se negar a cada novo passo.

O modernismo "clássico" foi definido na obra do crítico inglês do século XIX, Matthew Arnold. Para Arnold, a poesia deve se propor a si mesma como "criação", como a invenção de todas as coisas, Adão no nascer da manhã. O poeta moderno é aquele que nomeia as coisas, finalmente, pelo que são e o modernismo é, acima de tudo, a afirmação de uma verdade literal, desfazendo as figuras e os artifícios que aprecederam. Esse desejo de pureza é depois trabalhado em vários graus de ironia pelos poetas modernistas, transformando-se numa resistência ao Romantismo, apontado como arte caduca.

A noção de modernismo de Arnold não é a única, sendo que os seus descendentes estão espalhados por toda a história da arte e da crítica moderna. A respeito da força alternativa de uma tradição alemã (criada na primeira geração do Romantismo), ou da percepção aguda das ambivalências em Baudelaire, Stendhal e Berlioz, ou mesmo de Walter Pater e seus seguidores (Wilde, Yeats, Joyce) - as ideias de Arnold, adaptadas a novos interesses e transmitidas, então, pelo poeta Eliot, permanecem vigorosas até hoje. Transposto para a música e reduzido a um esquema grosseiro, mas usual, é assim que se concede o modernismo do primeiro Stravinski, o herói pagão danova música. Ao contrário de Schönberg, que jamais nega a sua dívida para com atradição, Stravinski surge no início do século XX supostamente como o profeta da amnésia.

Em “Rima”, Samuel Jerónimo nega a compartimentação do tempo ao unir o passado ao presente, num exercício em que o risco sentido no presente se atenuará no futuro. O próprio nome da peça ilustra a ligação de dimensões temporais passado – presente ou presente futuro, as quais estão dependentes entre si.

Ao nível das ideias, “Rima” segue a estrutura básica do fenómeno da inversão magnética, no qual o pólo magnético transita de norte para sul passando por um período de caos magnético. Tal estrutura, quando aplicada no plano social, permite-nos traçar paralelismosentre esse fenómeno e a actual reestruturação social.

A ordem de trabalhos consistiu na revisão da partitura, levada a cabo por SamuelJ erónimo e Sérgio Barreiro.

“Redra Ändra Endre De Fase” e “Symptom of Thisease” distribuídos no Reino Unido

O álbum de estreia de Samuel Jerónimo “Redra Ändra Endre De Fase” e o split c.d.“Symptom of Thisease”, no qual o compositor participou com a banda sonora que fez em 1999 para o filme “The Distant Images of the Abstract Light”, inspirado em trabalhosde Douglas Gordon, serão distribuídos no Reino Unido pela Sentry Music.

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