sábado, 29 de setembro de 2007

O OUTRO LADO DA MÚSICA PORTUGUESA



O blog do Santos da Casa iniciou uma rubrica denominada “O Outro Lado da Música Portuguesa”. Pretendemos desta forma dar a conhecer e valorizar o trabalho, de quem na sombra, ajuda os artistas e bandas a alcançarem o estrelato. Por aqui vamos dar voz a promotores, managers, road-managers, rodies, produtores, editores, técnicos de som, donos de salas de concerto, organizadores de espectáculos, realizadores de programas de rádio, jornalistas, e a gente mais ou menos anónima que em sites e blogs fala daquilo que por estes lados se vai produzindo. As grandes entrevistas, com os maiores protagonistas, que são os artistas ficam guardadas para o 107.9 da Rádio Universidade de Coimbra.

Hoje o entrevistado é Fernando Ferreira. Ele é o pai da MiMi Records (http://www.clubotaku.org/mimi/pt/main.php) editora de net que junta no mesmo espaço artistas nacionais e do Japão e do blog Play On Tape (http://www.playontape.blogspot.com/) que mete no ar demos tugas dos anos 80 e 90 prontas a sacar.


Nome: Fernando Ferreira
Idade: 36
Profissão: Creative Designer (freelancer)
Contactos: fernandoferreira@clubotaku.org


1 - Santos da Casa (SC) - Conta-nos a história da MiMi. Como surgiu e porque é que resolveste criar umanetlabel?

Fernando Ferreira (FF) - A ideia surgiu em 2004 para "satisfazer" dois gostos pessoais - o Japão e a música. Depois de ter assistido um concerto de música tradicional japonesa - aquando dacomemoração dos 460 anos de amizade entre Portugal e o Japão pensei que poderia contribuir para o estreitamento dos laços entre Portugal e o Japão criando, para tal, um projecto de música "moderna". A escolha de criar uma netlabel é meramente por facilidades logísiticas. É tudo muito mais simples e imediato.

2 - SC - Porque é que resolveste criar uma editora para lançar apenas artistas portugueses e japoneses?

FF - Sendo a MiMi Records um dos projectos criados pelo ClubOtaku (http://www.clubotaku.org ), uma "organização" estritamente virtual que se dedicar à divulgação da cultura japonesa. A escolha de editar apenas artistas japoneses e nacionais era evidente. E como a música é uma das faces mais visiveis da cultura japonesa o ClubOtaku decidiu avançar com o projecto e assim, criar mais um polo de interesse.

3 - SC - Quais são os estilos de música que a MiMi "comercializa"?

FF - Até à data, os estilos navegam as novas sonoridades da electrónica (idm, click'n'cuts, glitch, minimal techno, dark ambient, noise, digital hardcore). Neste momento, a MiMi Records já começou a atacar noutras sonoridades, caso do Projecto Gentileza e da próxima edição dos japoneses Hula Hooper, mas sempre com o intuito de dar às pessoas experiências novas.

4 - SC - Como têm reagido os japoneses aos artistas nacionais que a MiMi edita?

FF - Tem sido muito interessante pelos mails que tenho recebido, e a prova disso é a edição [mi062] - Kenji Siratori / ocp / T3tsuo, onde os textos e as palavras do escritor cyberpunk japonês Kenji Siratori serviram de mote para as faixas do EP criado pelos portugueses OCP (Operador de Cabine Polivalente) e T3tsuo. E estão agendadas mais edições entre portugueses e japoneses, quer sejam em edições splitquer em projectos únicos.

5 - SC - Criaste igualmente o blog Play On Tape que disponibiliza maquetes dos anos 80 e 90, de bandas nacionais, que só existiam em formato de cassete. Conta-nos igualmenteum pouco da história deste blog.

A ideia surgiu um bocado ao acaso. Enquanto arrumava a garagem encontrei algumas cassetes de bandas que eu ouvia na altura e pensei porque não as dar a conhecer à geração mais nova. Depois, de ter falado da ideia a algumas pessoas que prontamente me ajudaram a arranjar mais k7s, foi o caso do Nuno Ávila (do programa Santos da Casa) e do António Caeiro da editora (Anti-Demos-Cratia), a coisa avançou.

6 - SC - As edições da MiMi e as recuperações feitas no Play On Tape estão apenas disponível na net. Porquê a opção de dar a conhecer música quase só através do espaço da net? A questão monetária pesa nesta escolha?

FF - A questão monetária é um dos factores para que estes dois projectos que falas tenhama penas vida virtual. Embora, a MiMi Records já tenha editado duas compilações em formato físico (cdr) que tiveram uma aceitação enorme pelo público. Outro dos factores, é a rapidez com que se "espalha" toda a informação que circula na net. Colocas agora uma nova edição online da MiMi Records e passado 5 segundos pode estara ser ouvida no Japão. Não é fantástico?

7 - SC - Como é que tu encaras o fenómeno da música livre. É uma moda? É a única forma de alguns músicos se afirmarem? O futuro é quase só este?

FF - Talvez seja uma moda... o fenómeno das netlabels é a forma mais "fácil", rápida e pode dar milhões (risos). O futuro dos artistas/bandas pode começar pelas netlabels, ou então pelo MySpace ou outro tipo de comunidades para "artistas", pois é a forma de estes novos artistas se mostrarem.

8 - SC - Pensas que o fenómenos das netlabels está para durar ou é uma moda passageira?

Veio para ficar e para durar, o exemplo disso é as novas netlabels que estão a aparecer não só em Portugal como no resto do mundo, que cada vez se estão a especializar mais. Antes a grande maioria das netlabels era de música electrónica, agora já encontras de Metal, Pop/rock e WorldMusic.

9 - SC - Como é que escolhes as bandas que editas pela MiMi?


FF - A primeira escolha para ser editado na MiMi Records é eu gostar do que estou a ouvir. Mas para chegar a essa escolha existe o processo de pesquisa de novos projectos. Uns encontro-os em comunidades ligadas à música; outros é por simpatia, ou seja, alguém que já tenha editado na MiMi fala com os amigos/músicos e aconselham a netlabel.

10 - SC - A MiMi tem tido muito boas criticas, até da parte de alguns músicos que porlá aparecem. Contavas com estas reacções? Como escolhes as maquetes que dás a sacaraos visitantes?

FF - Contava. Quando uma pessoa inicia algum projecto qualquer que seja a área, tem como objectivo que seja um sucesso e que as pessoas falem favoravelmente dele. Essa aposta foi ganha na MiMi Records, apesar de inicialmente ter sido dificil as pessoas aceitarem. Mas como dizia o poeta: "primeiro estranha-se, depois entranha-se". Tenho "pena" que algumas pessoas, ainda não tenham reconhecido o valor que a MiMi Records têm quer ao nível musical quer ao nível social. Mas isso, são outras músicas. Para escolher a ordem de saída das maquetes faço jankenpon(papel-pedra-tesoura em português) ou um-do-li-ta-cara-de-amendoá ...

11 - SC - Editando a MiMi grande quantidade de musica nacional, como vês tu o mercado da música mais alternativa feita em Portugal?

FF - Vejo cada vez a crescer mais e com bastantes projectos interessantes e de qualidade. só tenho pena de não poder editar muito mais, por falta de tempo.






Nuno Ávila

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