segunda-feira, 23 de junho de 2014

Joana Gama + Luís Fernandes - “Quest” (Shhpuma)





















Um piano e electrónica . O piano de Joana Gama, artista de vertentes mais eruditas e a electrónica de Luís Fernandes, senhor que conhecemos dos Astroboy ou Peixe : Avião.
A junção pode parecer estranha. Mas não é. E também não é novidade se nos lembrarmos de John Cage e David Tudor e Alva Noto e Ryuichi Sakamoto.
Como não podia deixar de ser a experimentação está muito presente em “Quest”. As coisas não são lineares. Os dois artistas subvertem aqui conceitos. Este não é um registo erudito, nem um disco de electrónica pura. Em grande parte do disco temos sons de piano manipulados, subvertidos e em loop. Esta vontade de não querem fazer as coisas da forma mais simples torna este disco mais saboroso.
“Quest” vai criando ao longo do seu trajecto várias tensões. É um disco que funciona na perfeição para a banda sonora de um qualquer filme de suspense que possamos imaginar na nossa cabeça.
Como poderá por ventura parecer, devido à forma como foi criado e pelos seu lado mais digital, este registo, não é frio e distante. Tem um lado muito ambiental que em grande parte das suas 10 músicas, passa muito rente ao nosso corpo.
“Quest” é um feliz encontro entre dois excelentes artistas, cada um na sua área, que souberam encontrar uma forma muito feliz para casar o seu talento. Tudo aqui está na doze certa, sem resvalar para campos que possam ser muito adversos ao nosso ouvido. Contudo, este não é um disco totalmente fácil. “Quest” é uma obra que se desbrava com puro prazer.
E apesar de ser um registro que aparece assinado pelo nome de cada um dos que nele participa, o disco ganha pontos porque ele funciona como se fosse um duo a criar cada uma das canções. Ninguém aqui brilha mais que ninguém.
Agora, o importante é entrar dentro de “Quest” sobrevoar o seu som e no fim aterrar suavemente deste voo. E atenção, que viagens destas são para repetir, quantas mais vezes melhor.
 
Nuno Ávila

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