quinta-feira, 8 de setembro de 2016

MATA-RATOS COM NOVO REGISTO











O DISCO

34 anos após os primeiros acordes e 9 anos passados sobre o lançamento do seu último e quinto álbum de originais – “Novos Hinos para a Mocidade Portuguesa”, Rastilho Records 2007 – eis que os infames Mata-Ratos regressam às edições de grande folego, novamente sobre a alçada da Rastilho Records, com «Banda Sonora do Apocalipse Anunciado» .

O lançamento ou efeméride pode ser encarada de diversos pontos de vista: ou estamos perante uma das bandas menos produtivas e preguiçosas do panorama pop-rock nacional ou os Mata-Ratos obedecem a um ritmo muito próprio que não se compraz com os ditames e regras impostos pela indústria discográfica onde a norma é a necessidade da constante produção da ‘novidade’ (mesmo que não a seja) ou de encher ‘chouriços’ (e a OMS alerta agora para o seu caracter cancerígeno) em timings bastante apertados. Assim sendo, e, contrariando tudo o que é sugerido pela crítica cultural de parâmetros adornianos, como explicar a resiliência e popularidade dos infames? A resiliência poderá ser explicada pela teimosia do projecto (ou projéctil) musical – o agir com disfuncionalidade num mundo absurdo permite a sobrevivência contra tudo o que é ventos, marés e outros fenómenos agrestes como tsunamis de cerveja – já a popularidade é mais dificilmente expectável face a um a grupamento musical que aparenta suscitar mais ódios do que paixões. Raramente a indiferença.

Mas louve-se o que será provavelmente o último álbum de originais da já longa vida dos Mata-Ratos. A obedecer ao ritmo de produção patenteado, os elementos da banda já estarão numa casa de repouso quando se avizinhar um próximo lançamento.
E o que trás de novo «Banda Sonora do Apocalipse Anunciado»? Nada. Basicamente é mais do mesmo. Evolução técnica? Zero. Hinos orelhudos? Apenas 15 novas bombas sónicas prontas a explodir nas ventas dos mais incautos. Ninguém espera outra coisa dos infames Mata-Ratos. E que venha o Apocalipse anunciado!

OS TEMAS

O novel trabalho discográfico, que terá edição nos formatos LP Vinil e CD pelas mãos competentes da Rastilho Records, é servido como um menu de 15 pratos para o fim dos tempos devidamente guarnecidos com doses cavalares de punk-rock puro e duro: da mais desejável das mortes («Tsunami de Cerveja») ao engodo mitológico que sustenta séculos de apatia nacional («Nação Ficção»); do toque triunfal que precede o fim dos tempos («Banda Sonora do Apocalipse Anunciado») ao desejo sanguinário de justiça popular («Perder a Cabeça»); da leitura semiótica dos textos sub/culturais («Onde estavas no 25 de Abril?») ao grito de revolta contra os que se enfartam com a miséria alheia («Donos disto Tudo»); de episódios menos recomendáveis da via sacra do cristianismo («Canibais de Ma’arra») ao hino desbragado ao supremo dos néctares («A Infâmia e a Bravia»); da justa e devida homenagem («Som da Frente») ao supra sumo das figuras patéticas passiveis de imag inar («Os bois pelos nomes»); do drama das mães solteiras («Fora do Baralho») aos estereótipos da lusitanidade («Jihad Lusitana»); do surrealismo canino religioso («A Visão») á pulsão sexual animalesca («Capuchinho Vermelho») e finalizando com o tomar de consciência de que querer ter tudo é o mesmo que não ter nada («Quero Mais»). Há de tudo para todos. É fartar, vilanagem!

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