segunda-feira, 9 de julho de 2018

CAMANÉ GANHA PRÉMIO MANUEL SIMÕES




















O júri ponderou a mestria interpretativa do fadista que resgatou cuidadosamente um dos repertórios emblemáticos do fado, de um dos seus mais carismáticos intérpretes, Alfredo Marceneiro, sem se deixar confundir ou seguir o modelo, mas antes recriando, propondo o seu próprio registo. Uma interpretação iluminada de um dos repertórios matriciais do fado, numa equação excelente com o acompanhamento instrumental.

O álbum evidencia a faceta artesanal e de afetos, património indissociável do fado, que Camané, figura absolutamente maior do panorama fadista, o faz de uma forma natural, sem artifícios nem recursos exógenos, antes na suprema simplicidade fadista, da qual é mestre.

A sua interpretação – que se evidencia na recriação do repertório de Marceneiro – é plena; nela se revelam todas as notas musicais, a emoção, a capacidade de encontrar a musicalidade das palavras e imprimir-lhes um cunho próprio, sem exageros, de uma forma contida, autêntica e inteira.

Neste CD, editado em outubro de 2017, reconhece-se a validação da tradição, sem o fadista ficar preso a ela, mas reconhecendo-lhe a sua motivação inspiradora e tornando-a contemporânea.

Ao revisitar o repertório de um dos maiores vultos do fado, Alfredo Marceneiro (1891-1982), ao interpretar muitas das melodias que compôs e, ao ter convidado Carlos do Carmo para participar no CD, Camané estabelece uma linhagem artística, ou como as sucessivas gerações passam o testemunho e contemporizam o fado, que é sempre novo.

Camané aponta Carlos do Carmo como uma das suas referências, que por sua vez conviveu com Alfredo Marceneiro, citando-o como um dos paradigmas da arte fadista.

Considerou ainda o júri destacar o Mérito das edições discográficas AMÁLIA. FADOS’67/Valentim de Carvalho, AMÁLIA. COLISEU 1987/Valentim de Carvalho e RECORDAR ANA ROSMANINHO/Lagar da Música, por resgatarem para a atualidade repertório essencial à tradição e, simultaneamente, à prática fadista.

Além do indiscutível mérito das duas intérpretes maiores do fado, o júri destaca a importância de revisitar e recuperar património fonográfico, essencial para uma constante atualização da hermenêutica fadista.

No caso das duas edições de Amália Rodrigues (1920-1999), que celebram os 50 anos do respetivo LP, acrescentando material inédito, e do 30.º aniversário do segundo concerto a solo da extraordinária intérprete no Coliseu dos Recreios, realce-se o empenho dedicado, cuidado e perspicaz de Frederico Santiago, que tem vindo a trabalhar na recuperação da Integral das gravações de Amália Rodrigues, acompanhando-a de textos elucidativos.

Quanto à edição do CD de Ana Rosmaninho (1950-1991), por ocasião do 50.º aniversário da sua estreia, saliente-se o trabalho que partiu do absoluto interesse em recuperar material fonográfico que se encontrava disperso e que corria o risco de se perder, aliando a uma clara devoção pela fadista, com a inclusão de apontamentos instrumentais com textos sobre a intérprete que definiu um estilo e cujo repertório urge revisitar.

O júri

Julieta Estrela de Castro
Margarida Mercês de Mello
Sara Pereira
Edgar Canelas
Nuno Lopes

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