Chega hoje às lojas e às plataformas digitais o álbum "COLINAS", um projecto de Lázaro (Pedro Geraldes) e João Varinhos.
COLINAS é como uma velha cidade. Um disco feito da sedimentação de memórias e mistérios, da sobreposição de camadas de tinta e de patine. É feito de tempo, do tempo que foi preciso para dizer adeus à cidade-mãe, do tempo que a desfigurou, do tempo que trouxe o distanciamento. É nesse hiato que se cria o disco, tendo como matéria prima um conjunto de gravações feitas numa cidade em iminente transformação, como quem decide partir, levando consigo um velho álbum de retratos para enganar a saudade.
COLINAS é um processo. Um longo processo de composição, que começou há uma década na recolha de paisagens sonoras de Lisboa e que se estendeu na colaboração de Lázaro e João Vairinhos na composição de um tema para cada colina da cidade e que culminou numa rigorosa labuta de produção e sobreposição de recortes, rock e rasgo. É também um convite ao percurso (por ruelas sinuosas, através do som e da alquimia dos estados de espírito), à viagem (às profundezas do luto, numa reminiscência da cidade que foi e do que deixámos com ela, entre partidas e desencontros), mas também à descoberta (de entusiasmantes caminhos de composição, de surpreendentes paisagens musicais, de novas cidades por inventar).
COLINAS é rock e cinema, tem noise e deambulação, eletrónica e vozerio de cidade, sintetizadores e flauta de amolador, tem fado e bateria, samples manipulados engenhosamente e tem o dom de transformar os recortes de uma Lisboa evocada, no impacto da música de guitarras. Sendo evocativo, não cai na nostalgia saudosista, nem trilha caminhos batidos, puxando adiante com o entusiamo do recomeço e da itinerância, misturando tudo.
Lázaro faz da dor fantasma o braço que toca a guitarra (é o som que preenche o vazio), faz da banda-sonora canção, tocando com fúria e fome de futuro e faz, da colaboração com o baterista João Vairinhos, um incrível disco (tão imediato, quanto etéreo) que poderia ser um novo capítulo das “Cidades Invisíveis” de Calvino ou a cenografia de um hipotético filme de David Lynch sobre Lisboa.
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