A noção de tempo encerra em si a ideia de uma força invisível que define o ritmo da nossa existência. O tempo contém a particularidade de ser extremamente concreto e irritantemente fugidio. Percebemo-lo através de ciclos. Há quem o veja como um contínuo que nos “arrasta” para o futuro, e que deixa o nosso passado para trás. Outros há para quem ele é um eterno retorno, diferente na forma mas com padrões reconhecíveis. É relativo, por não ser absoluto na forma como o percepcionamos. O Tempo é um lembrete constante de que somos finitos e é também um recurso precioso que nos permite negociar o equilíbrio entre o que devemos e o que realmente desejamos fazer enquanto ele flui.
Porque o tempo é uma parte complexa e integrante da nossa existência que influencia a forma como pensamos, sentimos e interagimos com o mundo que nos rodeia, TEMPO, o novo trabalho musical de Fernando Ferreira, convida-nos a um desacelerar dos ritmos quotidianos que nos impomos e aos quais nos vamos subjugando de forma mais ou menos consciente.
TEMPO tem um alinhamento de dez canções. Estas canções que o cantor nos oferece, propõem uma reflexão sobre os nossos diferentes tempos. Um tempo interior e ritualístico onde recupera a “Oração ao Tempo” de Caetano Veloso; um tempo existencial e reflexivo com o “Eternamente Tu” de Jorge Palma; Sérgio Godinho e Chico Buarque surgem no alinhamento deste trabalho com o tema “Um Tempo que Passou” propondo uma reflexão sobre o nosso tempo ontológico e aspiracional; Sebastião Antunes compôs uma reflexão do Eu envolto num retrato social do nosso quotidiano que se expressa em “Romances da Madrugada”; Fernando Ferreira alia-se às palavras de José Carlos Ary dos Santos em “Soneto Presente” denunciando a ideia de que “a terra de onde venho é onde moro” na qual não existem pessoas ilegais nem barreiras físicas que nos definam. As restantes canções, todas da autoria do cantor confirmam a ideia pilar deste TEMPO onde podemos encontrar ainda o desejo de socialização e tertúlia franca e genuína entre pessoas que se gostam em “Eh Pá!...”; “Duzinha” é uma declaração de amor que o seu pai fez para a sua mãe… era assim que ele a tratava; “Ladainha da Rosa” introduz as incompreensões de que vamos sendo alvo nas nossas narrativas de vida; o tempo de intervenção e de não cancelamento das ideias, pensamentos e acções encontramos em “Faz” e a necessidade de um tempo onde impere a autoestima chega-nos em “Consolado”
Conservando uma matriz lusófona onde a palavra tem sempre uma importância maior e onde a voz, desta vez, se situa num registo mais contido, ainda que com a mesma segurança e maturidade interpretativa que nos tem habituado, Fernando Ferreira em TEMPO, arrisca novas sonoridades. Recorre para esse efeito à utilização de beats e programações, elementos que emprestam uma conseguida contemporaneidade e urbanidade neste seu novo trabalho.
TEMPO dá também o nome à digressão deste novo trabalho do cantor, que já se apresentou em vários palcos nacionais.
Fernando Ferreira é acompanhado por quatro músicos, onde além do alinhamento integral de TEMPO, é também revisitado os seus trabalhos anteriores: Mantenhas (2020) e Mestiço (2010).
25 Outubro - 21h30 - Auditório da Biblioteca Municipal, Mangualde
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