segunda-feira, 9 de junho de 2014

Mão Morta - “Pelo Meu Relógio São Horas de Matar” (Nortesul)




















Os Mão Morta estão a envelhecer. Não da mesma forma que envelhece uma garrafa de vinho. Não estão a ficar melhores, apenas iguais a si próprios. O passar dos anos tem no entanto, levado os Mão Morta a cimentarem muito bem o seu caminho sem fazer cedências. A banda tem mantido sempre a sua independência, mesmo que por algumas vezes se tenha aliado a grandes editoras.
Apesar de continuarem a escrever grandes canções e belos discos, falta-lhes contudo, um toque de mágica para poderem fazer as suas obras ganharem cores mais vivas. Qualquer coisa de fresco  que nos faça olhar de novo para eles com satisfação redobrada.
Em “Pelo Meu Relógio São Horas de Matar” apenas conseguem de facto abanar o sistema, através do clip criado por Rodrigo Areias para o single “Horas de Matar”. O vírus alastrou ao ponto de já ter sofrido censura em alguns lados.
Este seu ultimo registo, é um misto de canções onde o rock se expande alegremente, com outras que se arrastam mais, e nos obrigam a audições repetidas para delas melhor podermos desfrutar.
Isto, contudo, não faz deste “Pelo Meu Relógio São Horas de Matar” necessariamente uma obra mais fraca. Não nada disso! Pelas palavras ditas, este é um disco deste tempo, onde a politica, está bem presente. Adolfo não perde aqui a sua veia critica e incita à revolução através das histórias que vai contando ao longo do disco, por via da personagem a quem dá vida. Um disco conceptual, onde se espelha muito bem o retrato desta sociedade em que hoje vivemos.
Como escrevia, a idade começa a trazer outro pensar aos Mão Morta, que sofisticam muito mais a sua forma de criar arte. Daí que este registo não siga sempre pelos caminhos mais fáceis. Mesmo que a banda saiba que isso lhes pode causar alguns dissabores. Mas depois de tantos anos a batalhar o que é que isso importa!Este é assim um disco de várias audições. E quanto mais se ouvir mais ele entra em nós e nos dá vontade de parar o relógio e sair para a rua de cocktail na mão.
O que nos fica como resumo da matéria dada é que este é um disco feito essencialmente para os grandes admiradores da banda. Gente que cresceu a ouvir e a idolatrar os Mão Morta.
Certo, certinho é que não pode haver história da música portuguesa que se escreva sem referir os Mão Morta. Por todo o seu legado eles continuam a ser uma grande banda.
 
Nuno Ávila

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