sábado, 16 de novembro de 2024

LUÍS PUCARINHO AFIRMA "SÓ AS PERGUNTAS ABREM PORTAS"





















Conheci a música de Luís Pucarinho na altura do seu segundo álbum a solo, “Orgânica mente humana”. Tinham já ficado para trás os Sons de Cá, o seu projecto em grupo, e também a estreia em nome próprio e em longa-duração com “Na Rua Amarela”, de 2011. Mas, de 2015 até aos dias de hoje, tenho tentado acompanhar a música deste cantautor ora mais próximo do rock ora bem fundado nas tradições portuguesas e nas do seu Alentejo natal. Vê-lo ao vivo foi aliás a confirmação da sua escrita bastante confessional, tal é por vezes o despojamento na sua entrega às canções que nos apresenta. E, seis anos depois de “Saia rodada”, o seu terceiro álbum a solo, Luís Pucarinho traz-nos o novo capítulo desta sua aventura musical: “Só as Perguntas Abrem Portas”.

E há de facto inquietação a rodos neste novo disco do cantautor nascido em Alcácer do Sal - isto desde a primeira faixa, “Animais”, onde nos diz “Não quero mais viver para tapar um vazio / E afundar o ser”. Vemos aqui o quotidiano dissecado por alguém que não fica “a ver a vida da janela”, mas que a sente na carne e que a transporta para as suas canções de uma forma despudorada. Luís Pucarinho interroga o mundo e interroga-se como ente criativo que faz parte do mesmo, envolvendo-nos num abraço em que nos faz recordar que “nós somos só pessoas”. Mas ele, que não é “quadrado nem articulado” no seu parecer, como canta em “Mãe”, não receia de facto mostrar as suas fragilidades como ser humano. É essa aliás uma das suas “fortalezas” como cantautor, inserindo-se numa linhagem que vem dos jograis medievais e que segue pelos cantores folk do século XX que mostraram a sua alma naquilo que cantavam, ao mesmo tempo que punham dedos nas feridas da sociedade.

“Só queria ter a solução / resolver tudo de rajada /mas há quem faça revisão de quantos / vão ficar sem nada”, canta-nos Luís Pucarinho em “Janela”. Não será esse o seu caso, já que, apesar da nota de algum desencanto que transparece em canções como “Carta ao Meu País”, é também ele a salientar que “existe sempre um bom dia para dizer / O Amor sem hesitar põe-se a pensar / E junta poesia para escrever”. A sua poesia salta das palavras e passa para a música, vivendo também de cumplicidades como as que o ligam aos músicos Zé Peps ou Mário Lopes, ele que nos apresentou já duetos com Jorge Benvinda (dos Virgem Suta) ou Duarte (um dos mais notáveis fadistas desta geração). Afinal, “quantas coisas minhas são só tuas”? Ou será que o Luís Pucarinho é um alter-ego de nós todos neste Portugal de 2024?...

João Carlos Callixto

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