segunda-feira, 9 de junho de 2014

MIGUEL TORGA EDITA DISCO



















A Elements Records apresenta a sua quarta edição, o long play "Hexágono Amoroso" de Miguel Torga, um dos mais interessantes produtores portugueses dos últimos tempos.Onze temas que nos contam uma história de uma portugalidade abstracta, algures entre a melancolia doce das manhãs no meio da natureza ou a dançar num qualquer after hours amigável e o amanhecer nos braços de alguém a quem nos sentimos inevitavelmente ligados mas que o jogo da vida nos faz mover através de sensações e emoções labirínticas. Mas não é um disco pesado. Esta combinação entre house/dub music e uma portugalidade que conjuga a nostalgia do passado, o eterno retorno da beleza e a paz do país mais campestre, fazem dele um disco muito leve e elegante como que a fechar a história fatalista de Portugal num final feliz e num ninho acolhedor. A produção é coesa e cheia de arranjos originais e cheios de personalidade, e o seu amor pelo cinema, literatura e humor inteligente é transparecido ao longo do disco através de várias referências mais ou menos óbvias.
 
Aliás, o tema de abertura "Pina Bausch do Intendente" mostra-nos logo o jogo subsersivo do dia a dia das relações, em jogos de palavras indefinidos, convidativos a um jogo sensual de funk, tensão e incerteza.Os elementos percussivos, os field recordings e os sweeps quase trágicos de tão determinantes completam este quadro de crescendo ansioso.
 
"Rosa Maria e os calores" vem logo a seguir aliviar toda esta tensão com um groove sólido e bem disposto pontuando que a dança pode resolver questões bem complexas.Rendição total a esta faixa sábia, onde vozes quases clínicas, um grito inesperado e uma flauta marota tropical nos faz ficar vivos e receptivos no meio do dance floor. E a história continua...
 
"Do Lago" é a terceira faixa, uma ode soberba a este paraíso português tão cobiçado lá fora. Ambient, dub, sons de água e um lead etéreo conduzem-nos a um estado quase hipnótico de perfeição existencial. a desaceleração é propositada mas o groove maquinal sustêm a alma em positividade.
A seguir vem "Pela água eu rei" uma bomba dub techno espacial, apimentada por uma voz lânguida e indolente que nos convida a fechar os olhos, e ao abandono do corpo na dança. É por aqui que nos começamos a aperceber que toda esta história faz um sentido quase assustador, mérito da sensibilidade artística e vivencial de Miguel Torga enquanto produtor.
 
"A Mariana" continua no mesmo tom dançável, alegre e sugerindo equilíbrio num groove desconstruído com uma melodia dramática num tom de surrealidade a roçar o absurdo.Os instrumentos jogam naturalmente entre si imprimindo fisicalidade a este tema.
"Tu és tão fresca", ou como  minimal não é sinónimo de repetição aborrecida. A tropicalidade aparece outra vez aqui, a não nos deixar em baixo.Aliás este é um elemento preponderante ao longo do disco, dando as sensações mais agradáveis e um feeling solarengo à história. Portugal é sol.
A seguir vem "Fauna e Flora" uma história nostálgica mas cheia de esperança em que o groove repetitivo nos leva a viajar por esse Portugal escondido e tão contrastante entre si de espaços e memórias. Aquele sentimento de quando estamos em viagem.
 
"Quero -te longe" é uma incursão numa pop house  minimal planante, com pads viajantes e abstractos, criando uma perplexidade latente juntamente com o ritmo saltitante do tema. Emoções divergentes em plena harmonia cinética.
 
"Foguete" podia determinar o fim do disco, um hino ao house mais clássico, onde o sorriso é invitável e a cumplicidade na dança, incontornável. O amor é uma festa, a um a dois a três, a mil. Mais uma vez os arranjos melódicos criam um efeito cinemático bem conseguido, ainda por cima por um amante da estética da sétima arte, no entanto é um tema bem directo ao ponto.
 
Mas ainda temos Caminhos, um verdadeiro épico inclassificável, algures entre um pós dubstep, e um acid sólido que nos deixa minúsculos perante tal momento sónico.Não consigo imaginar melhor contraposto para o resto do disco, música  que mostra a maturidade e eclecticismo confiante de Miguel Torga. Proper e demolidor. Bem vindo seja o futuro.
 
"Ex" finaliza o opus, desarmando-nos de todas as estruturas racionais apoiadas no ritmo e na dança, e deixa-nos suspensos num maravilhoso ambient em filigrana, sonhador e misterioso.

2 comentários:

Unknown disse...

muito bom adorei a descrição das faixas ate fiquei com vontade de ouvir em tom repeat mas ñ tinha tempo congratulations

Unknown disse...

muito cool adorei a descrição das faixas ate me apeteceu ouvir em modo repeat mas ñ tinha tempo força nisso abraço BUCK