Tributo a Zeca Afonso
Todos sabemos quem ele é. Até quem nunca o viu ou ouviu o seu nome. Até quem nunca o ouviu. De uma forma ou de outra, todos nos cruzámos com ele. Talvez sem reparar, porque a personagem é discreta.
Cabelo aos caracóis, despenteado, óculos de míope, calças largas, de bombazina. Ar estremunhado. Típico coimbrão. Boémio da Real República do Rás-te-parta e dos Inkas. Pensando melhor: um gajo de Setúbal. Um agitador da cintura industrial. Margem sul. Do Alentejo, já agora. Mestre do cante, compadre trabalhador da vila morena. Do Algarve, professor de Faro. Vendo bem, é um transmontano. Tipo rude, emanação do granito. Bicho do mato.
Homem simultaneamente misterioso e vulgar, uma imagem que é e não é, que se transforma no que queremos ver, no que precisamos de ver, como as manchas de tinta do teste de Rorschach, com que os psicólogos fazem emergir o que há de irredutível e único em cada pessoa.
O Zeca Afonso é isso. Um ser reverberante e simbólico, no qual cada um se consegue ver e ouvir. Um homem igual a todos. Com uma voz extraordinária, mas essa parece que não vem dele. Atravessa-lhe o peito mas não nasce lá. Sai de nós. E irradia dele.
Ele, o homem do povo e o doutor, o mouro e o sefardita, o agente provocador e o seminarista, o pusilânime e o clandestino, o fadista e o revolucionário. Um pouco lunático, um pouco utópico, um pouco assustador. Lírico, grotesco, louco de Deus, trovador bêbado de poesia e crueldade, goliardo da Carmina Burana da última Idade das Trevas… “
Assim começa o texto, da autoria de Paulo Moura, que acompanha o disco “Reintervenção”. Com data prevista de edição para Setembro de 2010, Reintervenção, marca o ressurgimento do mítico selo Orfeu, para o qual Zeca Afonso gravou grande parte da sua obra.
JP Simões , Norberto Lobo, Carmen Souza, Terrakota, Headcleaners, Cacique 97, Nancy Vieira, Cool Hipnoise , Janita Salomé , Sam the Kid, Tiago Sousa, Afonso Pais, Orlando Santos, Vitor Rua, Filipe Raposo, Pedro Esteves, Amélia Muge e Amílcar Vasques Dias são os ilustres convidados desta aventura. A obra de Zeca Afonso, reinterpretada pelas novas gerações de artistas ganha novas formas de expressão.
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