quinta-feira, 18 de maio de 2017

ROGER PLEXICO E O SEU DISCO




















O novo LP de Roger Plexico "Where The Sidewalk Ends" será lançado em digital/vinil no próximo dia 21/05/2017

Podes ouvi-lo aqui: http://bandcamp.com/private/BO9PI4FW

“Where are you?”. Estas são as primeiras palavras que se escutam em “Grossinger’s Catskill Resort”, a faixa de abertura do novo trabalho de Roger Plexico, WHERE THE SIDEWALK ENDS. Se usarem o google para encontrar esse resort, que fica perto de Nova Iorque e é um sítio “real” (embora tudo em Roger Plexico nos obrigue a questionar o que é a realidade, mas já lá iremos...), vão encontrar um lugar abandonado, esquecido pelo tempo. O mesmo acontece com o lugar que inspira o tema “Guliver’s Travel Park”, um parque temático algo surreal no Japão, ou com a estrutura que cedeu o nome para o título de “Jetstar Rollercoaster”, uma montanha russa destruída pelo furac ão Sandy e atirada ao mar pela força da tempestade...

Se forem espreitar os títulos de NO MAN’S LAND vão igualmente descobrir espaços abandonados pelo tempo, resguardados pela memória, mas desprovidos de presente. O que faz sentido: este projecto imaginado pelos produtores Slimcutz e Taseh, duas cabeças pensantes da etiqueta Monster Jinx, viveu sempre dessa fantasia, dessa relação criativa com o tempo – dois pés no presente, imaginação no passado. Ou vice-versa, nunca se sabe.

Musicalmente, WHERE THE SIDEWALK ENDS é talvez o mais ambicioso projecto de Roger Plexico que além do já citado NO MAN’S LAND (2015) soma ainda a estreia com WHO IS ROGER PLEXICO? (2014) e o álbum colaborativo com Ace ROGER PLEXICO & ACE (2015) além, claro, de faixas soltas em compilações da Monster Jinx e algumas remisturas e produções para trabalhos de gente como Deau ou Mundo Segundo. É que, de forma muito discreta e tranquila, a identidade Roger Plexico tem vindo a afirmar uma sofisticada marca autoral, com produções que equilibram riqueza textural e imaginação melódica, características perfeitas para fazer derivar o pensamento, tanto em instrumentais como quando há MCs por perto.

No novo álbum, Roger Plexico vai mais longe: as baterias começaram por ser sampladas, mas ganharam depois espessura real quando Pedro Vasconcelos meteu baquetas em cima de pele no estúdio de Vale de Lobos. As gravações das “drum tracks” ficaram a cargo de Pedro Vidal, que ainda acrescentou uma guitarra “lap steel” a “Aniva Rock Lighthouse”, e a masterização ficou a cargo de um dos mais exigentes mestres na gestão de agudos médios e graves, compressões e brilhos – Miguel Marques do SDB Mastering. E na lista de ferramentas – sobretudo os teclados como o Fender Rhodes, o Juno 106, o Yamaha DX7 ou o Moog Voyager, para citar apenas algumas das naves que Roger Plexico levou para as suas visitas a estes lugares in óspitos – adivinha-se mais uma maneira de reinventar o passado, como se Roger Plexico navegasse em busca de ecos do tempo em que todos estes lugares vibravam com a promessa de um futuro que não chegou a acontecer.

O resultado é impressionante: Roger Plexico cria uma espécie de Library : Roger Plexico cria uma espécie de ecos do tempo em que todos estes lugares vibravam com a promessa de um futuro que espécie de Library Music do presente: uma música evocativa em que o hip hop é sempre e apenas ponto de partida, mas onde as coordenadas das viagens incluem o jazz e o easy listening, o yacht rock e o AOR que em tempos evocou praias de águas azuis, iates de magnates, palmeiras que de tão reais até pareciam de plástico e helicópteros parados no topo de arranha-céus espelhados. Se pegarem no telescópio e o apontarem para o topo de um desses prédios é natural que ainda vislumbrem a figura de Roger Plexico, mala de executivo na mão, provavelmente com fitas dentro para entregar ao produtor de um qualquer filme de Hollywood que, com um bocado de sorte, ainda poderão encontrar em VHS numa loja de segunda mão algures.

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