quinta-feira, 8 de março de 2018

SANDRO NORTON EM PALCO




















Depois de partilhar o palco das maiores salas do país com o premiado vibrafonista Gary Burton, o virtuoso guitarrista Sandro Norton prepara-se para apresentar algumas das novas sonoridades que vão fazer parte do Flying High…At the Heart of It (Two). É já no próximo dia 20 de março, pelas 21h30, na Casa da Música, que podemos assistir ao Quarteto Sandro Norton com um convidado muito especial, o saxofonista Martin Speake, que fará a 1ª parte do concerto de Jonathan Kreisberg Quartet.

Com oito álbuns gravados, Jonahtan Kreisberg, guitarrista e compositor nascido em Nova York, vai mostrar no Porto, o seu mais recente trabalho, “Wave Upon Wave", com composições originais, onde se pode assistir a paisagens moderna, influencias da world music e muita paixão que tanto caracteriza este músico nova iorquino.

Jonathan, incoorpora no seu quarteto, o pianista impulsivo de Roy Haynes, Martin Bejerano, e a jovem equipa de seção de rítmica (contrabaixo e bateria) Matt Clohesy e Colin Stranahan.

Na 1a parte do concerto de Jonathan Kreiseberg, teremos Sandro Norton com um dos melhores saxofonistas da atualidade, Martin Speake, apelidado como um improvisador com um talento impressionante, cuja inspiração aparentemente não tem limite. Como refere John Kelman, da All About Jazz, o lirismo e a subtileza das melodias escritas e improvisadas de Martin Speake desdobram-se por vezes de uma forma tão gradual que é preciso ter uma mente aberta para conseguir absorver tudo o que envolve.

Assim, Sandro Norton, um dos maiores guitarristas nacionais, promete surpreender o público. Tendo já partilhado o palco com nomes maiores como Gary Burton, Ian Anderson, Barry Harris, entre tantos outros, prepara-se para uma vez mais trazer ritmos envolventes e de intensa atmosfera jazzística. Este talentoso músico portuense faz-se acompanhar nesta viagem musical e cultural com o Quarteto Sandro Norton, que conta com a maestria inconfundível de João Salcedo no piano, Filipe Teixeira no contrabaixo e João Cunha na bateria.
"Horas. Em nenhum instante olhei para o relógio, mas sei que fiquei a ouvi-lo durante horas. Permaneci estático naquele parque, eu, o meu quotidiano e os meus compromissos, cativos de uma sonoridade incomum, ambivalente, que ao mesmo tempo me detinha e me fazia viajar. Ali fiquei, a ouvi-lo sentado na relva, de guitarra ao colo e alma ao vento. O som era dominante, viciante, intrínseco. Emanava uma vibração que fazia os meus átomos dançar. E a sensação desse bailado era tão agradável, que senti que podia ficar ali infinitamente.

 O batuque na madeira da guitarra, a carícia dos acordes, a dança das mãos nas cordas. Horas. Não fazia ideia de quem era. Muito menos que ele tocava desde criança, que tinha sido instruído numa das academias musicais mais conceituadas do mundo. Que usava mais de 20 afinações de guitarra. Que a técnica que me hipnotizara tinha nome, nomeadamente “guitarra percussiva”, e que ele a aprendera em Londres tendo como mentor Eric Roche, uma lenda no ensino de guitarra, que também instruíra o conceituado Andy McKee.

 Estava longe de imaginar que ele já percorrera o mundo a tocar. Que já derramara o seu jazz em pubs nova-iorquinos ou no mítico The Cavern, bar de Liverpool em cujo palco os Beatles tocaram pela primeira vez. Longe, muito longe de imaginar que ele já tocara com os Jetro Tull, que comandou o seu sexteto com Gary Burton.

 Que ele tinha um quarteto, um octeto, um disco.

 Só me libertei daquele deleitoso cárcere sonoro ao entardecer, quando ele se levantou e colocou a guitarra no saco. Durante todo aquele tempo, ele parecera-me tão imerso na sua própria música, no seu próprio mundo, que não tive coragem de o abordar. Limitei-me a vê-lo afastar-se, com um pesado sobretudo negro a abraçar-lhe a silhueta e todo o mistério daquele vasto instante. Escuro como o céu, que me clarificou das horas que ali estivera. E só então segui caminho, incrédulo com a capacidade do som de desafinar a ampulheta do tempo, atormentado pela incerteza de algum dia poder voltar a ouvir aquele músico enigmático.

Nunca soube que ele se chamava Sandro Norton."

Sandro Norton

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