Todos os dias às 19h, o mais antigo programa de rádio pela música portuguesa
está na RUC em 107.9FM ou em emissao.ruc.fm
material para audição/divulgação, donativos, reclamações e outros para:
Fausto Barros da Silva - Apartado 4053 - 3031-901 COIMBRA
quarta-feira, 14 de abril de 2004
MÃO MORTA – Nus (Cobra)
“Nus”, assim se encontram os Mão Morta neste momento. A banda despiu-se de preconceitos para escrever mais um disco. Entregou-se de corpo e alma dando tudo o que tinha de si, deixando a descoberto o seu interior. Em 7 canções, os Mão Morta mostram porque são inegavelmente a banda mais talentosa do actual panorama da música portuguesa. Quem mais teria estofo para criar um tema de 25 minutos mais alguns segundos?
No entanto, que fique bem claro, que “Nus” não é de longe nem de perto o melhor álbum da carreira da banda e que Adolfo Luxuria Canibal e seus pares já criaram melhores temas. Que fique igualmente claro que os Mão Morta não sabem fazer maus discos.
Os sons, exceptuando o primeiro e sétimo temas, que se ouvem neste novo disco da banda, remetem-nos para ambientes anteriormente criados pelo grupo de Braga. A abrir aparece “Gumes”, um tema dividido em 8 partes, quase como se de uma peça de teatro se tratasse. O grande destaque vai para o 5 acto em que participa Marta Ren vocalista dos Sloppy Joe, criando um ambiente quase infantil. Na quarta parte somos levados a passear por terras do médio oriente. Nos restantes minutos, por vezes esbarramos em momentos de pura raiva, outras somos confrontados com uma calma apaziguadora trazida por um piano, outras ainda somos levados a passear por terrenos mais experimentais. Este tema é então uma verdadeira faca de dois “gumes”. O ultimo tema do disco vem carregado de guitarras suaves e libertadoras que nos conduzem numa viagem a uma “Morgue”. Todos devíamos ter uma morte santa.
Os sons do segundo tema denominado “Gnoma”, onde aparece Miguel Guedes a cantar em português, fazem-nos recuar até ao disco “Corações Felpudos”. Já “Vertigem” obriga-nos a mergulhar vertiginosamente no clima criado no brilhante “O.D. A Rainha do Rock And Crawl”. Quanto a “Estilo”, onde a nossa memória de criança desperta novamente, mistura o saber de alguns temas de “Primavera de Destroços”, com um coro final a lembrar o velhinho “1º de Novembro”. “Tornados”, é uma canção que bem poderia fazer parte do disco “Müller no Hotel Hessicher Hof”. Por fim “Cárcere”, o tema mais rock do disco, faz lembrar muitas das músicas incluídas em “Mutuantes S.21”.
Como se comprova, temos aqui uns Mão Morta revistados, a provar que ainda vale a pena gravar discos. Contudo, convém lembrar que a idade não pode ser apenas um posto.
Pena é que o grande miolo do disco não siga o rumo dos temas de abertura e fecho. Quando inovam os Mão Morta provam toda a sua vitalidade. E o que sempre deu gozo ouvir nos discos da banda foi essa sua veia para criar coisas novas. Caso contrário caiem no risco de criarem temas já criados.
E o que se quer, o que os fãs querem, é ver os Mão Morta renascidos e não revisitados.
Nuno Ávila