segunda-feira, 26 de abril de 2004

QUINTETO TATI - Exílio (Tansformadores)



Antes de escrever mais alguma coisa convem informar, em primeiro lugar, que o Quinteto Tati é um sexteto. Em segundo, é bom esclarecer os mais distraídos que este é um projecto liderado por J.P. Simões e Sérgio Costa, dois elementos dos Belle Chase Hotel. Depois de feito este segundo reparo, percebe-se facilmente que o ambiente que se vive neste disco tinha que ser este. Era impossível meter por outra estrada… até porque podiam ser multados. Se é assim que aprenderam a guiar, é assim que devem conduzir.
A panela que é posta ao lume solta aromas de valsa, de rumba, de bossa nova e de jazz. O cozinhado é temperado com pitadas de Belle Chase Hotel, de Azemblas’s Quatet, de Balla, de Irmãos Catita, de Caetano Veloso entre outros condimentos. Depois de tudo bem mexido, somos convidados a saborear um pitéu, que é um autêntico manjar dos deuses.
Para acompanhar a refeição bebemos uns poemas da belissima colheita de J.P. Já é difícil encontrar quem escreva letras em português assim. Só “No Jazz” é cantado, teimosamente, em lingua inglesa.
Ao carregar na tecla play, somos levados a dançar uma “Valsa Quase Imprevista”, tema que Armando Teixeira não desdenharia ter escrito. Segue-se ”Rumba dos Inadaptados ( Ou A Morte Do Jovem Contribuinte) ”. Está aberto o salão de baile. E por aí vamos dançando, levados em passos pelo encanto da música do Quimteto Tati.
Ao virar de uma esquina, deparamos com “A Flor da Vida, A Arte Do Encontro” um tema que Manuel João Vieira bem gostaria de ter escrito para os seus Imãos Catita ou então pra o álbum “Corações De Atum “ que partilha com o saudoso maestro Shegundo Galarza. Já “No Jazz”, é uma faixa que dá gozo ouvir num qualquer “Living Room” onde o jazz é servido com duas pedras de gelo. Em “Vai Já Passar”, quem passa ao nosso lado é Caetano Veloso. Enquanto fazemos o “Inventário Maritimo” somos quase obrigados a passear num carrosel acompanhados de um “Lonely Gigolo”. Quase para o final ouvimos mais “Uma Para o Caminho”, e ganhamos folgo para seguir rumo ao Brasil. É então que descobrimos novamente uma “Fossanova” e vemos ao longe “São Paulo 451”. O ar cheira a Belle Chase Hotel. É hora de colocar sobre a tela os “Créditos Finais”.
Depois de tudo isto ficamos com a certeza de que o melhor tema do disco é “Suor e Fantasia”.
“Exilio” é um disco para descobrir aos poucos. Está carregado de pormenores escondidos. Sérgio Costa produz de forma certeira um disco, que faz as flores do jardim desabrochar. Soube regar bem este canteiro.
Apesar de não ser de todo original, este CD tem a sua originalidade. É diferente de muitos no sentido que é necessário ter coragem para ir por um caminho que à partida só é seguido por peregrinos mais atentos. Mas se outros conseguiram atingir a meta, de certeza que tambem o Quinteto Tati lá vai conseguir chegar sem ter de antes se exilar. Basta apenas acreditar no público portugues e pensar que ninguem vai deixar de comprar este disco só por ele ter sido composto e tocado por brilhantes músicos portugueses .
Adeus, vou apagar a luz e pôr de novo o disco a rodar. Apetece-me voar… Apetece-me sonhar…

Nuno Ávila

Sem comentários: