segunda-feira, 12 de julho de 2004

MOFO - The Atari Punks On Dope (Metrodiscos)



Hoje apetece-me viajar no meu descapotável. Vou até à garagem e sento-me ao volante. Antes de ligar o motor pego no porta-cds que tinha trazido de casa para escolher o disco que me acompanhará. Comigo trago cds de Marlyn Manson, Nine Inch Nails, Rammstein, Prodigy e o mais recente do projecto português Mofo. Opto por este último por ser o mais novo.
Deixo ao fundo a cidade. O leitor de Cds berra. Agora que entro na auto-estrada colo o ponteiro aos 120. De um lado e de outro um enorme descampado.
Pelas colunas do carro os Mofo cospem raiva debitam um rock pesado, feito de guitarras que descendem por linhas travessas do punk.
Estão diferentes estes Mofo, penso eu, ao ouvir as primeiras músicas. O som está menos electrónico. Longe vão os tempos de “Project Mofo”, o primeiro registo, em que a banda polvilhava o som com misturas tremendamente tecnológicas.
Tinha lido algures que antes de formarem os Mofo, os elementos da banda faziam parte dos Thormentor, um dos mais radicais projectos de metal que nasceu em Portugal. Parece mentira, mas afinal é verdade. Os dois projectos estão a quilómetros de distância e não têm entre eles pontos em comum, a não ser o peso que os músicos imprimem aquilo que tocam.
O depósito do carro esvazia-se. Pelo ar as notas acústicas de “I don´t Care At All”. Aproveito este tema mais calmo para parar ir abastecer. Terminada a tarefa volto de novo à estrada.
Metros à frente pago a portagem e meto por um caminho secundário. Ao longe fábricas sujam o ar com fumo negro. O ponteiro está agora nos 100.
Descubro que afinal a música dos Mofo não está assim tão diferente. Na segunda metade do disco, os sons mais electrónicos dominam, industrializando o som.
No fim de ouvir “The Atari Punks On Dope” chego à conclusão de que os Mofo apesar de não nos trazerem nada de novo imprimem uma qualidade e uma frontalidade à musica que tocam que nos cativa. Se distrados ouvirmos um dos seus temas podemos fácilmente julgar estar perante um projecto que não é português.
Todas as comparações são aqui inevitaveis. Todos os grupos que se possam apontar como referência, fazem com que este disco não soe a nenhum deles em particular, o que acaba por ser uma mais valia.
Os Mofo são um projecto que não cheira a mofo. São um grupo do futuro. Fazem parte de um amanhã dominado por um rock que inevitavelmente não consegue fugir aos computadores, que cada vez mais dominam o mundo. E é a que reside a diferença. Os Mofo são inteligentes ao perceberem que nisto da música o que importa é pegar naquilo que bandas do passado nos ensinaram, despir o corpo de pré-conceitos, e criar um som que apesar de ser presente está com um pé no futuro.
Chego a casa cansado. Vou direito ao meu quarto e atiro violentamente o corpo para cima da cama. Durmo… Sonho com imagens de ovnis…

Nuno Ávila

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