Estes ainda são os Micro Audio Waves? Estes ainda são os Micro Audio Waves, que editaram um disco de laboratório onde a pesquisa do ruído, era perseguida pelos dois cientistas de serviço? Estes ainda sãos os Micro Audio Waves, que criavam experiências sonoras, capazes de infernizar as mentes menos abertas a novas formas de som?
Mas afinal quem são estes Micro Audio Waves criadores de um álbum de nome "No Waves"?
Para já convém dizer que agora os Micro Audio Waves são um trio. Convém explicar que agora na banda existe uma vocalista de nome Claudia, que ao lado de Flak e Carlos Morgado, cria neste disco canções de ambientes quase pop. Sim, escrevi bem: canções quase pop! Canções pop de raízes electrónicas.
Estão muito mudados os Micro Audio Waves. Para melhor. Sem abandonarem o lado mais experimental, criam em "No Waves" um conjunto de temas verdadeiramente excitantes, capazes de nos surpreender segundo a segundo.
Não são verdadeiramente inovadores estes "novos" Micro Audio Waves. Se escutarmos temas como "White Beard Birds", "Fully Connected", "Sold Out", "Adam (You Big Bang Maker)" ou "Escape From Albania", verificamos que a banda nutre grande admiração pelo trabalho de Laurie Aderson. Não será mentira dizer que Claudia aprendeu a forma de colocar as palavras sobre os sons com a criadora de "Big Science". É mesmo a senhora Laurie Adersom, quem maior número de marcas deixa em "No Waves".
Mas por outro lado, se ouvirmos as canções "Le Loupie" e "Serge Ou Suchi", descobrimos que Flak e seus pares, nutrem igualmente um carinho pelos nipónicos Pizicato Five.
A canção sónica "Satarday Evening" e a acústica "After Hours" são os casos mais curiosos deste disco. A primeira, sem abandonar a electrónica, cria texturas a fazer lembrar Sonic Youth. A segunda, abandonando a electrónica, traz à memória os The Velvet Underground (é uma versão). Estamos assim perante dois temas, que fugindo ao restante de "No Waves", nos provam que os Micro Audio Waves são capazes de criar e recriar temas simples e belos.
Depois de um primeiro disco que passou um pouco ao lado, os Micro Audio Waves, pararam para repensar a carreira, partindo novamente do zero. São outros, sendo os mesmos. É outra a atitude, sendo a mesma a vontade de experimentar.
Podem dizer, depois de ouvir o disco, que a formula usada já não é nova. É nova por estas bandas. Quem é que em Portugal cria discos assim?
Claro que nos dias que correm já nada se inventa. As ideias são todas recicladas. A vantagem é que neste disco os Micro Audio Waves souberam ir pedir ajuda a verdadeiros mestres na arte de criar sons invulgares.
Tudo isto pode parecer estranho à primeira espreitadela. Há que insistir. Estranhar e de seguida entranhar.
Atrevam-se a mergulhar neste mar. A bandeira está verde e na placa lê-se "No Waves".
Nuno Ávila
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