quinta-feira, 23 de março de 2006

DER GELBE KLANG - A GRANULAR NO MUSEU DO CHIADO


Nuno Rebelo

DER GELBE KLANGO
Som Amarelo

Ciclo de concertos no Museu do Chiado

Museu do Chiado
Museu Nacional de Arte Contemporânea
Rua Serpa Pinto, 4 Lisboa
Produção: Granular (apoio Museu do Chiado)

De Março a Outubro de 2006
Bilhetes: 5 euros (2,5 euros para Restart, CEM,Sociedade Guilherme Cossoul; grátis para associados Granular)

As grandes correntes estéticas que vêm caracterizando as artes plásticas foram igualmente adoptadas pela música, e senão literalmente, em alguns casos até de forma muito difusa (Erik Satie é apontado como o único compositor do Surrealismo, algo que, de qualquer modo, não é especialmente evidente), o certo é que as linhas fundamentadoras de muitas tendências do visual ganharam igualmente expressão na arte dos sons. Um exemplo imediato é o interesse manifestado por Kandinsky pela música politonal e atonal de Schoenberg, na qual ele encontrou preocupações semelhantes às que aplicava nas suas telas. A correspondência entre ambos é esclarecedora, de resto, quanto à simultaneidade das buscas encetadas nos dois domínios.

O próprio Wassily Kandinsky sentiu-se compelido a compor, e uma dessas obras, destinada ao palco, chamou-se ³Der Gelbe Klang² (³O Som Amarelo²),nome que a Granular utiliza para identificar o ciclo de concertos proposto ao Museu do Chiado. Hoje, verificamos que uma boa parte da música criativa éfeita por pessoas que tiveram formação em belas artes e que em simultâne odesenvolvem actividade nessa disciplina. A produção de som por artistasvisuais definiu mesmo um novo rumo nas novas práticas nascidas com o séculoXX, razão suficiente para procurarmos interrogar o que na música há por estes dias de influência plástica ou de filiação estética coincidente. E as referências são, de facto, muitas, indo de reminiscências do Romantismo, ainda muito presente, por exemplo, na música improvisada, a correntes como o Futurismo, génese da ³noise music², o Dada, reflectido sobretudo no trabalho vocal por via das pesquisas fonéticas DER de Kurt Schwitters, o movimento Fluxus, inspirador da generalidade dos investimentos mais experimentais, ou o Minimalismo, que vem influenciando a electrónica.

No seu poema ³An Anna Blume², Schwitters refere-se mesmo aos ³vinte sete sentidos² da sensorialidade, e é isso que está em questão neste tempo de derrube das fronteiras entre as artes. Não há nichos criativos, apenas diferentes campos de acção artística que cada vez mais se encontram. DERGELBE KLANG propõe-se mostrar como, colocando em evidência o que estava apenas implícito...

Programa:

NÓS SOMOS
M FURIOSO VENTO

29 de Março, 19:00
Sala Polivalente

Américo Rodrigues
Nuno Rebelo
@c (Pedro Tudela e Miguel Carvalhais)

Ainda se prepara ³o grande espectáculo de desastre, fogo e decomposição ²ambicionado por Tristan Tzara. Dada revivo. Poesia fonética, ³bricolage² sonora e electrónica por computador num concerto em que as vocalizações escatológicas de Américo Rodrigues e os sons de origem variável de Nuno Rebelo, produzidos tanto por instrumentos (trombone e guitarra, por exemplo)como por simples objectos não-musicais, fazem guerra com a informática doduo portuense @c.

Actor, poeta e cantor, Américo Rodrigues tem equacionado a tradição da poesia sonora de um Kurt Schwitters com as práticas vocais da improvisação propostas por Phil Minton e Jaap Blonk. Com uma dupla actividade comocompositor de dança e improvisador, Nuno Rebelo trocou a pop sofisticada do grupo Mler Ife Dada, célebre na década de 1980, pela música extrema que hoje pratica, criada no próprio momento da execução. Pedro Tudela e Miguel Carvalhais, os dois @c, são bem o exemplo do ³artista total² dos nossos dias. Pintor o primeiro, ³designer² gráfico o segundo, têm também o som comomatéria de criação/destruição, utilizando-o não numa perspectiva especificamente musical, mas ³plástica².

WILD
STRAWBERRY
ECLIPSE

12 de Abril 19:00
Sala Polivalente

Flak
Maria Radich
Vítor Joaquim
Francisco Rebelo
João Ricardo

A música pop acabou por trilhar caminhos não coincidentes com os da Pop Art de Andy Warhol, o inspirador dos Velvet Underground, e de nomes como Rauschenberg e Lichtenstein. Regresso às origens... Um guitarrista vindo do grupo rock Rádio Macau (Flak), um baixista e programador de ritmos electrónicos com actividade nas áreas de hibridização do funk, da soul, do dub e do jazz (Francisco Rebelo), uma cantora de vocação experimental mas ancoragem popular (Maria Radich), um laptoper ³mutante², como ele próprio se descreve (Vítor Joaquim) e um adepto do analógico cujo interesse pelos ³cenários abstractos² não o fazem esquecer o seu passado no heavy metal (João Ricardo) propõem-se investigar os elos perdidos. Músico polifacetado, Flak é um dos fundadores do colectivo pop electrónicoMicro Audio Waves, um dos predilectos de John Peel (BBC) no final da suavida. Maria Radich tem dividido a sua actividade entre a dança e canção, com os Ovo. Vítor Joaquim é um dos nomes cimeiros da electrónica improvisada portuguesa. Francisco Rebelo trabalha regularmente nos domínios da ³clubmusic² com os Cool Hipnoise e os Spaceboys. João Ricardo tem apresentado as suas propostas sob a designação de Operador de Cabine Polivalente ou com o projecto Pygar.

TECHNOSHAMAN

26 de Abril 19:00
Sala Polivalente

Victor Gama
Pedro Almeida

As raízes da musicalidade (instrumentos inventados com inspiração africana) em contexto electronicamente assistido, buscando a colisão da ancestralidade pagã e tribal com as visões do futuro tecnológico. O ³sonho² cyber-punk, mediante a associação dos Pangeia Instrumentos de Victor Gama com a electrónica digital e de cunho particularmente performativo de PedroAlmeida, dois músicos de formações e percursos bem distintos nascidos emÁfrica, um em Angola e o outro em Moçambique.Victor Gama explora novas sonoridades e novos processos de criação através da construção de instrumentos musicais, dispositivos sonoros e instalações, usando um método de experimentação em que design, som, música, imagem e performance são conjugados, tanto recorrendo a tecnologias de ponta como investigando a evolução dos instrumentos desde a pré-história. Pedro Almeida, também conhecido por pAL, escolheu o computador como instrumentodepois de ter utilizado a percussão e a guitarra, baseando o seu trabalho no sampling, com o qual explora a voz até ao limite enquanto ferramenta sonora.Tem por lema "art4fun" (leia-se "art for fun"), sendo esse o seu principal conceito de criação artística.

A LUZ VEM DE DENTRO

10 de Maio 19:00
Sala Polivalente

Adriana Sá
Miguel Cabral
Jorge Serigado
António Jorge Gonçalves

A banda desenhada, o cartoonismo e o design gráfico abriram novos rumos ao figurativismo, inclusive (por influência) o musical. Uma homenagem a René Bertholo, pintor que construiu o seu próprio sintetizador digital de sons, ao qual chamava ³makina². A cítara paulistana de Adriana Sá, os instrumentos eléctricos / electrónicos inventados por Miguel Cabral e o baixo omnipresente de Jorge Serigado associam-se aos desenhos feitos e projectados em tempo real por António Jorge Gonçalves, artista de BD cada vez mais atraído pela performatividade do acto criativo.Com formação plástica, Adriana Sá tem desenvolvido um trabalho musicalcaracterizado por utilizar dispositivos de sua própria criação ou adaptação, de que é exemplo o ³instrumento de luz sonora². Depois de uma passagem pelo grupo de pop alternativa Mola Dudle, Miguel Cabral tem explorado a musicalidade de instrumentos custom-built como a lata cantante, um banjo electrificado feito a partir de uma lata de biscoitos que funciona simultaneamente como cordofone, percussão e e missor de ruído, e a montagem /composição em estúdio das contribuições de músicos distanciados geograficamente, num projecto que designa como The Nevermet Ensemble. Jorge Serigado é membro do Lumpen Trio, grupo experimental de destilação rock. Aclamado autor de banda desenhada, António Jorge Gonçalves foi um dos introdutores do formato ³novela gráfica² em Portugal.

OPEN CUBE

24 de Maio 19:00
Sala Polivalente

André Gonçalves
Filipe Leote
João Silva

As ³estruturas primárias² do Minimalismo continuam a influenciar muitos caminhos da criação artística. Na música também, seguindo preceitos próximos dos módulos e sistemas de Sol LeWitt... É por aí que seguem André Gonçalves, com a sua ³drone music² por computador, muito baseada na manipulação de frequências, e o guitarrista Filipe Leote, ora sobrepondo layers de harmónicos, ora criando bases de estática para os demais eventos. João Silva encarrega-se do vídeo, jogando com permanências e subtis mudanças visuais. A solo ou inserido em colectivos, André Gonçalves vem apresentando o seu trabalho sob as designações Ok. Suitcase, In Her Space, Stapletape, Iodo, EAe Sound Asleep, seja no domínio da arte sonora como por meio de instalações e obras videográficas, em muitos casos combinando todos esses âmbitos. Fundador do grupo Kromeleqs, Filipe Leote é um músico de formação rock com dois interesses paralelos: a exploração do kitsch e o minimalismo, que não necessariamente em associação. João Silva é videasta, fotógrafo e músico, tendo estudado e trabalhado com Vítor Rua e Jonathan Harvey. Inventou instrumentos a partir de ³objects trouvés² e dedica uma atenção especial à recolha de sons do ambiente humano.

CONTRACOMPOSIÇÕES

7 de Junho 19:00
Sala Polivalente

Carlos ³Zíngaro²
Ernesto Rodrigues
NoidUlrich
Mitzlaff
Miguel Leiria Pereira

Os instrumentos musicais da tradição clássica também podem ser fontes sonoras concretistas, equacionando os factores distintivos do Construtivismo e do Desconstrutivismo. As ³contracomposições² pintadas por Theo van Doesburg nas mãos de um quinteto de cordas... O violoncelista austríaco Noid (Arnold Huberl) é o convidado especial deste agrupamento que congrega os melhores executantes de cordas da improvisação portuguesa: Carlos ³Zíngaro²(violino), Ernesto Rodrigues (viola), Ulrich Mitzlaff (violoncelo; alemão de nascimento mas residente no nosso país há largos anos) e Miguel Leiria Pereira (contrabaixo). Usando alternativamente a electrónica, Noid tem uma dupla faceta de compositor (sobretudo para dança) e improvisador, ora centrando a sua atenção numa ³process music² muito pessoal cujas implicações leva ao limite,como no projecto Monodigmen (que identifica com a pintura de Malevich), ora abrindo-se a um trabalho de colaboração, com parceiros como Tetsuo Furudate,Mattin ou EriK M. ³Zíngaro² é um dos grandes violinistas mundiais queescolheram a via improvisacional, identificando-se por uma linguagem que seemancipou do free jazz e da música contemporânea. Ernesto Rodrigues teve um percurso semelhante e tornou-se num dos elementos-chave da cenainternacional do chamado reducionismo, uma prática que privilegia o silêncio, as texturas e a microtonalidade. Mitzlaff é um músicop olifacetado, mas com reconhecíveis influências clássicas, e tal acontece também com Miguel Leiria Pereira, tendo este estudado com o compositor Jorge Peixinho.

A VÉNUS
DE PISTOLETTO

21 de Junho 19:00
Sala Polivalente

Emídio Buchinho
Carlos Santos
Rui Costa

Música feita com objectos do quotidiano e tecnologia lo-fi, partindo das coordenadas da Arte Povera para ir mais além. Ou aquém. Buchinho, Santos e Costa substituem os seus instrumentos habituais tanto por uma grande variedade de utensílios motorizados ou electrónicos como por ³objectstrouvés² que, amplificados, possam ter utilização musical. Face às presentes discussões sobre a superioridade do digital em relação ao analógico ouvice-versa, a resposta deste trio é a de que o importante mesmo é produzir som. ³Does God exist? Yes, I do², lê-se numa das obras escultóricas mais conhecidas de Michelangelo Pistoletto... Emídio Buchinho é um dos mais respeitados engenheiros e desenhadores de som do cinema português, ao mesmo tempo desenvolvendo actividade na área da música criativa como guitarrista e manipulador de electrónica. Que pode ser o computador, os pedais de guitarra ou um simples microfone, que diz ser o seu principal instrumento de trabalho. Uma opinião partilhada por Carlos Santos, laptoper especialmente interessado pela modalidade ³fieldrecordings², anglicismo utilizado para designar as recolhas sonoras e mambientes urbano, industrial e natural que constituem a base das suas composições/improvisações concretistas. Este tipo de investimento também é caro a Rui Costa, outro partidário da música informatizada, mas que troca ocasionalmente pela exploração directa das fontes sonoras, por exemplo usando os sons de arroz a fritar ou de berlindes rodando em superfícies metálicas

PICTOGRA
PHSPETROGLYPHS

12 de Julho 19:00
Sala Polivalente

Rodrigo Amado
Paulo Curado
Luís Lopes
Rui Faustino

O jazz e a improvisação como correspondências do Expressionismo Abstracto. Imagine-se um pictograma (de Adolph Gottlieb, por exemplo) não como arepresentação visual de um som, mas como a representação sonora de uma imagem... Amado, Curado, Lopes e Faustino são todos eles improvisadores e de comum têm uma ligação privilegiada com o jazz, mas a sua perspectiva deste idioma musical é suficientemente aberta para o questionarem com alguma distância crítica. Só assim, de resto, o jogo a realizar seria possível.Com os Lisbon Improvisation Players, grupo de formação variável que temreunido portugueses e importantes nomes do circuito internacional, Rodrigo Amado concilia o free jazz com a livre-improvisação. Fora dos LIP a sua presença faz-se notar nas mais diversas áreas, do colectivo de hip-hop RockyMarsiano a uma colaboração com a electrónica experimental de Vítor Joaquim. Paulo Curado concilia a militância jazzística com o acompanhamento de nomes da MPP e a composição para teatro e cinema de animação. Luís Lopes tem um³background² de rock referenciado em Jimi Hendrix, e se Rui Faustino é uma das revelações da bateria na nova geração do mais avançado jazz nacional, oque quer dizer que busca inspiração também em outras músicas.

JOUISSANCE

26 de Julho 19:00
Sala Polivalente

Vítor Rua
Gonçalo Falcão
João Hora

Os restos dos ³grandes sistemas² musicais, como a pop ³bubble gum², os standards do jazz, o minimalismo ou a ³ambient music², entre outros deíndole vária, numa nova equação recontextualizadora. Pós-modernismo? Pós-pós-modernismo? Vítor Rua, Gonçalo Falcão e João Hora tocam a música do³day after², a música que sucede à morte da modernidade e à própria morte da morte da modernidade, feita de memórias truncadas e adulterações estilísticas.Co-fundador de um dos grupos de charneira do chamado ³rock português², os GNR, Vítor Rua constituiu depois com Jorge Lima Barreto o duo Telectu, pioneiro na introdução do minimalismo electrónico e do experimentalismo radical no nosso país, e firmou o seu nome enquanto compositor de música³clássica² contemporânea, interpretado por virtuosos como John Tilbury,Daniel Kientzy ou Giancarlo Schiafini e por orquestras de câmara como o Remix Ensemble e a Orchestrutopica. Com formação profissional em design, Gonçalo Falcão estudou com guitarra com Vítor Rua e frequentou workshops de composição de Salvatore Sciarrino e Louis Andriessen, utilizando técnicas extensivas num discurso habitualmente solístico que, apesar de experimental,tem referência no rock. Antigo guitarrista, João Hora tem-se revelado comoum dos novos valores da electrónica lusitana.

COZIDO
À PORTUGUESA

13 de Setembro 19:00
Sala Polivalente

Ensemble JER
Os Plásticos de Lisboa

O kitsch emancipado, já não como ³cópia inferior de estilos existentes² e ³expressão de mau-gosto², mas apresentando-se como um estilo ele mesmo. Os clássicos portugueses em versão de brinquedo pela mão do Ensemble JER, agora com uma formação em quinteto. De Frei Manuel Cardoso (³Missa Philippina²,1636) a Hugo Ribeiro (peça a estrear, 2006), passando por Carlos Seixas (³Concerto em Lá Maior², 1724?) a Joly Braga Santos (³Siciliana Op. 3²,1944/49), ³Cozido à Portuguesa² é uma revisitação da história da música ³culta² nacional por meio de instrumentos de plástico, numa encenação de ³música-teatro² tonificada pelo humor e pela ironia. Licenciado em pintura e com estudos de composição na Escola Superior de Música de Lisboa, José Eduardo Rocha aplicou um conceito de Cage (a execuçãomusical com ³toy instruments²) à interpretação do repertório nobre da história da música dita ³séria², tendo pelo caminho elaborado uma visão muito própria do teatro musical, com obras como ³A Saga da Formiga², ³Futebol², ³Volkswagner² e ³Sr. Dr. Fausto². O grupo que constituiu para a realização deste trabalho é presentemente constituído por Nuno Morão, Susana Ribeiro, Vasco Lourenço e Paulo Guia, além de si mesmo enquanto condutor, arranjador e compositor.

IMPRESSÕES:
LUZ E SOMBRA

27 de Setembro 19:00
Sala Polivalente

Paulo Galão
João Bengala
Luís Miguel Girão
Dídio Pestana

Uma música evocativa e de ³leitura² da realidade circundante, por vezes comum carácter paisagístico. Pontilhística umas vezes, sustenida outras, quase retrato fotográfico e quase cinema, convidando a que se veja o que ouvimos. Clarinetes, flauta, guitarra portuguesa, guitarra eléctrica e computador são os instrumentos que compõem a pintura, impressionando mais do que expressando, aludindo, sugerindo, por vezes mesmo arriscando-se a descrever. O clarinetista Paulo Galão é uma das grandes revelações da actual cena portuguesa da improvisação, com um estilo pessoal em que se cruzam influências clássicas e da música popular. João Bengala fez estudos de guitarra clássica com Piñeiro Nagy e estudou técnicas de composição com Iannis Xenakis, dividindo a sua actividade entre a tradição portuguesa ­ éi ntérprete do repertório de Carlos Paredes ­, a música para teatro e a experimentação livre. Luís Miguel Girão é flautista de formação e trabalha com electrónica e dispositivos interactivos multimédia, por exemplo nosprojectos ³Bach2Cage² e ³Cyber Song². Por sua vez, o guitarrista DídioPestana tem tocado com os Lupanar, autores de uma música de identidade portuguesa, mas híbrida nos estilos, que inclui ³barulhos vários².

CADÁVER
ESQUISITO

Bruno Parrinha
Genoveva Faísca
Manuel Guimarães
António Chaparreiro

Colagens de elementos contraditórios e exploração das operações do inconsciente, mesmo quando o resultado foge à racionalidade e o non-sense domina. O Surrealismo finalmente transladado para a música. Músicos cubistas, Parrinha, Faísca, Guimarães e Chaparreiro procuram um sentido escondido onde este não existe, mesmo que seja um relógio a escorrer pela encosta.Os clarinetes soprano e alto de Bruno Parrinha têm os olhos do mesmo lado da cabeça, como os touros picassianos, sendo um o jazz e o outro a improvisação experimental. Genoveva Faísca é uma concretista da voz que procura espremer a universalidade da alma portuguesa, mesmo que esta tenha a forma de um grito ou de um lamento quase inaudível. O teclista Manuel Guimarães é o exemplo acabado do músico inquieto e sempre à procura de algo que possa ser ³posicionista situacionista dimensionista libertário², para utilizar os adjectivos com que um dos muitos projectos em que participa (Guímara Cenúsica) é apresentado. António Chaparreiro, o ideólogo de ³A Ordem dos Contrários² (álbum quádruplo em que as mesmas gravações separadas de três guitarristas são conjugadas em três diferentes duos e um trio final, com o que é igual a metamorfosear-se em algo de diferente) gosta de armadilhar o conceito com a prática e a prática com o conceito.

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