Uma conversa de café pode viver da trivialidade mas pode também ser a força que impulsiona a excelência. Não são raras as vezes em que surgem alterações dramáticas numa vida, desde o momento em que nos sentamos a uma mesa de café, até ao momento em que a abandonamos. Irritamo-nos com o que nos afecta, apaixonamo-nos pelo que nos falta, imitamos o que nos impressiona e decidimos o nosso futuro entre dois goles sorvidos de uma chávena. Conspiram-se revoluções acompanhadas por gargalhadas, elogiam-se as falhas do alheio e criticam-se os egos próprios, reconfortam-se almas e destroem-se convicções. Por alguns minutos, tardes, noites ou horas, temos a certeza de sermos sinceros, mesmo quando mentimos. A conversa de café é o último reduto de humanidade.
É o pulsar genuíno das palavras rumo ao desencontro assistido, a última esperança das relações inter-pessoais, ou vice-versa. Este disco é exactamente isto. É o resultado da interacção entre duas pessoas, não apenas distintas, mas opostas. Stray é maníaco, tem um halo brilhante e pose de anti-herói platinado, é contraditório por capricho e assume que, por vezes, não tem a mínima intenção de fazer qualquer sentido. É o excêntrico mais reservado. Paulo Leitão é pragmático e organizado, mas não o sabe. Consta que consegue anular os efeitos da gravidade, mas tem demasiada consideração pelos outros para o fazer em público. É o reservado mais excêntrico. O ponto da união entre si é a similidariedade de gostos musicais e a convicção de que, dados outros contextos, poderiam ser não o que são, mas sim o que o outro é.
"Conversas de Café" contém referências espaciais atravessadas por um filtro caleidoscópico e deambula por ruas desniveladas, iluminadas por luas de néon, onde pessoas emocionalmente desvastadas cantam à desgarrada para afastar memórias desconfortáveis. Homenagea a velha escolha do Hip-Hop e flutua na sua vanguarda, abraça a incandescência da sonoridade ragga e alicerça-se sobre melodias e desconstruções da dupla de produção Hermitage, Kiko (MatoZoo) e dos próprios Stray e Paulo Leitão.
Os membros dos MatoZoo sentam-se à mesa em determinadas alturas, aceitando o convite de entrada no clube (ou melhor, Clã) que fundaram, anuindo à conversa iniciada em "Funk Matarroês". A cada frase, mais do que transmitir um sentimento ou uma imagem, há a intenção de injectar uma sensação, mesmo que difícil de definir imeadiatamente, mesmo que estranha ou até esquizofrénica. Aqui todo se define pelo ritmo da vontade e do prazer de fazer e achar o que nos apetece. Tal como numa conversa de café...
MATARROACD013
Clã da Matarroa "Conversas de Café"
Gravado, misturado e masterizado por L.V.M. nos LVM Studios.
Produção executiva: Martinêz
Todos os Scractches por DJ Ovelha Negra.
Contactos: info@matarroa.com / www.matarroa.com
Management: nelsongomes@matarroa.com
Capa: chemega.com
Distribuição: www.sohiphop.com.pt
Vendas digitais: www.theorchard.com
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