O blog do Santos da Casa iniciou uma rubrica denominada “O Outro Ladoda Música Portuguesa”. Pretendemos desta forma dar a conhecer e valorizar o trabalho, de quem na sombra, ajuda os artistas e bandas a alcançarem o estrelato. Por aqui vamos dar voz a promotores, managers, road-managers, rodies, produtores, editores, técnicos de som, donos de salas de concerto, organizadores de espectáculos, realizadores de programas de rádio, jornalistas, e a gente mais ou menos anónima que em sites e blogs fala daquilo que por estes lados se vai produzindo. As grandes entrevistas, com os maiores protagonistas, que são os artistas ficam guardadas para o 107.9 da Rádio Universidade de Coimbra.
Hoje, ficam as palavreas de Rui Dinis, que os mais atentos conhecem da blogosfera. Ele é o Maestro do Blog A Trompa, um dos espaços da net mais importantres no que diz respeito à divulgação da música portuguesa. Para descobrir em http://www.atrompa.blogspot.com/.
Nome: Rui Dinis
Idade: 37
Profissão: Investigador Social
Contactos:
Apartado 1463
1013-001 Lisboa
blogatrompa@gmail.com
1 -Santos da Casa (SC) - Quando surgiu em ti o gosto pela música portuguesa? Que banda ou que facto te levou a olhar para os artistas nacionais com outros olhos?
Rui Dinis (RD) - Penso que o rastilho da coisa terá sido o tal boom do rock português; o início da década de 80, sem dúvida. Depois, foi tudo o que se lhe seguiu; a loucura das edições atrás de edições, a música e os programas que se ouviam nas rádios piratas, as noites e matinés no Rock Rendez Vous, enfim, todo aquele fervilhar da década de 80.
2 - SC - Quando resolveste criar o blog a Trompa e porquê? A moda dos blogs teve alguma influência ou a Trompa surgiu neste formato por ser mais fácil?
RD - Foi em Janeiro de 2004 e foi por mero hobby - gosto de dizer por brincadeira - mas a sério - que não sou jornalista, não sou músico, não trabalho na indústria musical e mesmo músicos, conheço muito poucos. Sempre gostei muito de música portuguesa, sendo que na altura, achei interessante criar um espaço onde pudesse divulgar/apresentar as minhas opiniões, os meus gostos, etc. A trompa sempre foi e continua a ser um espaço muito pessoal - sei que às vezes não parece, mas é. Se a moda dos blogs ajudou? Claro quesim, especialmente por ser uma formato simples e bastante flexível.
3 - SC - Como seleccionas o material sobre o qual escreves? Vais recebendonoticias? Pesquisas? Quais são as tuas fontes?
RD - Basicamente, as fontes são todas e mais algumas; as rubricas de divulgação são muito baseadas no que recebo por e-mail e no que pesquiso em locais como o Palco Principal e o MySpace, por exemplo. As rubricas de opinião são especialmente baseadas nos meus gostos - com alguma pesquisa por trás; geralmente não escrevo sobre o que não gosto. Não perco tempo nem energias a escrever sobre coisas que não me deram qualquer prazer ouvir. A única excepção tem a ver com as coisas que me enviam para o Apartado; aí, se o fazem, presumo, para o bem ou para o mal, que querem mesmo a minha humilde opinião
4 - SC - Qual tem sido a receptividade por parte do público e dos artistasenvolvidos no mundo da música ao teu trabalho?
RD - Não é fácil; pelo que consigo percepcionar acho que é boa. Nunca se agrada a gregos e a troianos, nem é esse o objectivo, mas de certo modo acho que a receptividade tem sido positiva - às vezes muito positiva. Acima detudo há respeito; da mesma forma que eu respeito quem anda na música com seriedade, acho que as pessoas também respeitam às várias horas diárias que passo a dar vida à trompa.
5 - SC - Ao longo de todo o tempo de vida do teu blog, quais as tuas maiores compensações?
RD - Aqui não há dúvidas; são essencialmente humanas e baseiam-se nas grandes amizades que se vão fazendo pela rede, com pessoal que se encontra igualmente empenhado nesta árdua tarefa. Essa é a grande compensação - sem dúvida, tudo o resto são custos...sim, claro, a discoteca também vai aumentando; devagarinho...
6 - SC - Sentes que com o teu esforço, consegues de alguma maneira fazer a músicaportuguesa dar um passo em frente?
RD - Um passo, não, um passinho. Não creio que o meu esforço tenha assim uma grande influência...agora, um passinho é um passo e passo a passo, se faz o caminho. Também aqui, a resposta que darei à pergunta 9 se pode encaixar...
7 - SC - Promovendo tu essencialmente artistas nacionais, como analisas o momentopor que passa a música portuguesa?
RD - Para além de gostar - mesmo - muito da música que se vai fazendo emPortugal - em todas as áreas, também sou uma pessoa muito positiva. Acho quea música feita em Portugal vive um momento de extraordinária riqueza e diversidade. Dentro dos muitos géneros que brotam por aí, são vários os exemplos de interessante fulgor criativo. Não quero com isto dizer que é toda extraordinário, a música que se faz neste país. Não, o que quero dizer é que para um disco merecer ser apreciado, não tem de ser extraordinário. Às vezes parece que em Portugal, para um disco ou um músico vingar, tem de serde uma superioridade inatacável - e quando o consegue chamam-lhe vendido, quando depois ficamos loucos com produtos estrangeiros absolutamente normais - para não dizer banais. Acho que somos muitos mais exigentes com o que é nosso. Com os nosso filhos parece-me normal sê-lo, agora, com a música portuguesa em geral, quando comparada com a estrangeira, não percebo tamanha exigência. Em resumo, há muita e boa música; desconhecida da esmagadora maioria do público, é verdade, mas isso são contas de outro rosário.
8 - SC - 5 discos essenciais de música portuguesa e 5 bandas de eleição.
RD: Esta não é nada fácil; vou antes apontar 5 discos importantes para mim,naquela fase do despertar para a música feita em Portugal:
- "Linha Geral" - LINHA GERAL
- "Mão Morta" - MÃO MORTA
- "Free Pop" - POP DELL'ARTE´
- "78/82" - XUTOS & PONTAPÉS
- "Só" - JORGE PALMA
Mais tarde, também teria de referir "O Monstro Precisa de Amigos" - ORNATOS VIOLETA.
Sobre as bandas:
- Quarteto 1111
- Banda do Casaco
- Mão Morta
- Pop Dell'Arte
- Ornatos Violeta.
9 - SC - A net é de facto um local privilegiado para a divulgação de música,contudo não sentes que muitas vezes e essencialmente no myspace se criamalguns artistas virtuais?
RD - Não penso que a net, especificamente, crie artistas virtuais - estes sempre existiram, com ou sem net, cria-se muitofacilmente é a ilusão do sucesso. A grande exposição permite-o, obviamente. O facto de ser um meio barato e fantástico de divulgação de um projecto, muito raramente se toma uma atitude reflexiva perante o fenómeno em si: que milhões de pessoas não têm ainda Internet; que milhares dos que têm vão parar a determinados sites por mera casualidade e que muitas mensagens são de amigos - e os amigos gostam sempre de nós - até o nº de amigos no MySpace vale o que vale. Se fosse verdadeiramente real o sucesso obtido - ou o que parece, muitos destes artistas nados e criados na Internet, não tinham as salas vazias como a maior parte das vezes as têm nos concertos que dão - não quer dizer que não possam ser artistas. Claro que também acontece o contrário, mas para isso, é preciso ter-se alguma coisa de realmente diferente para oferecer; acreditar, ser persistente, mas acima de tudo ser consciente - já agora, alguma humildade. E aí, geralmente o click acontece. A Internet é um excelente meio de divulgação de novos e velhos projectos, mas pode ser também uma grande ilusão - e desilusão. Naturalmente, aconselho os novos projectos a usar e a abusar da Internet, no entanto, aconselho também que retirem as suas conclusões com todo o cuidado - especialmente no que toca ao percepcionar das limitações do recurso; não se deixem iludir, acima de tudo, que saibam dar um passo de cada vez.
10 - SC - Dá-te gozo descobrir e dar a conhecer novas bandas e editoras? É esteespírito que ainda faz o blog estar de pé?
RD - Claro que dá muito gozo; se é isso que mantém o blog de pé é que já tenho as minhas dúvidas. Acho que é mesmo por uma certa loucura pessoal e pelo facto dos trompistas continuarem a aparecer e a participar no blog que este se vai mantendo. No entanto, devo admitir que não é fácil. A trompa é um hobby que acabou por ganhar uma dimensão para o qual não estava preparado - nem tenho muito tempo. Naturalmente e às vezes, as coisas não ficam como eu gostaria...enfim, é com alguma persistência que se vai mantendo.
11 - SC - Por fim e para aguçar o apetite diz a quem não conhece o teu blog, oque por lá pode encontrar?
RD - Bem; primeiro de tudo só se fala mesmo da música feita pro músicos portugueses. Depois, há uma grande componente de divulgação - que tento que não fique gigantesca; há uma componente lúdica, com o TrompaQuiz, que semantém há 750 dias e há ainda uma componente de opinião. Nesta, para além de tentar acompanhar as novidades que vão aparecendo - geralmente com menor visibilidade, dou também uma importância muito grande à história da música portuguesa, aos nomes que iniciaram esta saga - disponibilizando mesmo alguns sons para audição. As minhas preocupações na trompa são também e muito, histórico-sociais, sempre que possível, há referências aos primórdios da música rock feita em Portugal - é algo que me dá um extraordinário gozo. Para além de tudo isto - e outras que me vou esquecer por manifesta preguiça, é também dado um grande destaque ao excelente movimento das netlabels nacionais, assim como à disponibilização online que vai sendo feita por diversos sítios da Internet de muitas das demotapes que para aí há perdidas. De resto, há ainda muitos vídeos e sons para ouvir. Um monstrinho pessoal, basicamente...
Para finalizar, resta-me agradecer ao Nuno e ao Fausto por este convite - que muito me honra - e por serem quem são na divulgação da música moderna portuguesa: grandes!
Nuno Ávila
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