domingo, 1 de julho de 2007

O OUTRO LADO DA MÚSICA PORTUGUESA




O blog do Santos da Casa iniciou uma rubrica denominada “O Outro Ladoda Música Portuguesa”. Pretendemos desta forma dar a conhecer e valorizar o trabalho, de quem na sombra, ajuda os artistas e bandas a alcançarem o estrelato. Por aqui vamos dar voz a promotores, managers, road-managers, rodies, produtores, editores, técnicos de som, donos de salas de concerto, organizadores de espectáculos, realizadores de programas de rádio, jornalistas, e a gente mais ou menos anónima que em sites e blogs fala daquilo que por estes lados se vai produzindo. As grandes entrevistas, com os maiores protagonistas, que são os artistas ficam guardadas para o 107.9 da Rádio Universidade de Coimbra.


Hoje damos voz a Carlos Vieira. Começou por ser músico antes de se passar para o outro lado. Lembram-se do tema “Pescador” dos Bramassaji? Depois de deixar o palco, esteve ligado a vários programas de rádio e chegou a tomar conta da revista Ritual e foi A&R da Numérica. Hoje é um dos rostos visíveis da Xinfrim (http://www.xinfrim.pt/). É produtor de concertos, o mais importante, as Noites Ritual Rock no Porto, é promotor e agente de bandas.

Nome: CARLOS VIEIRA
Idade: 43
Profissão: EMPRESÁRIO (MANAGER/PRODUTOR/AGENTE)
Contactos: carlos@xinfrim.pt

1 - Santos da Casa (SC) - Descreve-nos o teu trajecto no mundo da música.

Carlos Vieira (CV) - Comecei com amigos a fazer música em 1979, por passatempo, este deu em 1981 na banda Bramassaji, que editou 2 EPS e 1 LP. Em 1996 editei já com o nome de Bramma o CD " Um outro Olhar". Foram 15 anos a percorrer o país em concertos. Os 3 primeiros discos foram auto-edição, algo raríssimo naquela altura.

2 - SC - Quando é que largaste o teu lado de músico e te voltaste para o lado de manager, promotor e organizador de eventos? Porquê esta troca de papeis?


CV - Em 1993 fui convidado para A&R/Promotor da editora Numérica, que na altura estava apostada em fazer catálogo de música nacional, o tempo começou a escassear para me dedicar aos Bramma, pois ao mesmo tempo comecei a "ajudar" bandas no que concerne na promoção e concertos…e comecei a gostar desse "papel". Por outro lado 15 anos a tocar levou-me ao cansaço…. Foi o início do que haveria de ser a Xinfrim, pois em 1995, juntamente com o meu sócio Alberto Castelo constituímos formalmente a firma.

3 - SC - O Facto de teres estado ligado à Revista Ritual, e de teres realizado vários programas de rádio onde divulgavas muita música portuguesa, ajudou-te a teres uma outra perspectiva de mercado? Fez-te perceber o meio? Ajudou-te a descobrir novos talentos?

CV - Claro, desde miúdo que sou aficionado da musica nacional e um coleccionador, principalmente de bandas em começo de carreira. Estar ligado à Revista Ritual e ter feito durante 10 anos rádio, abriu-me e deu-me a conhecer outros os ângulos da indústria musical.

4 - SC- O facto de teres sido músico é uma mais valia para desenvolveres o teu trabalho? De que forma?

CV- Sabem, no início dos anos 80…no boom do então chamado rock português não havia estruturas que acompanhassem e desenvolvessem o trabalho das bandas. Assim tudo era feito pelos músicos, desde a promoção, distribuição, agenciamento, etc. Desde o início que tomei conta dessa tarefa, o que me deu conhecimentos amplos para aplicar tudo o que aprendi na escola que foi "a estrada" e assim poder aplicar esses conhecimentos com os músicos com quem desde então tenho trabalhado.

5 - SC - Descreve o trabalho desenvolvido pela Xinfrim.

CV- A Xinfrim é multifacetada. Começou por ser uma agência e ao mesmo tempo distribuidora e promotora dos discos da Numérica. Foi com algumas das bandas que foram editadas que começamos a trabalhar seriamente como agentes (Turbojunkie, Repórter Estrábico, The Fire, Tarantula, entre outros.) ao mesmo tempo tornei-me durante dois anos responsável pela promoção na zona norte do país de todo o catálogo da BMG-Portugal. A par de tudo isso começamos a produzir Festivais, onde a música nacional era imperativa (Rock Feira, Carviçais Rock, Outros Rituais, Festival Serra da Estrela, e claro o mítico Noites Ritual Rock (que começou ainda quando era membro da Revista Ritual). Fizemos/fazemos também outras produções como por exemplo Madredeus e Delfins no Coliseu do Porto, bem como promoção de vários outros artistas na parte de divulgação…. olhem o último foi o fantástico trabalho do Nuno Prata. Trabalhamos com todos os aspectos relacionados com a música, inclusive (pessoalmente) como manager (Turbojunkie, Repórter Estrábico, Jorge Cruz, foram artistas com quem trabalhei…actualmente faço essa função somente com os MDG).

6 - SC - Como são escolhidas as bandas que integram a vossa agência? Gosto pessoal? Escolhem porque sentem potencial nos artistas?

CV - Primeiro temos que "gostar" das pessoas e sentir que estas querem realmente trabalhar e fazer carreira…. Não vamos em artistas/bandas "mastiga e deita fora" nem em "estrelas". Depois temos bem definido o que pretendemos representar e trabalhar, dentro do nosso enquadramento enquanto agência, acreditando no valor dos artistas. O nosso trabalho é sempre definido a longo prazo…Não existem "bolas de cristal" mas sim muita dedicação.

7 - SC - Como organizador de concertos, e pessoa que procura espaços para as bandas tocarem, como analisas o circuito da música ao vivo em Portugal?

CV - É de facto uma pergunta que me levaria imenso tempo a responder, mas para sintetizar diria que, agora existem estruturas para as bandas, não existem é locais para estas poderem apresentar o seu trabalho com dignidade. O circuito resume-se a Festivais, Estudantes e pouco mais, uma vez que só as bandas já com "nome" na praça conseguem chegar a mais locais e promotores…não é saudosismo, mas quando não existiam estruturas, existiam Bares, Discotecas e outros locais onde as bandas podiam fazer o seu circuito…por exemplo os Bramassaji chegavam a dar 80 concertos num ano…. Sim é verdade. Mas agora existem outros motivos para a falta de circuito ao vivo…são os "paraquedistas" se é que me entendem?!

8 - SC - Diferencia explicando o tipo de trabalho que desenvolves na Xinfrim

CV - Acho que já respondi a esta pergunta, mas explicando melhor: Tenho funções de Manager com os Mind da Gap, de agente com as outras bandas, programador, elo de ligação com todas as pessoas dos festivais que organizamos, promotor/divulgador das bandas, enfim faço um pouco de tudo, claro que com a ajuda preciosa do meu sócio Alberto Castelo, que como costumo dizer está mais "na sombra" mas é um pilar fundamental e indispensável. Sou a "cara" da Xinfrim, mas isso não é o importante no trabalho que desenvolvemos.

9 - SC - 5 Discos essenciais de música portuguesa e 5 bandas de eleição.

CV - Essa é sempre "aquela pergunta" mas desde já peço desculpa a todos os outros, pois tenho que escolher só 5:
DISCOS
"1 Bigo" do Repórter Estrábico
"Marca Amarela" Radio Macau
"A Nova Portugalidade" UNU
"Sem Cerimónias" Mind da Gap
"Alberto" Wordsong
BANDAS
Jafumega / Repórter Estrábico / Mind da Gap / Zen / Wordsong

10 - SC - Promovendo tu essencialmente artistas nacionais, como analisas o momento por que passa a música portuguesa?

CV - Boa…mas com mais quantidade que qualidade, com menos sentido de prazer, com mais escolha mas com menos substancia, com mais "pressa" de se fazerem sucessos, mas com menos sentido de identidade, de querer fazer carreira. Hoje tudo tem que ser "para já" e muitas vezes o artista/banda cede ás instituídas leis do mercado… se não souber subir degrau a degrau o "tombo" é grande e é a "morte do artista".



Nuno Ávila

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