
Foto de : Vera Marmelo
O blog do Santos da Casa iniciou uma rubrica denominada “O Outro Lado da Música Portuguesa”. Pretendemos desta forma dar a conhecer e valorizar o trabalho, de quem na sombra, ajuda os artistas e bandas a alcançarem o estrelato. Por aqui vamos dar voz a promotores, managers, road-managers, rodies, produtores, editores, técnicos de som, donos de salas de concerto, organizadores de espectáculos, realizadores de programas de rádio, jornalistas, e a gente mais ou menos anónima que em sites e blogs fala daquilo que por estes lados se vai produzindo. As grandes entrevistas, com os maiores protagonistas, que são os artistas ficam guardadas para o 107.9 da Rádio Universidade de Coimbra.
Hoje está do outro lado Tiago Sousa, o pai da editora de net Merzbau. Tiago tem igualmente um projecto pessoal em que maneja um piano e é musico nos projectos Jesus, The Misunderstood e Goodbye Toulouse.
Nome: Tiago Sousa
Idade: 23 anos
Profissão: Músico
Contactos: tiagomacedosousa@gmail.com
1 - Santos da Casa (SC) - Conta-nos a história da Merzbau. Como surgiu e porque é que resolveste criar uma netlabel?
Tiago Sousa (TS) - A Merzbau já existia, enquanto conceito, antes do aparecimento da netlabel, que veio a tornar a dar forma à ideia. Partiu da minha necessidade enquanto músico, de criar sinergias e redes de cooperação entre artistas como modo de poderem mostrar trabalho de forma oposta às geradas pela indústria.
Em 2005 li sobre o aparecimento da Test Tube em Portugal e mais tarde quando me foi dado a conhecer o ep de Jesus, the Misunderstood e a música de Arnold Layne, e com as gravações do EP de Goodbye Toulouse, decidi avançar para este formato. Era um formato simples, de fácil acesso e muito democrático.
Em 2005 li sobre o aparecimento da Test Tube em Portugal e mais tarde quando me foi dado a conhecer o ep de Jesus, the Misunderstood e a música de Arnold Layne, e com as gravações do EP de Goodbye Toulouse, decidi avançar para este formato. Era um formato simples, de fácil acesso e muito democrático.
2 - SC - Para além de editor, tu és igualmente músico. Descreve-nos o teu percurso no campo da música?
TS - Desde muito novo que tenho contacto com a música. A minha avó, professora de piano, sempre me incentivou muito com a música. Na adolescência tive algumas bandas rock até formar os Goodbye Toulouse. Mais recentemente os Jesus, the Misunderstood ficaram sem baixista e convidaram-me para tocar com eles, e em Setembro de 2006 gravei o meu primeiro registo em nome próprio.
3 - SC - Apesar de a Merzbau ter editado já alguns artistas em formato físico, a maior parte das suas edições está apenas disponível na net. Porquê a opção de dar a conhecer música quase só através do espaço da net? A questão monetária pesa nesta escolha?
TS - A grande maioria das edições que lançámos on line foram registos de estreia, penso que o formato de netlabel é o ideal para dar a conhecer novos nomes e assim iniciar um processo de aproximação ao publico. Acho que todos os formatos têm as suas peculiaridades mas de facto os formatos físicos neste momento estão mais confinados aos coleccionadores do que ao publico geral. Portanto a nossa filosofia acenta no formato on line para chegar às pessoas e nos formatos físicos, CD-R, CD-Audio, e de futuro espero que também o Vinil e as k7’s, para quando estes artistas já estão mais afirmados.
TS - A grande maioria das edições que lançámos on line foram registos de estreia, penso que o formato de netlabel é o ideal para dar a conhecer novos nomes e assim iniciar um processo de aproximação ao publico. Acho que todos os formatos têm as suas peculiaridades mas de facto os formatos físicos neste momento estão mais confinados aos coleccionadores do que ao publico geral. Portanto a nossa filosofia acenta no formato on line para chegar às pessoas e nos formatos físicos, CD-R, CD-Audio, e de futuro espero que também o Vinil e as k7’s, para quando estes artistas já estão mais afirmados.
4 - SC - Como é que tu encaras o fenómeno da música livre. É uma moda? É a única forma de alguns músicos se afirmarem?
TS - Penso que a lógica de comercialização da música está em plena revolução. Para mim faz bastante sentido levar a música de forma livre às pessoas, a música enquanto arte não tem de ser vista apenas numa lógica mercantil. Permite-nos assim fazer outro tipo de apostas sem nos preocuparmos com investimentos e deixarmos de parte a lógica capitalista que vivemos nos dias de hoje. Preocupar-nos menos com o lucro financeiro imediato e mais com a aposta em valores artísticos e de afirmação cultural.
5 - SC - Pensas que o fenómenos das netlabels está para durar ou é uma moda passageira?
TS - O fenómeno das netlabels está bastante instituído lá fora, e aqui à nossa escala será também inevitável. São mais uma forma de levar música às pessoas e não tenho dúvidas que veio para ficar. As pessoas que se metem nisto fazem-no por gosto acima de tudo, portanto vão preservar as suas apostas.
6 - SC - Como é que escolhes as bandas que editas?
TS - Pelo gosto pessoal, apenas e só. Tento não me cingir a géneros e apostar em música personalizada e artistas que dão preponderância à sua expressão e que estejam pouco preocupados com modas e em seguir pisadas já exploradas.
7 - SC - A Merzbau é uma casa que tem dado grandes valores à música nacional, sendo os Lobster um dos casos mais visíveis. São estas pequenas vitórias um orgulho pessoal que te faz mover? De alguma forma a Merzbau tem ganho outro reconhecimento com isto ou nem por isso?
TS - Sem dúvida que sim. Percebo que estamos no bom caminho quando vejo que bandas que até eram levadas meio na brincadeira, pelos próprios intervenientes, se vão tornando casos sérios e o tempo revelará a sua importância. O caso dos Lobster é um exemplo claro disso mesmo.
8 - SC - Para alem de editor e músico és igualmente produtor de concertos. Este papel que assumes é por necessidade ou porque sentes que não basta ter na net as músicas para sacar e é necessário dar oportunidade aos artistas de se mostrarem? Como vês o circuito da música ao vivo em Portugal?
TS - As condições ideias para se absorver e ouvir música para mim é sem dúvida nos concertos. Ouvimos música em casa, nos bares, enquanto fazemos as nossas vidas, de forma mais ou menos superficial mas nos concertos é diferente. Para mim nos concertos dou muito mais atenção à música e nesse sentido ter uma netlabel só não teria lógica. É essa é a génese da merzbau, ligar os artistas, leva-los a por mãos à obra e terem as suas próprias ideias para concertos e outros acontecimentos. Nem tudo o que é feito em nome da Merzbau parte da minha cabeça e tendencialmente será cada vez mais assim.
O circuito de música em Portugal é sempre algo precário, mas já existem alguns locais de culto bem estabelecidos. Casos como o Mercado Negro em Aveiro, a ZDB em Lisboa, a ZOOM em Barcelos, só para citar alguns, têm dado mostras que é possível e sustentável apostar em música de qualidade ao vivo desde que exista muita perseverança e aos poucos começam a formar-se públicos. Penso que esse é o maior handicap português. Temos muita e boa criação artística em diversas áreas mas muito pouco publico para a consumir.
O circuito de música em Portugal é sempre algo precário, mas já existem alguns locais de culto bem estabelecidos. Casos como o Mercado Negro em Aveiro, a ZDB em Lisboa, a ZOOM em Barcelos, só para citar alguns, têm dado mostras que é possível e sustentável apostar em música de qualidade ao vivo desde que exista muita perseverança e aos poucos começam a formar-se públicos. Penso que esse é o maior handicap português. Temos muita e boa criação artística em diversas áreas mas muito pouco publico para a consumir.
9 - SC - Editando tu essencialmente artistas nacionais, como vês o mercado da música mais alternativa em Portugal?
TS - É confinado essencialmente aos centros urbanos. Penso que Lisboa é uma cidade muito vibrante e entusiasmante hoje em dia. Existe muita coisa a acontecer com regularidade e temos a possibilidade de ver muitos artistas contemporâneos a passarem por cá e a sentirem-se bem entre nós o que é óptimo. Isso acaba por incentivar a criação artística portuguesa. Penso que existem muitos nomes capazes de dar cartas mundo fora e se tiverem as oportunidades certas será inevitável. Penso que temos uma cena independente, ou alternativa, ou underground, ou o que quisermos chamar, muito produtiva e activa.

Nuno Ávila
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