Os a Jigsaw estão diferentes do passado. Para recordar ficam tempos mais pop, com guitarras por vezes mais distorcidas em que a banda se deixava influenciar por uns dEUS, Raidiohead ou David Bowie.
Os os Jigsaw estão diferentes do passado. Já não reflectem na totalidade aquilo que registaram há dois anos em "Letters From The Boatman". Antes de gravarem este registo ficaram sem baterista. Depois de acabarem as gravações o guitarrista Cardoso (peça chave desta engrenagem) abandonou o projecto. Restam da formação original João Rui nas guitarras e voz (e agora também em harmónica e banjo) e Jorri no Baixo (que agora toca igualmente algumas precursões). O tempo dita assim as suas regras.
Os a Jigsaw são agora o presente. Vertente folk. Guitarras acústicas. Um violino a abrilhantar o som, trazido por Susana Ribeiro, que depois de colaborar no disco, se apaixonou pelo som da banda e resolveu ficar.
Mas então o que contem dentro de si "Letters From The Boatman"? Um conjunto de temas fortemente influenciado pelo blues e pela folk, que nos chegam dos descampados americanos.
Podemos dividir este disco em dois. Lado A e Lado B. Na face frontal do disco quatro temam mais eléctricos onde os blues de guitarras mais rasgadas nos saltam à vista. Do outro lado 10 temas mais íntimos, numa vertente mais folk, à qual não è alheia a escuta de alguns discos de Kings Of Convenience, Iron & Wine e Johnny Cash. Temas que se aproximam muito mais daquilo que a banda tem mostrado nos seus mais recentes concertos. Apesar de tudo, será de referir, que estamos perante um disco sólido, e que faz todo o sentido no seu conjunto.
"Letters From The Boatman" é um disco feito de muitos pormenores, aos quais não são alheios os inúmeros convidados que passeiam ao longo do disco. Seria longo referir todos. Mas só para se aferir do cuidado com que preparam o disco citamos os nomes de Raquel Ralha dos WryGunn, de Kaló dos Bunnyranch, de Paulo Jacob dos Bodhi, de Carlos Santos dos Corsage, de Sérgio Nascimento dos Humanos e de Marco Antunes dos Hiena.
Por aqui encontramos instrumentos que até à data eram alheios ao som dos os Jigsaw, caso dos teclados, do violino, da harmónica, do violoncelo ou do acordeão.
Como se pode ver a mudança foi mesmo grande. Um corte radical com o passado. Os a Jigsaw amadureceram, e o barco ruma agora noutra direcção. "Letters From The Boatman" é um disco poderoso que nos mostra uma banda sem medo de cortar o cordão umbilical com tempos mais recuados. Tem dentro de si um conjunto de canções de beleza invulgar.
Tem igualmente dentro de si, um cuidado trabalho de produção feito por Miro Vaz, que compreende na perfeição este novo caminho da banda.
Estamos assim perante um registo que deve ser escutado com toda a atenção. Não se deve contudo esperar que ao vivo a banda se mostre como esteve em estúdio. Tal é mesmo impossível! O que é certo é que em palco eles conseguem chegar bem perto da nossa pele e arrebatar todos os nossos sentidos.
Para alguns, aqueles que já conheciam a banda, pode "Letters From The Boatman" ser um quebra-cabeças. No entanto depois de o escutarem com atenção, vão ver que este é afinal um puzzle de resolução simples em que as peças encaixam na perfeição.
Ficamos é com a certeza de que se estivessem hoje a gravar este disco os a Jigsaw o fariam de uma outra maneira. Pintariam é com toda a certeza, mais um bonito quadro em tons pastel.
Nuno Ávila
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