
O blog do Santos da Casa iniciou uma rubrica denominada “O Outro Lado da Música Portuguesa”. Pretendemos desta forma dar a conhecer e valorizar o trabalho, de quem na sombra, ajuda os artistas e bandas a alcançarem o estrelato. Por aqui vamos dar voz a promotores, managers, road-managers, rodies, produtores, editores, técnicos de som, donos de salas de concerto, organizadores de espectáculos, realizadores de programas de rádio, jornalistas, e a gente mais ou menos anónima que em sites e blogs fala daquilo que por estes lados se vai produzindo. As grandes entrevistas, com os maiores protagonistas, que são os artistas ficam guardadas para o 107.9 da Rádio Universidade de Coimbra.
Hoje a conversa acontece com Pedro Videirinho, o homem que dá vida à Rastilho. Começou por ser uma distribuidora e hoje é igualmente uma das mais importantes editoras independentes do país.
Nome: Pedro Vindeirinho
Idade: 29
Profissão: Editor Discográfico
Contacto: rastilho@sapo.pt
1 - Santos da Casa (SC) - Quando é que surgiu em ti o gosto pela edição e distribuição de música? O que fez despoletar em ti esse bicho?
Pedro Videirinho (PV) - Sempre tive curiosidade em saber qual a proveniência dos discos, conhecer as editoras, coleccionar artigos sobre as bandas..... Lembro-me de a partir dos meus 14 anos receber todas as semanas novidades no correio muitos catálogos das editoras, magazines/fanzines e discos.
Não sei se respondi à tua pergunta....acho que como em tantas outras coisas da nossa vida, as coisas acabam por acontecer de uma forma natural.
Não sei se respondi à tua pergunta....acho que como em tantas outras coisas da nossa vida, as coisas acabam por acontecer de uma forma natural.
2 – SC - Como surgiu a Rastilho distribuidora e a Rastilho editora?
PV - A Rastilho surgiu em Maio de 1996, com o lançamento do seu primeiro catálogo em papel. Naquela altura, existiam muito poucos catálogos de venda Postal. A minha maior referência era a Confronto, uma distribuidora libertária de Gaia, dedicada a livros e música. Esse catálogo (em 1996) teve uma tiragem de 500 cópias, distribuídas de mão-em-mão, mailorder e concertos.
Depois de 8 catálogos em papel, decidimos em 2003 criar o nosso website. Desde então a nossa loja online tornou-se uma referência no que concerne a merchandising e música.
A editora iniciou as suas actividades em 1999, com o lançamento do primeiro disco dos Intervenzione de Aveiro (ex-Inkisição). Surgiu como uma necessidade natural de editar bandas nacionais
Depois de 8 catálogos em papel, decidimos em 2003 criar o nosso website. Desde então a nossa loja online tornou-se uma referência no que concerne a merchandising e música.
A editora iniciou as suas actividades em 1999, com o lançamento do primeiro disco dos Intervenzione de Aveiro (ex-Inkisição). Surgiu como uma necessidade natural de editar bandas nacionais
3 – SC - A Rastilho começou ser conhecida como uma editora e distribuidora de bandas punk. Hoje apesar de continuar fiel aos seus princípios, tem-se voltado igualmente para a edição e distribuição de bandas rock. Porquê este abrir do campo de edição?
PV - Essa viragem tem um culpado: chama-se Vitor Torpedo e tocou nos Tédio Boys! Com a edição do último álbum dos Parkinsons "Down With The Old World", tornou-se óbvio que a Rastilho estaria prestes a sofrer uma metamorfose. Acho que esta é a imagem que passa para o exterior mas eu honestamente não penso assim.
Obviamente que me mantenho fiel às minhas origens e em nenhum momento fechei definitivamente as portas ao Punk. Mas à medida que as coisas evoluíram, senti necessidade de começar a editar outros géneros de música. Se reparares, tens diversas editoras internacionais que editam diferentes estilos de música; seria demasiado castrador para a Rastilho se nos tivéssemos restringido ao Punk.... certamente que já não existíamos enquanto editora.
Obviamente que me mantenho fiel às minhas origens e em nenhum momento fechei definitivamente as portas ao Punk. Mas à medida que as coisas evoluíram, senti necessidade de começar a editar outros géneros de música. Se reparares, tens diversas editoras internacionais que editam diferentes estilos de música; seria demasiado castrador para a Rastilho se nos tivéssemos restringido ao Punk.... certamente que já não existíamos enquanto editora.
4 – SC - Para alem dos Cds a editora tem igualmente embarcado na edição de vinil. Isto acontece apenas por tu seres um saudosista das rodelas pretas e das capas que as envolvem, ou sentes que ainda existe público para estas edições? Será isto uma forma de conseguires atrair os olhares para as outras edições da Rastilhos, uma vez que as bandas editadas e a editar têm já alguns créditos firmados?
PV - Existe público para o vinil em Portugal mas se o mercado do CD já viu melhores dias, como deves imaginar as vendas do vinil são residuais. Nos últimos dois anos, temos vendido mais vinil para os nossos parceiros/distribuidores europeus, do que propriamente em Portugal. Se pudesse, faria todas as minhas edições em vinil mas é completamente impossível em termos financeiros tendo em conta o mercado que temos em Portugal.
Sobre o facto de apenas apostar em bandas conhecidas, é propositado. Se fizeres um inquérito, 99% das bandas gostariam de ter uma edição em vinil. Eu tenho uma opinião própria: só deve lançar vinil em Portugal quem consegue (com as edições em CD) criar um profile, uma base de fãs. Claro que isto é uma opinião muito própria, não tenho nada contra as bandas que fazem vinil logo na sua primeira edição; apenas acho que não é rentável o fazer com, por exemplo, o disco de estreia de algumas bandas que editaram pela Rastilho. É um processo gradual que em Portugal (como em qualquer parte do mundo) demora algum tempo.
Sobre o facto de apenas apostar em bandas conhecidas, é propositado. Se fizeres um inquérito, 99% das bandas gostariam de ter uma edição em vinil. Eu tenho uma opinião própria: só deve lançar vinil em Portugal quem consegue (com as edições em CD) criar um profile, uma base de fãs. Claro que isto é uma opinião muito própria, não tenho nada contra as bandas que fazem vinil logo na sua primeira edição; apenas acho que não é rentável o fazer com, por exemplo, o disco de estreia de algumas bandas que editaram pela Rastilho. É um processo gradual que em Portugal (como em qualquer parte do mundo) demora algum tempo.
5 – SC Quais as estratégias que usas para promover as tuas bandas?
PV - A promoção é o key-point de qualquer trabalho discográfico em Portugal. Temos dezenas de lançamentos por semana em Portugal, as lojas são literalmente inundadas por novos discos a cada segunda-feira. O segredo passa então por os nossos discos conseguirem mais visibilidade que os outros, recorrendo a algumas técnicas básicas de marketing....
Vamos brevemente criar a nossa própria empresa de promoção e eventos para promover as nossas bandas e discos convenientemente. Digamos que vou passar a promoção (até agora centrada em mim) a uma pessoa formada na área do marketing e que sem dúvida domina estas técnicas (algumas das quais quase que subliminares!) melhor que eu.
Outro aspecto é o tipo de lançamento/disco/banda; obviamente que o tipo de promoção que vou fazer com o disco dos The Allstar Project será certamente diferente daquele que vou fazer com o novo de Mata-Ratos. São mercados, alvos, público e media diferentes....
Vamos brevemente criar a nossa própria empresa de promoção e eventos para promover as nossas bandas e discos convenientemente. Digamos que vou passar a promoção (até agora centrada em mim) a uma pessoa formada na área do marketing e que sem dúvida domina estas técnicas (algumas das quais quase que subliminares!) melhor que eu.
Outro aspecto é o tipo de lançamento/disco/banda; obviamente que o tipo de promoção que vou fazer com o disco dos The Allstar Project será certamente diferente daquele que vou fazer com o novo de Mata-Ratos. São mercados, alvos, público e media diferentes....
6 – SC - Tens organizado igualmente alguns concertos. A organização destes eventos são uma consequência lógica do mercado da edição, como forma de promoção, ou tu desempenhas igualmente este papel por teres gosto e claros contactos privilegiados?
PV - Deixei a organização de concertos, pelo menos com a regularidade de outrora.
Estou todavia ligado ao Bar Alfa em Leiria, onde em conjunto com o seu proprietário (Nelson Duarte) temos dinamizado as noites de Sexta-Feira na zona de Leiria.
Poderei voltar a organizar concertos em nome próprio mas nesta fase prefiro honestamente ajudar um espaço como o Alfa.
Estou todavia ligado ao Bar Alfa em Leiria, onde em conjunto com o seu proprietário (Nelson Duarte) temos dinamizado as noites de Sexta-Feira na zona de Leiria.
Poderei voltar a organizar concertos em nome próprio mas nesta fase prefiro honestamente ajudar um espaço como o Alfa.
7 - SC - Alguma vez sonhaste que a editora pudesse durar estes anos todos? Quais são as tuas maiores compensações?
PV - Olhando para trás, naturalmente que não imaginava que a Rastilho pudesse existir (à) 11 anos. As maiores compensações são as palavras de apreço e consideração dos nossos estimados clientes. E, em termos de editora, o facto de trabalhar com bandas que sonhava conhecer.... Lembro-me de estar em concertos dos Tédio Boys e Mata-Ratos nos anos 90 e sonhar conhecer aquelas pessoas, como um fã normal.... volvidos estes anos acabo por as conhecer e trabalhar com as suas bandas!
8– SC Distribuindo tu algumas bandas e editoras, porque é que nunca meteste mãos à obra no sentido de distribuíres as edições da Rastilho? Como analisas tu o mercado da distribuição em Portugal?
PV - O mercado de distribuição em Portugal já viveu melhores dias. Nós vendemos directamente para a Fnac mas não as nossas edições próprias, essas preferimos passar ao nosso distribuidor exclusivo em Portugal, Compact Records. A razão é simples: eles fazem um trabalho de inegável qualidade, certamente melhor do que se a distribuição fosse feita por nós. Claro que um dia poderemos fazê-lo mas honestamente não penso que seja exequível a curto/médio prazo. É preciso conhecer todos os truques de distribuição, perceber como funcionam as Lojas do mercado tradicional, como funcionam as compras da Fnac, ter uma política de preços coerente, etc, etc..... portanto prefiro passar a distribuição a quem se dedica exclusivamente á distribuição.
9 – SC - Qual o futuro próximo da editora?
PV - O futuro passa pelo novo site www.rastilhorecords.com; É uma grande aposta que fizemos para 2007 e vai estar brevemente online. A nível de distribuição, reforçar/melhorar a distribuição internacional.
Quanto a novidades, vai sair em Outubro os novos discos de The Allstar Project e Mata Ratos; para Janeiro´08 o segundo álbum dos If Lucy Fell, Born a Lion, The Poppers, Dapunksportif e uma parceria estratégica com os Linda Martini.
Quanto a novidades, vai sair em Outubro os novos discos de The Allstar Project e Mata Ratos; para Janeiro´08 o segundo álbum dos If Lucy Fell, Born a Lion, The Poppers, Dapunksportif e uma parceria estratégica com os Linda Martini.
10 - SC - Editando tu essencialmente artistas nacionais, como analisas o momento por que passa a música indie no nosso país?
PV - Em ponto de rebuçado! A sério, temos excelentes bandas, excelentes discos e tenho mesmo muita tristeza por não conseguirmos exportá-la convenientemente. Os poucos exemplos que temos (num espectro mais alternativo) foram/são um sucesso: X-Wife (em Espanha), Wraygunn (em França), Legendary Tiger Man, Moonspell, Born a Lion (no Brasil)..... Acho que as bandas nacionais devem ter esta prioridade quando editam um disco: a exportação! Não faz sentido pensar o contrário, não faz sentido não lutar por este objectivo.
11 – SC - Que discos portugueses ou bandas te marcaram ao ponto de te levarem a enveredar pelo campo da edição e distribuição?
PV - Não sei até que ponto me influenciaram para iniciar a Rastilho Records; prefiro indicar-te os discos nacionais da minha preferência (ordem aleatória)
- Tedio Boys "Outer Space Shit"
- Crise Total "A Crise Continua"
- Censurados "Censurados"
- If Lucy Fell "You Make Me Nervous"
- Ornatos Violeta (TUDO!!!!)
- X-Acto/Inkisição split
- Mão Morta "Mutantes S21"
- Mata Ratos "Rock Radioactivo"
- Crise Total "A Crise Continua"
- Censurados "Censurados"
- If Lucy Fell "You Make Me Nervous"
- Ornatos Violeta (TUDO!!!!)
- X-Acto/Inkisição split
- Mão Morta "Mutantes S21"
- Mata Ratos "Rock Radioactivo"
Nuno Ávila

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