segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Ricardo Rocha - “Luminismo” (Mbari)





Não estamos perante um disco. Estamos perante dois. “Luminismo” é um cd duplo. São dois discos distintos. De um lado a guitarra portuguesa do outro o piano. No primeiro, toca Ricardo Rocha. No segundo, as teclas dos piano são afagadas pelas mãos de Ingeborg Baldaszti. O fio condutor que une estes dos discos é o próprio Ricardo Rocha, uma vez que as composições são quase todas de sua autoria. Exceptuam-se os temas que reinterpreta de Carlos Paredes, de Artur Paredes e de Pedro Caldeira Cabral.
Ricardo Rocha é um homem de dois instrumentos. Diz preferir o piano, mas é a tocar guitarra portuguesa que melhor o conhecemos. Sendo neto do mestre Fontes Rocha, não será dificil de compreender que tenha pegado na guitarra ainda em tenra idade.
Mas o que é certo, é que ao abordar estes dois universos, Ricardo o faz com enorme enlevo. Tem um tipo de escrita muito próprio, e no particular caso da guitarra portuguesa, aborda o instrumento de forma distinta dos mestre que aqui ele próprio homenageia.
Ricardo atira-se à composição despido de preconceitos. Cria de forma muito particular. Oferece-nos paisagens densas, por vezes difíceis de penetrar. Por isso o grande segredo para melhor desfrutar deste registo, é ouvi-lo a espaços. Audições em demasia podem provocar alguma fadiga no ouvinte. Assim, de cada vez que partimos para a descobertas destes sons, vamos com o ouvido disponível para receber novos detalhes e outras sensações.
Sim, porque este é um disco intenso. Que requer muito de nós. Tem que se ter disponibilidade total para escutar “Luminisno”. Para o absorver todo. E isso, chegados ao fim dos dois discos é quase como se tivéssemos acabado de correr durante muitos minutos.
Mas é isso que torna este um disco singular. A capacidade que tem de nos prender em absoluto. Ricardo Rocha consegue fazer a diferença. E no caso da guitarra portuguesa, que tão graciosamente domina, consegue mesmo ser diferente.
Por isso torna-se urgente descobrir o universo de Ricardo Rocha. De penetrar nele. De perceber que tanto o som de uma nota de pano, como o dedilhar de uma corda de guitarra, são aqui levados a um extremo que nos endurece a alma. De prazer!


Nuno Ávila

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