quarta-feira, 12 de maio de 2010

Deolinda – “Dois Selos e um Carimbo” (EMI)





O estigma do segundo disco. Fardo pesado… Foi uma ascensão muito rápida, a dos Deolinda. Difícil de segurar o calor gerado em seu redor. As marcas da responsabilidade ficaram tatuadas no corpo e tolheram os movimentos dos artistas. Uma dor de cabeça para Pedro da Silva Martins autor das letras e músicas.
Depois de um primeiro registo excelente, com vivas lançados ao ar quer por parte dos média, quer por parte do público, era grande a expectativa em saber como o quarteto se aguentava no fio da navalha.
Mal se mete o CD a rodar, todas as nossas melhores esperanças vão por água abaixo. “Se Uma Onda Invertesse a Marcha”, traz-nos uns Deolinda uns furos abaixo do que seria desejável, pelo menos para nós que os aclamamos noutras alturas.
Mas o que é certo, é que os Deolinda não perderam de todo o seu brilho e alegria e brindam-nos aqui com temas de sorriso rasgado como “Um Contra o Outro”, “A Problemática Colocação de Um Mastro” e “Quando Janto em Restaurantes”. Contudo, destacar três temas num conjunto de 14 é manifestamente pouco. De facto o talento de Pedro da Silva Martins apagou-se um pouco quer a nível de escrita musical quer das próprias letras, às quais falta aquela pitada de humor tão característica. Mesmo assim, temos aqui bons princiípios, aos quais só faltou uma melhor finalização.
Quer-me parecer que os Deolinda começam a sentir que o país é demasiado pequeno para eles que tocaram em todos os palcos possíveis e imaginários após a saída do primeiro disco. Digo isto porque a dada altura, parece-me haver aqui uma tentativa de “colagem” a uns MadreDeus, da época em que as guitarras de Pedro Ayres Magalhães e José Peixoto eram a mais valia do projecto. Sinto que a ideia da banda é seguir os mesmos passos dos MadreDeus…
Só que, será bom referir que tanto uma como a outra, são portadoras de singularidades que as distinguem e lhe dão um toque inovador e as tornam cativantes. Daí que esta aproximação, até em alguns momentos do cantar de Ana Bacalhau, não seja a melhor opção. Cada uma no seu lugar próprio.
“Não tenho Mais Razões” e “Passou Por Mim e Sorriu”, são apenas dois exemplos que comprovam esta minha tese.
No entanto, após a saída, do disco, parece que a euforia em torno dos Deolinda continua, tendo “Dois Selos e um Carimbo” chegado a numero um do top de vendas. “Um Contra o Outro”, single de apresentação deixava antever um bom registo.
Resta agora saber como a banda se vai aguentar em palco. Nada que uma boa escolha de temas, doseando a novidade com o brilho de uns sons mais antigos não resolva.
Mas o que é certo, é que afinal, “Dois Selos e um Carimbo” é que transporta dentro de si canções ao lado.
Que pena ter acontecido assim… Os Deolinda tinham tudo para vencer! Rezemos para que a fonte não tenha secado… Eles merecem voltar aos grandes dias de glória. Assim tenham cabeça fria para não deixarem a fama tomar conta da criatividade.


Nuno Ávila

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