segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Horselaughter - “I Was a Ghost, Then” (Edição de Autor)



Cores pardacentas cobrem a paisagem. Um quadro deliciosamente melancólico. Um fim de tarde outonal em que apetece ficar em casa sossegado a ouvir estes sons. Na ponta dos dedos um copo de whisky, que se bebe em tragos lentos.
Filipe Ferreira, ele mesmo Horselaughter, oferece-nos um registo que nos leva a viajar pelos grandes descampados americanos. A folk está na base da criação destas “canções". Assim mesmo colocando canções entre aspas. Porque nada disto é linear. E é isso que faz aqui a diferença. Temos que colocar aqui igualmente a palavra indie para descrever estes sons. Mas não só. Porque aqui se experimenta muito. Indie folk experimental assim se pode catalogar isto que aqui escutamos.
Sem medo de inovar e de ser diferentes Horselaughter traz até nós um registo enorme, que se deve escutar atentamente. Canções feitas de dezenas de pequenos detalhes que lhes dão uma originalidade verdadeiramente apetitosa.
Dedicando este disco a Mark Linkous, que o ano passado se suicidou, Filipe Ferreira presta assim homenagem aos Sparklehorse, grupo que o inspira nesta sua criação. Presença que se sente igualmente por aqui é da Tom Waits, quer pela versão de “Undergraund”, quer por alguns salpicos de blues que as musicas vão atirando aqui e ali para o ar.
Feito com muito cuidado, este disco não esquece nenhum detalhe. Toda a imagem à sua volta nos remete para estes ambientes bucólicos. Temos assim um disco no seu todo.
Não se deve ficar indiferente a obras desta envergadura. Registos que ao entrarem por atalhos já várias vezes calcorreados, e não saltando a casa de parida, conseguem pela sua originalidade dar novo brilho a um estilo, que pelos vistos ainda tem muita matéria bruta para trabalhar.

Nuno Ávila

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