Deliverance (You Are Not Stealing Records, 2011)
Após sete anos, os Stealing Orchestra ganham nova vida e anunciam o seu regresso aos discos. “Deliverance” contém 9 faixas inéditas e é o terceiro longa-duração da banda, que assinala também o 10º aniversário da netlabel You Are Not Stealing Records. Com a participação de Rodrigo Leão, Ana Deus e João Filipe (Sektor 304), o novo disco pode ser encontrado em formato digital em qualquer loja iTunes ou Amazon e em CD em algumas lojas da especialidade. O grafismo da capa e do livreto ficaram a cargo de Armando Brás (colaborador e amigo de longa data da banda) e de André Coelho (também dos Sektor 304), e o resultado é um trabalho que espelha na perfeição o imaginário explorado pelos Stealing Orchestra.
O último registo da banda oriunda do Porto (o EP “Bu”) datava de 2004 e, desde então, os músicos dedicaram-se a vários projectos paralelos: X-Wife, Genocide, Motornoise, G.G. Allin’s Dick, Três Tristes Tigres, Mécanosphère, Dr. Phibes & The Ten Plagues of Egypt, F.R.I.C.S., Two White Monsters Around a Table, entre muitos, muitos outros.
Esta “libertação” é o corolário de vários anos de destilação de ideias, composições, pesquisa de sons e gravações. Ao contrário dos álbuns anteriores, onde a manipulação e colagem de sons assumia um papel fundamental, “Deliverance” celebra uma nova atitude da banda, que aposta num processo criativo que envolve os vários elementos, e onde já é impossível a distinção entre o que é “sample” e o que são instrumentos reais. O resultado é, assim, uma composição mais orgânica e fluida, que deve ser ouvida como um todo: o drama em “Evitando o Cinismo”; a perda em “Enquanto há memória”; a beleza agreste de Trás-os-Montes em “Um Reino Maravilhoso”; a violência incontida de um povo adormecido que se revolta em “A Glorious Moment of Popular Catarsis & Revenge”; a esperança em “Earth Provides Enough to Satisfy Every Man’s Need”. Na última música, “Getting Him Out of Creation”, ouvimos um excerto de uma entrevista ao filósofo Colin McGinn, no programa “The Atheism Tapes” (BBC, 2004), e em seguida, voltamos ao começo de tudo: às explosões, aos trovões, ao violento nascimento da Terra, e aos primeiros sons de água e da vida, terminando no Homem, na máquina, e no caos. Os Stealing Orchestra sugerem-nos, assim, que nos libertemos da criação e vejamos um Mundo que nasceu por si, e não por Ele.
É um disco profundamente emocional, indiossincrático e cheio de fé (mas sempre sem Ele por perto, claro...), que merece ser descoberto e redescoberto a cada audição.
É, no fundo, um disco feito com amor, sem pedir licença e sem qualquer receio em apontar novas direcções, onde podemos ouvir tudo aquilo que já ouvimos em qualquer outro lado, mas de forma totalmente diferente. “Deliverance” nunca será Música do Mundo, mas não tem receio de assumir que é música de todo o Mundo, mas fiel às suas raízes.
Com 13 anos de existência, os Stealing Orchestra editaram a primeira maqueta em 1998 (“Postcard People”), que lhes valeu a atenção da crítica especializada e seis prémios na edição desse ano dos extintos Prémios Maquete. Dois anos volvidos lançam “Stereogamy” (NorteSul/EMI-VC), o álbum de estreia, onde assumem claramente o seu fascínio pelo cinema, pela manipulação e colagens de sons, bandas sonoras de jogos de computador e maquinaria obsoleta capaz de produzir os mais improváveis sons.
Em 2001, “É Português? Não Gosto” inaugura uma nova fase na carreira da banda. Lançado pela recém-formada “netlabel” YANSR, este EP desafia os meios tradicionais de edição e brinca com os preconceitos em relação “ao que é nosso” - o título fala por si. Aliás, os títulos das músicas sempre foram uma imagem de marca da banda, que aproveita, também aqui, para fazer crítica social digna de uma tragicomédia (“El Torero Corneado en el Culo”, “Tetris (Beware Boy, Videogames Are Evil)”, “Que Deus te dê o dobro de tudo o que nos desejares” ou “The Darkside of a Transvesti”).
O último longa-duração da banda antes da hibernação, “The Incredible Shrinking Band” (Zounds/Sabotage), leva ainda mais longe estes seus universos, e continua a celebrar a música enquanto arma de arremesso. A crítica é unânime e a banda atinge o estatuto de banda de culto. Um ano depois, editam, quase em simultâneo, “The Haunted and Almost Lost Songs 97-98” – um conjunto de músicas gravadas naqueles anos e que nunca tinham visto a luz do dia – e “Bu!”, um exorcismo em formato EP das nossas paranóias, medos, ansiedades e exaltações.
Em 2011, os Stealing Orchestra voltam a afinar a orquestra com “Deliverance”. Sejam bem-vindos ao nosso presente.
Convidados especiais:
Ana Deus (“Enquanto Há Memória” e “Sem Tempo Para Tudo”)
Rodrigo Leão (“Finding The Right Self-Schema”)
João Filipe (“When Conspirancy Theories Become Mainstream”)
Stealing Orchestra são: João Mascarenhas, Fernando Sousa, Gustavo Costa, Pedro Costa, Henrique Fernandes
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