segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Cipriano Mesquita - “Cipriano Mesquita” (Edição de Autor)




A guitarra portuguesa de Cipriano Mesquita tem Paredes dentro. É uma guitarra que respira Coimbra. Isto apesar de Cipriano ter escrito grande parte destas canções entre Lisboa, Cabo Verde e Londres.
Esta guitarra tem aqui e ali toques que nos levam até Alfama. Tem um dedilhar que nos lembra por vezes Marceneiro. Contudo é inegável afirmar que Cipriano cresceu enquanto músico a admirar Paredes e daí que a sua forma de tocar nos remeta quase sempre para a terra das capas negras.
Cipriano Mesquita já nos tinha brindado com o seu talento ao introduzir a sua guitarra no pós-rock praticado pelos Laia, dando-lhe uma portugalidade contagiante. Neste seu primeiro registo mostra toda a sua potencialidade oferecendo-nos um conjunto de canções que projectam imagens de um Portugal com sal, de um mar que nos abriu portas e que agora é ponto de entrada em cidades feitas de um quotidiano reboliço.
A meio deste seu registo, em “Moreia”, Cipriano pousa a guitarra portuguesa e dedilha uma clássica. Explica o músico: “ Música feita para a viola. Decidi gravá-la sem mais nenhum acompanhamento. Faz-me lembrar o tempo passado sozinho no meu estúdio na Ilha do Sal”.
Cipriano é um músico de vistas largas que se diz influenciado por artistas, que à primeira não pensaríamos serem sua fonte de inspiração. Cipriano tanto ouve Nick Cave, como Zeca Afonso. Escuta igualmente os Tool, King Crimson ou Brian Wilson. E claro sorve tudo de Carlos Paredes. Tudo isto e muito mais ele admite como artistas que deixam marcas no seu tocar. Mas nisto da guitarra portuguesa, Paredes é o mestre e não há como negar que é ele que faz Cipriano ter esta paixão pelo instrumento.
Cipriano tem uma forma de tocar semelhante à de Paredes, só lhe faltando atirar para as cordas os dedos com a força com que o Mestre o fazia. De tal forma que a guitarra quase não necessitava de amplificação.
Mas certo é que Cipriano tem aqui um trabalho de muito valor, enaltecendo um instrumento que cada vez mais está na moda. Mostra-se um compositor seguro, trazendo novas abordagens, para dentro do seu primeiro registo.
Estamos assim, perante um disco com muitos fados dentro. Um disco com alma. Com um sentir que se perde nas cordas dedilhadas por Cipriano Mesquita. Um convite a que entrem dentro desta guitarra e se percam docemente em ruas feitas de calçadas de basalto.

Nuno Ávila

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