terça-feira, 19 de março de 2013

MINTA & THE BROOKTROUT VERSUS BEACH BOYS

 

















BLACK BALLOON XII
29 DE MARÇO, 23H00M, LUX
Minta & The Brook Trout play The Beach Boys' Pet Sounds (concerto) + Pérfido Ramos VS Tiago Castro (Radar Wrestling DJs)
 
O meu amor eterno por Brian Wilson começou com um best of dos Beach Boys, que no folheto contava uma muito sucinta história da banda. Percebia-se ali que Brian era o líder criativo que conseguira rebelar-se contra o pai e agente Murray Wilson, que controlava o grupo de irmãos e primos recorrendo à autoridade com violência (especula-se mesmo que a surdez de um dos ouvidos de Brian tenha sido causada por golpes desferidos num desses negros episódios). Mas Brian, através da sua mestria para compor hits e do dinheiro que estes geravam, conquistara a autonomia necessária para libertar-se de Murray.

Este tosco enredo prendeu-me de tal forma a imaginação que tudo o que ouvi até aos 10 anos foi aquela compilação manhosa. Os Beach Boys foram os meus Ministars, a minha Madonna, Michael Jackson. Cheguei mesmo a tentar fazer surf em longboard por causa deles (sim, só mais tarde viria a saber que dos irmãos apenas Dennis surfava). Quase como desenhos-animados, cantavam sobre carros, motas, praias e raparigas: a banda-sonora perfeita para um rapaz dizer adeus à infância. Quando percebi que afinal havia outros discos deles, fui atrás. E comecei assim a comprar música.
 
Chegado a Pet Sounds, já não era tão fácil perceber sobre o que eram as canções, já não havia surf e dias felizes.
 
Apontavam ao Céu. Para além de "God Only Knows", "Wouldn't It Be Nice" ou "Sloop John B" que já conhecia, descobri "Caroline, No", "Don't Talk", "I Know There's An Answer", "Here Today"… todas perfeitas e todas num mesmo disco que, ano após ano, foi substituindo o tal best of, tornando-se uma das coisas mais importantes da minha vida.
 
Prestar-lhe tributo poderia ter sido uma ideia tão repensada e mastigada que seria agonizante chegar a um consenso sobre quem convidar para levar a cabo esta missão. Mas não, foi intuitivo e tão natural como a resposta que encontrei do outro lado.

Minta & The Brook Trout é uma banda em estado de graça, tendo assinado em 2012 um dos melhores álbuns feitos nos últimos anos por cá: Olympia. Francisca Cortesão, Mariana Ricardo, Manuel Dordio e Nuno Pessoa aperfeiçoaram a lição "menos é mais" ao ponto de que tudo o que tocam seja imenso, mesmo mantendo os instrumentos em terra firme. Nesse sentido, há aqui um contraste natural à wall of sound e avalanche orquestral de Pet Sounds. Ao mesmo tempo, há pontos que se tocam, como as harmonias vocais ou o recurso a truques caseiros de produção. A verdade é que não faço ideia qual será a abordagem deles perante tamanho colosso pop. E nem quero saber. É isso que faz da noite que aí vem algo tão excitante.
 
Entre os convidados estarão Ian Carlo Mendoza no vibrafone e músicos de Julie & The Carjackers (que reinventaram Revolver dos Beatles em Fevereiro de 2012) e You Can't Win, Charlie Brown (que transfiguraram The Velvet Underground & Nico em Outubro). A presença deles ajuda a completar uma ideia de trilogia 60's nestas noites Black Balloon.
O que acontecerá depois? God Only Knows…
Pedro Ramos

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