Apesar de ser um pianista ainda novo Júlio Resende é já um dos valores mais seguros da música portuguesa. Um pianista que passeia a sua elegância por caminhos jazz, quer seja a solo ou na companhia de outros artistas. A sua marca está bem patente por exemplo no trabalho de Elisa Rodrigues ou dos Ogre, projecto liderado por Maria João.
Este disco, como o nome indica é um tributo à diva do fado, Amália Rodrigues. E um dos mais bonitos e sentidos que até hoje foi feito.
Júlio Resende pega em 10 dos mais emblemáticos fados de Amália e transporta-os para o seu piano. Uma transposição cuidada, trabalhada como se um diamante estivesse a ser esculpido. Este disco vive dos sublimes arranjos feitos por Júlio Resende, que transportam estes fados para lugares nunca antes imaginados. Os dedos nas teclas, nunca fazem a canção perder a sua raiz. Conseguem estes mesmos dedos ter a magia, de fazer a canção crescer, aqui e ali, por entre improvisos que só um homem do jazz nos consegue ofertar desta maneira. Mas o fado está sempre lá e nós sabemos qual é.
Veja-se por exemplo o tema dois em que o músico entrelaça “Vou Dar de Beber à Dor” com “A Casa da Marquinhas”. Escute-se “Medo”, a fechar o disco, em que as novas tecnologias permitem trazer a voz de Amália gravada em 1966 para junto do piano de Júlio. E descubra-se “Foi Deus”, com um dos mais bonitos arranjos de todo o registo.
Mas apesar destes destaques, diga-se em abono da verdade, que este é um disco por inteiro.
Diz Júlio Resende, ser o cofre de um país que lhe deu o Fado, a língua com que diz Amo-te, cravos em espingardas, as fintas do Figo, o canto de Amália. Agora como que agradecendo tudo isto o pianista dá-nos “Amália”. Dá-nos a sua Amália. E nós agradecemos, pois ela está ainda mais bonita e emotiva.
Amália dizia num dos seus fados ter sido Deus que lhe deu a voz para cantar. Foi esse mesmo Deus que deu o talento a Júlio Resende para tocar.
Nuno Ávila
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