Eduardo Raon Harpa, Daxophone, Electrónicas, Voz e Percussão
Por esta altura, violinos e violoncelos podem já ter-se emancipado das suas conotações clássicas, dado o seu uso em situações de jazz e até rock, mas tal ainda não aconteceu com a harpa. Este instrumento de estranha aparência continua a ter um “status” sinfónico, apesar dos esforços em contrário de músicos como Zeena Parkins e Rhodri Davies, responsáveis por lhe dar outros vocabulários e propósitos. Nessa curta lista de harpistas transformadores há que adicionar o nome de Eduardo Raon, português radicado em Ljubljana. Tanto nos circuitos da música livre e experimental com o Powertrio ou tocando em contextos de jazz com a cantora Maria João e o pianista Mário Laginha, as contribuições de Raon para um novo entendimento desta ferramenta musical foram ganhando uma projecção cada vez maior.
Eis agora o seu primeiro álbum a solo, e nele tudo o que lhe tínhamos ouvido parece mais claro, mais brilhante e mais conseguido. Se é o vosso primeiro contacto com a sua música, preparem-se para uma surpresa: a referência clássica faz-se sentir, o que não podia deixar de ser, mas as técnicas extensivas aplicadas, o processamento electrónico em tempo real dos seus sons e a adopção das metodologias da improvisação levam a harpa para outros e muito diferentes caminhos. A própria temática escolhida para o disco reforça essa impressão de que estamos em terreno de pesquisa: Raon relaciona o comportamento aparentemente impulsivo dos insectos com a própria irracionalidade humana e a tendência desta para ser viral. Essa nossa característica comum, de bichos e homens, é traduzida em situações sonoras concretas. E se alguém se questionar sobre como consegue ele fazer o que ouve, as imagens revelam a verdade de cada gesto e de cada acto. Uma preciosidade, portanto, absolutamente a não perder.
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SHH006CD
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