2013 marcou a estreia de Leat, produtor amante da cultura de rua corporizada no turntablism,
graffiti ou skateboarding, fundamentada a partir da cena hip hop. O EP “The Circular
Expedition” era assim o disco de alguém mais habituado a manipular gira-discos do que a
compor, marcado por uma dualidade entre a produção eletrónica propícia ao relaxamento
caseiro e o hip hop que se pretende como som das ruas.
Nem um ano depois, “The Homegoing” surge como o segundo passo de uma trilogia caleidoscópia que passa por vários lugares sem se fixar em nenhum. É de novo um disco transgressor – o que não espanta já que Leat é autor de mixtapes e mestre no scratch –, em que a ligação ao passado continua mais forte do que qualquer anseio futurista. Não procurando o choque do novo é marcado pelo hip hop, funk, soul e manipulação de fontes alheias, num misto de classicismo e modernidade.
Os cinco momentos do alinhamento não pretendem mudar o mundo. Antes fazerem ouvinte participar nas dinâmicas elegantes destas canções luminosas revestidas pela soul clássica, hip hop fusionista e assentes numa massa sonora rica lançada sobre ritmos sinuosos. Tudo elaborado por quem aprendeu, ao longo dos anos, a dominar os materiais à sua disposição, mas que não perdeu a naturalidade nem a espontaneidade.
“The Homegoing” é o testemunho que a música vale pelas emoções que partilha, sendo um excelente exemplo do que a simplicidade consegue. Porque o principal na pop é sempre isto: uma melodia eficaz. E aí, Leat revela-se hábil, pois volta a investir num processo dinâmico que deixa em aberto a hipótese da procura de novos sentidos para uma música criada a partir da ideia de mutação.

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