terça-feira, 21 de julho de 2015

TALBOT EDITAM CD




















Sobre o álbum «Talbot», Hob Recordings 2015

Comecemos pela capa, que é o que está logo por baixo da película de celofane (que, ao provocar brilhos, não é totalmente transparente). A capa (digipack) é também «disco» e, neste caso, indica bem mais do que parece ao primeiro toque: em cores e pantones que levam até uma Exposição do Mundo Português que, em 1940, fez as alegrias de António Ferro e a destruição de parte do casario de Belém, ali no Tejo lisboeta.

Esta é uma hipótese de criação de memórias falsas para um álbum de 15 faixas iniciado em «Ultramar» e que termina por terras bem perto dos nossos pés, «Gáfete :: Reinaldes». A desorientação gráfica, geográfica e cronológica é da equipa de design do Ophelia Estúdio / Cristiana Couceiro e justifica-se para que os ouvidos recebam os sinais propostos pelos Talbot sem bússola ou ampulheta.

Os Talbot são Paulo Romão Brás e Miguel Ferreira, conspiradores de longa data com o projecto electro-experimental Low Pressure System, e este disco é tudo o que eles reúnem e transportam para declarar em acto artístico puro: «A música popular só é válida se trouxer à pele do tempo a memória e o futuro de uma canção». E a memória da electrónica é profícua e longeva. E aqui está ela para, uma outra vez, confundir a citada «canção». Assunto importante quando o som que se solta das palavras se mistura entre as pistas e os símbolos de um sistema acústico, por definição, iconoclasta.

Não se espere que as canções com letras dos Talbot, de Charles Baudelaire, de João Eduardo Ferreira ou Manuel Halpern (e.g. «Voo Circular», «Ponto Morto», «Paysage», «Tyto alba» ou «Apática») não sejam deturpadas pelo som alienígena de estrilos alheios e de compassos furtados.

Não se pense que os «instrumentais sem instrumentos» (e.g. «Ultramar», «Corações Flutuantes», «Urdume», «Gáfete :: Reinaldes») não contenham esse vago enlevo dançante ou cantarolante que se alicerça na alternância entre a estrofe e o refrão. 

Nesta viagem pediram a voz a Cláudia Efe, Lydie Barbara e Ana de Barros, a guitarra a Nuno Lima, a guitarra portuguesa a M-Pex e a mestria de Armando Teixeira na masterização. 

Em «Talbot» há qualquer coisa de voo circular a pairar, apático, sobre nuvens de tafetá. Ponto morto, câmara ardente ou game over de um sistema sonoro que veio de muito longe e continuará para sempre. Voo de corujas e cotovias que não conhecem o que é a noite ou o dia e temem regressar ao ultramar.

O amor anda por ali como em qualquer cantiga!

Alinhamento

1. Ultramar
Música: Talbot

2. Apática Feat. Cláudia Efe
Música: Talbot; Letra: Manuel Halpern
Cláudia Efe / Paulo Romão Brás, voz

3. Corações Flutuantes
Música: Talbot
Paulo Romão Brás, voz

4. Voo Circular Feat. Nuno Lima
Música / Letra: Talbot
Paulo Romão Brás, voz; Nuno Lima, guitarra

5. Nuvens de Tafetá
Música: Talbot

6. Pele Rasurada
Música: Talbot; Letra: João Eduardo Ferreira
Miguel Ferreira / Paulo Romão Brás, voz

7. Ponto Morto
Música / Letra: Talbot
Paulo Romão Brás, voz

8. Paysage Feat. Lydie Barbara
Música: Talbot; Letra: Charles Baudelaire
Lydie Barbara, voz

9. Game Over
Letra/Música: Talbot
Miguel Ferreira, voz

10. Tyto Alba Feat.: M-Pex
Música: Talbot; Letra: João Eduardo Ferreira
Paulo Romão Brás, voz; M-Pex, guitarra portuguesa

11. Câmara Ardente
Letra / Música: Talbot
Paulo Romão Brás, voz

12. Viagem Feat. Ana de Barros
Música: Talbot; Letra: João Eduardo Ferreira
Ana de Barros, voz

13. Pão
Música: Talbot; Letra: João Eduardo Ferreira
Miguel Ferreira / Paulo Romão Brás, voz

14. Urdume
Música: Talbot

15. Gáfete :: Reinaldes
Música: Talbot

Talbot: Miguel Ferreira & Paulo Romão Brás

Produção e mistura: Talbot
Gravação: Trigital Audiovisuais
Masterização: Armando Teixeira
Fotografia Talbot: Fabrice Pinto
Fotografia capa e CD: Arquivo Cristiana Couceiro
Design: Ophelia Estúdio

www.facebook.com/talbotband
http://hobrecordings.tumblr.com

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