quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O PEQUENO ALMOÇO INGLÊS DE FILIPE DA GRAÇA




















O disco foi gravado entre Londres e Lisboa e foi produzido e misturado pelo próprio Filipe da Graça. A masterização ficou a cargo do Eduardo Vinhas nos Golden Pony Studios e o trabalho gráfico é do Silas Ferreira. O disco conta ainda com participações de colaboradores habituais como C de Crochê (baixo), Blarmino (bateria) ou Sam Cockerton (violino).

A edição física do disco, numa parceira Picos Gémeos/FlorCaveira, vai estar disponível para venda no concerto de lançamento no dia 7 de Setembro no Estrela Decadente (Rua Josefa Maria, 4B - Senhora da graça).

Entretanto, o primeiro avanço do disco, "Paris", já está disponível para audição exclusiva no bandcamp de Filipe da Graça, aqui.

Martinho Lucas Pires, outro comparsa musical, escreveu as seguintes palavras sobre o disco:

Casa é onde um homem quiser — sobre Pequeno-Almoço Inglês de Filipe da Graça

Em “Quando é que voltas para casa?”, o músico Filipe Fernandes — a.k.a. Filipe da Graça — enfrentava o problema da distância. “Emigrante” algarvio em Lisboa desde o fim da adolescência, estava de partida para uma aventura londrina, sem bilhete de regresso. Era um homem entre espaços que se tentava situar.

O disco lidava com esse problema. Parecia que, fechado num quarto com as influências por perto e as memórias em todo o lado, o jovem da Graça tentava encontrar um espaço para ficar, e assentar, entre recordações algarvias e a partida britânica no horizonte. Como encontrar uma casa, e saber que é nessa que vou ficar? O álbum era uma pérola de indie-rock. Referencial, mas não reverencial, com guitarras a acenar ao shoegaze e baterias quatro-por-quatro de cânone, dando um espaço sério, mas ainda assim lúdico para expressar as inquietações do artista.

Cinco anos volvidos, aqui o temos de volta às lides musicais. Agora é um algarvio “emigrado” em Inglaterra (a vida tem destas ironias). Aparece-nos com novo meio-disco, chamado “Pequeno-Almoço Inglês”. A capa — uma dylanesca representação do inverno londrino — já denota o conforto que aí vem. Aqui está alguém que encontrou um recanto entre os seus mundos para ficar e assentar, deixando as guitarras eléctricas de lado e assumindo uma folk madura e bonita.

Não que tenha sido fácil. As seis canções do disco novo contam isso. “Chega de esperar não sei o quê (…) Estou cansado de saber que vai doer / tem de ser” diz-nos ele em “Começo”. Alguns amigos também saíram, foram para fora, casaram-se e têm “Filhos”. E até assentar ainda se sentiu saudades algarvias, vontades polacas e confrontos interiores, como expressa “Paris”, a melhor canção do disco (directa ao peito). Mas no fim “quem é que se importa” com o que não interessa? É “sempre a ganhar” quando o coração sabe o quer, segundo o “Tio Pedro”. Por isso ficou em Inglaterra, mas continua “a ser português”, não é um “bloke”, como canta em “Inglês”.

Em termos sonoros, estamos acomodados por violas acústicas, baterias que soam como se tocadas numa sala de estar. O balanço já não é de quarto, é de lareira: sereno e sentido. Há humor country de banjos e violinos, e algum peso de distorção por trás. O baixo saltitão por lá continua, acompanhando as emoções — ora mais melancólicas, ora mais divertidas, ora mais assertivas.

Em “This Must Be the Place” os Talking Heads cantam “Home is where I want to be / But I guess I’m already there”. Mesmo fora de Portugal, Filipe da Graça continua a ser das vozes mais originais e pujantes do rock n’roll nacional. Mesmo que esteja assente lá fora, o nível e o talento não se perderam. “Mudar”, a última faixa do disco, explica isso mesmo. “Passei a vida a mudar-me / agora não sei para onde me virar”, mas uma certeza há: não o podem parar. E não podem mesmo. O Verão está a acabar, e com ele vem este Graça. Aproveitem.

Martinho Lucas Pires

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