quarta-feira, 15 de novembro de 2017

NOVO TRABALHO DE AIRES




















Naturalismo, por Paulo André Cecílio (bodyspace.net)

Como definir o natural? É aquilo com o qual nos identificamos? É a vontade da maioria? É o que cresce por si só, ao invés de ser construído? Uma canção, um aglomerado de sons dispostos de forma mais ou menos criativa, é mais natural que o ruído que se escuta no dia a dia? O inato sobrepõe-se ao adquirido?

Sempre que olhamos um espelho, formamos uma opinião de nós; a nossa percepção é moldada pelo que é imediatamente visível, que é o reflexo. Os sentidos parecem-nos, por isso, naturais. A falta de sentidos já não o é, porque impede uma percepção – física, mental – de nós próprios. Precisamos de espelhos, e de reflexos, de forma a poder constituir o mundo natural.
A ameaça está em nem todos os conseguirem ver.

Naturalismo, obra de Aires, coloca várias destas perguntas mas deixa apenas uma resposta, aquela que se espraia, naturalmente, ao longo de três temas; a resposta é o ruído, o fechar de todos os sentidos em nome da absorção em um som total. Mesmo que assuma precisarmos de espelhos, a música quebra-os em nome da sua verdade única. Mesmo que admita estarmos rodeados de ossos, de pronto rejeita a autoridade dos mesmos – definir um ser humano como mera carne e osso não é, na verdade, natural.
Cruzando a aspereza do noise com a melancolia e rendição anímica do ambient electrónico, Naturalismo exige uma concentração maior por parte do ouvinte do que qualquer álbum preso a ortodoxias. Só assim este poderá formar as suas próprias perguntas. Ou, até mesmo, encontrar uma resposta para além daquela aqui veiculada. Basta não ter medo de não gostar do que se olha.

Aires é o nom de plume do artista madeirense (actualmente a residir em Lisboa) Vítor Bruno Pereira, um dos cabecilhas do Colectivo Casa Amarela. Da sua obra constam um EP homónimo, editado em 2013, o álbum “Fantasma” e um CD split com Liminal. Faz música, também, com os nomes verãopop, Shikabala e Ulnar, em parceria com Rui P. Andrade. Juntamente com o CCA, foi destaque na reputada revista Wire, na sua edição de novembro de 2016.

Aires@bandcamp


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