A banda portuguesa Quinta do Bill criou uma canção para os Caretos de Podence que servirá de hino aos icónicos mascarados transmontanos a dias de conhecerem a decisão da UNESCO sobre a candidatura a Património da Humanidade.
O vocalista da banda, Carlos Moisés, contou hoje à Lusa que a canção vai estar pronta no final desta semana e será entregue à associação Casa do Careto, que decidirá quando irá pô-la a circular, com a promessa de que “será uma canção alegre para ser cantada e dançada”.
“Olhem os Caretos” é o título da canção da autoria dos Quinta do Bill com letra de Sebastião Antunes e oferecida aos tradicionais mascarados do concelho de Macedo de Cavaleiros, que aguardam a decisão do Comité Intergovernamental de Salvaguarda do Património Imaterial da Humanidade, que se reúne em Bogotá, na Colômbia, entre os dias 08 e 14 de dezembro.
Os Quinta do Bill já atuaram em Macedo de Cavaleiros e conhecem os Caretos da aldeia deste concelho do distrito de Bragança.
Num concerto há alguns anos, um dos elementos da banda, a autora de temas como "Os Filhos da Nação", vestiu um dos coloridos fatos de lã tradicionais dos endiabrados mascarados que animam o Entrudo Chocalheiro atrativo de milhares de forasteiros portugueses e estrangeiros.
O presidente da associação dos caretos, António Carneiro, desafiou a banda portuguesa a fazer uma música e o repto foi aceite, inserido na campanha da candidatura a Património Imaterial da Humanidade, e o resultado poderá servir de hino, como disse à Lusa Carlos Moisés.
O vocalista dos Quinta do Bill confessa-se “um apaixonado por tudo o que seja música tradicional” e teve “a preocupação de que a canção mostrasse a realidade da música tradicional de Trás-os-Montes para sensibilizar as pessoas para a realidade dos Caretos, e que respeitasse as tradições culturais”.
Os caretos irão ser cantados com a sonoridade das percussões tradicionais -- caixa, bombo e gaita-de-foles -- e “a própria letra foi construída com o cuidado de recolher informação” no local sobre esta tradição.
“A canção transmite a parte lúdica do ritual e o porquê desta tradição, fala da ligação à terra, do rigor do inverno e da figura demoníaca do próprio careto”, indicou o vocalista da banda.
Carlos Moisés “ficaria muito feliz se os Caretos de Podence conseguissem concretizar este desejo, da elevação a Património da Humanidade”, e associa o contributo da banda “ao esforço” coletivo para alcançar este objetivo.
Como realçou, os Caretos de Podence “são os mais visíveis e podem ser os grandes embaixadores desta tradição” de Trás-os-Montes, comum a várias zonas de Trás-os-Montes, e também da vizinha Espanha, entre o Natal e o Carnaval, nas chamadas "Festas de Inverno" ou "Festas do Rapazes".
O presidente da associação dos Caretos de Podence, António Carneiro, antevê que “esta vai ser uma grande música, em termos de música tradicional portuguesa”, e realça que todos os contributos “são importantes para esta cultura que esteve quase moribunda e hoje é um ícone”.
Os Caretos vão estar em Bogotá, na segunda semana de dezembro, a aguardar a decisão do organismo competente da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
Além do colorido e do ruído dos chocalhos terão agora um hino que chama a atenção para os endiabrados mascarados em versos como estes a que a Lusa teve acesso:
“Olhem os Caretos
A chocalhar (…)
Saltar, soltar, trajar
É o nosso nordeste a falar
Traquinar, perturbar, assustar, a brincar
São rapazes capazes de nos afrontar
Tradição que nos conta que o medo se vence
Mistério de Podence."
HFI // MAG
Lusa/fim
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