sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

NOVO VÍDEO DE MAO-MAO


O vídeo de Elegia já está disponível nas plataformas digitais dos mao-mao (Youtube, Instagram e Facebook) e conta com a voz de Paula Cortes. Elegia é o segundo tema dos mao-mao (depois de Filho), projecto spokenword de Valério Romão (voz), José Anjos (voz e guitarra) e Pedro Salazar (baixo). O projecto conta ainda com os convidados especiais Sandra Martins (arranjos de violoncelo), Paula Cortes (voz) e António Jorge Gonçalves (imagens).

Elegia é um tema composto a partir do poema “Elegia para os meus funerais” de Tao Yuanming (365-427), nascido em Jiujiang numa família de letrados e considerado o maior poeta chinês entre os quatrocentos anos que separam as dinastias Han e Tang.

Ao contrário do poema de Filho (tema de apresentação dos mao-mao), escrito por um trabalhador fabril contemporâneo, Elegia evoca uma poesia chinesa antiga e tradicionalmente aristocrática, cujo contexto a nova poesia fabril chinesa veio exactamente romper.

Porém, o contraste radical entre estes dois poemas não lhes retira afinidade, enaltece-a, deixando a descoberto uma temática subjacente e comum: a condição humana e a necessidade tenaz de contemplação da beleza, mesmo que terrível, apesar do sofrimento e do medo, onde até o humor surge como salvação ao lado do vinho e outros santuários de humanidade: a amizade, a natureza e o afecto. Um gesto comum perpassa por todos estes poemas: enfrentar a morte (e o desespero) para a tentar enganar. Só assim logram viver.

O vídeo foi gravado ao vivo na Escolha de Mulheres – Oficina de Teatro, com direcção de Rui Major, e integra-se no concerto/espectáculo A lua só sabe fazer de lua, a ser apresentado no decurso de 2021. Este espectáculo é financiado pelo Ministério da Cultura no âmbito da Linha de Apoio de Emergência ao Sector das Artes, com o apoio e produção do Departamento Cultural da APIOT (Associação para a Igualdade de Oportunidades no Turismo).

Mao-mao é um projecto idealizado pelo escritor Valério Romão e pelo poeta José Anjos, em torno de poemas chineses antigos e contemporâneos escritos por trabalhadores fabris.

O projecto nasce da necessidade de interpretação e criação a partir de uma perspectiva única da poesia chinesa, em especial da poesia contemporânea escrita por trabalhadores fabris chineses e recentemente publicada na antologia Iron Moon: An Anthology of Chinese Worker Poetry, traduzida por Eleanor Goodman. As circunstâncias que rodeiam e inspiram a escrita destes poemas são tão únicas quanto terríveis e podem resumir-se a uma ideia que atravessa todos os temas e poemas deste projecto (ele próprio consolidado durante e em virtude do confinamento): aquilo que nos esmaga é também o que nos liberta.

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