As andorinhas não morrem, a Primavera nunca acaba e o renascer é uma constante. Essa é uma lição da vida. Essa é uma certeza de Ana Moura. A artista chegou a um momento especial no seu percurso. A palavra “carreira” pode aqui ser redutora por dar a entender que desvios, mudanças de direcção ou de intenção não se encaixam com essa ideia. Mas Ana Moura, a artista que conquistou os tops e o mundo, que se apresentou nas mais importantes salas do planeta, da Ópera de Sydney ao Carnegie Hall de Nova Iorque e daí ao Olympia de Paris ou ao Barbican em Londres e que teve estrelas de dimensão global na primeira fila a aplaudi-la, como Prince ou Mick Jagger, sabe bem que a arte não se sacrifica. “Andorinhas” é por isso um símbolo: de liberdade e de emancipação, de criatividade em estado puro, uma recusa das amarras do sucesso, uma declaração de uma vontade de futuro. E isso vale tudo.
A artista Ana Moura nunca foi uma coisa só: deixou marca no fado, prolongou o génio de Amália, tocou a alma de um povo e soltou a herança de África que carrega no mais fundo de si quando, por exemplo, cruzou a sua voz com a de Bonga no clássico “Valentim” com que a mulher de “Com Que Voz” em tempos nos brindou. O fado de Ana Moura foi sempre diferente: tinha cor, onde antes o negro imperava, pedia balanço festivo, onde antes uma solenidade quase fúnebre mandava, admitia outro tipo de ideias e de palavras, traduzindo uma identidade diferente, mestiça, crioula, que sempre existiu no seu âmago. Terá sido essa particular qualidade que a levou a ser convidada para homenagear os Rolling Stones em disco, para dividir o palco com o génio pop Prince: esses pioneiros artistas reconheceram na voz, na postura e na aura de Ana uma qualidade universal, impossível de conter por fronteiras ou géneros.
“Andorinhas” é, portanto, uma nova alma que assim se liberta. Porque as “andorinhas é que são rainhas / a voar as linhas da liberdade”, canta ela, que quer ir “embora”, para “só voltar um dia”. Porque, muito claramente, o mundo é a sua casa. No vídeo, rodado em telhados de um popular bairro de Olhão, Ana partilha espaço com quem dança e sente, mostrando-se com nova imagem e postura, com uma linguagem visual que tem tanto de autêntico quanto de universal, tanto de moderno quanto de intemporal.
Sobre cadência de recorte tropical e com balanço de uma África que é tanto ancestral quanto do futuro, a artista propõe uma nova ideia para nos definir a todos, posicionando-nos num lugar que não é geográfico, mas emocional, que não é histórico, mas é, ainda assim, cultural porque não recusa tudo o que o tempo nos trouxe, desembocando num porto de Lisboa que tanto recebeu através dos tempos.
O nosso futuro já tem banda sonora. Voa livre, como as “Andorinhas”. E Ana Moura é que sabe para onde elas vão. Para onde vamos todos. Há, então, que seguir estas “Andorinhas”.
O novo single de Ana Moura, “Andorinhas”, é um hino à liberdade com balanço crioulo apontado ao futuro.
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