NOVA EDIÇÃO
Gustavo Costa | Entropies and Mimetic Patterns
Sonoscopia / Lovers & Lollypops (2021)
SONOS020 | LP / CD / DIGITAL
Gustavo Costa é um músico e um artista de inúmeros talentos que se guiam por uma exploração constante dos limites da escuta. Teve formação musical desde cedo, mas o seu percurso transcende em muito as fronteiras da música. É baterista, mas também construtor de instrumentos, criador de novos sons, escultor sonoro, professor, programador e – diria eu – um generoso impulsionador da música contemporânea e da arte sonora que hoje se faz em Portugal. Tudo isto sem que, em algum momento do seu percurso, tenha perdido o foco ou apontado as luzes na sua direcção.
Talvez seja este o motivo pelo qual, só agora, volvidos 30 anos de ligação intensa com o universo musical, colaborações diversas e criações extraordinárias, Gustavo se decidiu a apresentar o seu primeiro disco a solo com o instrumento que o acompanha desde criança – a bateria e a percussão. Entropies and Mimetic Patterns é um registo surpreendente, que nos dá a sensação de uma concentração paciente, meticulosa, como se toda a sua trajectoria tivesse convergido para chegar até aqui. À entropia, que representa desordem e aleatoriedade, Gustavo responde com padrões que ligam gesto e emoção e que provocam uma sensação de presença, de proximidade. É apenas um músico em frente ao seu instrumento, mas a comunhão permanece, como se uma vez mais, fosse a partilha que orienta os seus propósitos. É dessa sensibilidade exploratória que se compõe este disco, um registo pessoal onde Gustavo organiza o caos e a energia percussiva em ritmos complexos e inesperados, um reflexo do seu universo sónico particular em que somos convidados a entrar.
O álbum arranca com Entropy, uma faixa de bateria em que Gustavo revela desde logo ao que vem. Não se espere regularidade ou simplicidade, porque os ritmos fluem incessantemente sem nenhum tipo de estrutura fácil, mas com uma força quase sobrenatural. Composto por uma série de faixas de curta duração, muitas delas não chegando sequer aos 2 minutos, alternando entre o minimalismo percussivo e batidas primitivas, despojadas, sem truques de produção. É um disco cheio de ressonâncias, onde Gustavo usa a percussão para alcançar o intangível e a bateria para provocar pulsão, viajando no abstracto com notável fisicalidade. Hexopermutations, a faixa mais curta do álbum, é disso um exemplo. O tema deixa-nos em suspenso, aumentando a tensão que se dissolve para logo entrarmos num transe hipnótico com Circles and Times II. Microstates, uma faixa minimalista que nos dá a sensação que alguma coisa nos está a ser retirada, parece-nos mais um exercício de escuta de Gustavo do que uma demonstração do seu virtuosismo enquanto músico. Gustavo é, antes de mais, um aventureiro e um explorador sónico. Há uma elevação espiritual em Mimesis Natura, o presente expande-se enquanto passado e futuro se diluem. Eu estou dentro do carro, em frente ao mar, a ouvi-la. Olho para a fotografia de Rui Pinheiro na capa e contra-capa, uma imagem que nos remete para um universo denso, primário, luxuriante, onde a natureza é rasgada pela acção humana, aqui simbolizada por uma estrada e percorrida por um homem.
Entropies and Mimetic Patterns termina com a belíssima Allegorial Dream Vision, uma faixa de 15 minutos em que batidas profundas soam como reverberações fantasmagóricas enquanto metais uivantes serpenteiam e acentuam a paleta de sons que saem diretamente da pele de Gustavo para a pele lisa dos tambores. Lá fora, a flutuação temporal das ondas do mar eleva a experiência à transcendência. Som e consciência fundem-se e o ritmo surge como a ordem primária de todas as coisas.
Texto: Raquel Castro
Composição e Interpretação por Gustavo Costa
Gravado e Misturado por João Brandão no Arda Recorders, Julho 2020
Assistência de gravação por Luis Lopez e Bárbara Santos
Masterizado por James Plotkin
Fotografias por by Rui Pinheiro
Design Gráfico por Sérgio Couto
Co-edição - Sonoscopia / Lovers & Lollypops
gustavocosta.pt
sonoscopia.pt
store.loversandlollypops.net
Talvez seja este o motivo pelo qual, só agora, volvidos 30 anos de ligação intensa com o universo musical, colaborações diversas e criações extraordinárias, Gustavo se decidiu a apresentar o seu primeiro disco a solo com o instrumento que o acompanha desde criança – a bateria e a percussão. Entropies and Mimetic Patterns é um registo surpreendente, que nos dá a sensação de uma concentração paciente, meticulosa, como se toda a sua trajectoria tivesse convergido para chegar até aqui. À entropia, que representa desordem e aleatoriedade, Gustavo responde com padrões que ligam gesto e emoção e que provocam uma sensação de presença, de proximidade. É apenas um músico em frente ao seu instrumento, mas a comunhão permanece, como se uma vez mais, fosse a partilha que orienta os seus propósitos. É dessa sensibilidade exploratória que se compõe este disco, um registo pessoal onde Gustavo organiza o caos e a energia percussiva em ritmos complexos e inesperados, um reflexo do seu universo sónico particular em que somos convidados a entrar.
O álbum arranca com Entropy, uma faixa de bateria em que Gustavo revela desde logo ao que vem. Não se espere regularidade ou simplicidade, porque os ritmos fluem incessantemente sem nenhum tipo de estrutura fácil, mas com uma força quase sobrenatural. Composto por uma série de faixas de curta duração, muitas delas não chegando sequer aos 2 minutos, alternando entre o minimalismo percussivo e batidas primitivas, despojadas, sem truques de produção. É um disco cheio de ressonâncias, onde Gustavo usa a percussão para alcançar o intangível e a bateria para provocar pulsão, viajando no abstracto com notável fisicalidade. Hexopermutations, a faixa mais curta do álbum, é disso um exemplo. O tema deixa-nos em suspenso, aumentando a tensão que se dissolve para logo entrarmos num transe hipnótico com Circles and Times II. Microstates, uma faixa minimalista que nos dá a sensação que alguma coisa nos está a ser retirada, parece-nos mais um exercício de escuta de Gustavo do que uma demonstração do seu virtuosismo enquanto músico. Gustavo é, antes de mais, um aventureiro e um explorador sónico. Há uma elevação espiritual em Mimesis Natura, o presente expande-se enquanto passado e futuro se diluem. Eu estou dentro do carro, em frente ao mar, a ouvi-la. Olho para a fotografia de Rui Pinheiro na capa e contra-capa, uma imagem que nos remete para um universo denso, primário, luxuriante, onde a natureza é rasgada pela acção humana, aqui simbolizada por uma estrada e percorrida por um homem.
Entropies and Mimetic Patterns termina com a belíssima Allegorial Dream Vision, uma faixa de 15 minutos em que batidas profundas soam como reverberações fantasmagóricas enquanto metais uivantes serpenteiam e acentuam a paleta de sons que saem diretamente da pele de Gustavo para a pele lisa dos tambores. Lá fora, a flutuação temporal das ondas do mar eleva a experiência à transcendência. Som e consciência fundem-se e o ritmo surge como a ordem primária de todas as coisas.
Texto: Raquel Castro
Composição e Interpretação por Gustavo Costa
Gravado e Misturado por João Brandão no Arda Recorders, Julho 2020
Assistência de gravação por Luis Lopez e Bárbara Santos
Masterizado por James Plotkin
Fotografias por by Rui Pinheiro
Design Gráfico por Sérgio Couto
Co-edição - Sonoscopia / Lovers & Lollypops
gustavocosta.pt
sonoscopia.pt
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