Corria o ano de 1914 quando, em Março, Fernando Pessoa se acercou de uma cómoda e escreveu de rajada os seis poemas de Chuva Oblíqua. Chegados a Março de 2022, não trazemos um disco feito numa tarde, mas sim uma obra cuidadosamente criada e pensada pelo italiano Mariano Deidda ao abeirar-se do Fausto de Pessoa.
À primeira leitura poder-se-á pensar que Fausto foi um heterónimo do poeta, mas é na verdade uma peça de teatro em que Fernando Pessoa trabalhou de 1908 a 1933, numa interpretação sua da lenda do alquimista Johann Georg Faust, símbolo da busca de um conhecimento impossível. Fausto precedeu os heterónimos de Pessoa e continuou depois deles também. A importância deste texto para melhor se entender a obra Pessoana será a mesma de alguém que nos queira conhecer profundamente sentar-se a conversar com um amigo que nos acompanhou a vida toda.
E quem também nos pode acompanhar a vida toda é esta obra de Mariano Deidda. Este não é só um disco que junta uma obra de Pessoa à música de um compositor - é uma interpretação profunda do texto, simbioticamente ligada a uma composição exímia para 5 instrumentos e coro, que atinge o seu esplendor quando conjugada com a voz áspera e bela de Deidda.
E como se esta conjugação não fosse já bastante para a excelência deste trabalho, um ouvinte atento encontrará citações musicais de Mozart, Schubert, Shostakovich ou António Pinho Vargas - mas todos os que o ouvirem passarão pela voz arrepiante e arrebatadora de Camané, que se juntou primorosamente ao tema Il Canto Delle Tessitrici.
"Fausto na música, hoje, é um ato de coragem, um grito poderoso e diferente, que procura agitar as consciências e sobretudo os olhos de uma humanidade que continua a não querer ser surpreendida. A covid-19 mostrou-nos brutalmente que não podemos colocar-nos no lugar de um Deus hipotético. Fernando Pessoa escreveu: "Toda a vida delirei, e assim fui ao céu sem custo, nem por que lá fui eu sei. Meu egoísmo e vã preguiça um choroso amor gerou, de ser Deus tive a cobiça, vê se sou Deus ou não sou!" A covid-19 veio até nós para nos fazer entender os nossos limites, para nos mostrar que acabou uma era, começando uma nova, desconhecida, violenta, tudo com o intuito de refletir, de nos empurrar e fazer pensar nos nossos erros, antes de mais nada para olharmos por nós mesmos e para o planeta Terra, nossa única casa. O "Fausto" de Pessoa ensina-nos hoje que devemos cuidar da Vida e nunca haverá algo tão importante. Ela permanecerá inalterada no tempo que ainda está para chegar e toda a humanidade jamais poderá substituir o mito, porque os mitos foram criados para que a humanidade pudesse alegrar-se e viver feliz por meio deles. Hoje, o "Fausto " de Pessoa na música representa um passo em frente, uma ponte entre o que foi e o que deveria ser. Tudo muda, entramos numa era difícil. A covid-19 que nos afeta não fez nada além de nos forçar a uma mudança necessária para nossa própria sobrevivência. Meus "Fausto" e Pessoa vão nessa direção: porque o mundo não só é sonhado, mas é dentro um outro sonho em que sonhados são os sonhadores... Grandes mudanças e grandes transformações quase sempre enfrentam o medo e a dor. Gente sem vontade, sem coragem, que não sabe sonhar, dorme para sempre."
Mariano Deidda
Mariano Deidda
Para este trabalho, Mariano Deidda rodeou-se de outros músicos e artistas sublimes, que aproximam este disco de uma obra prima.
Coro polifónico do teatro São Carlos de Lisboa, diretor Pedro Santos
Sopranos: Raquel Alão, Carolina Raposo, Sandra Lourenço
Contraltos: Maria Luisa Tavares, Manon Marques
Tenores: Pedro Miguel, Armenio Granjo
Baixos: Rui Borras, Carlos Pedro Santos
Arranjos coro: Nino La Piana
Piano: Nino La Piana
Trompete: Laurent Filipe
Violoncelo: Daniela Brito
Contrabaixo: Massimo Cavalli
Bateria: Jorge Moniz
Os poemas de Fernando Pessoa são retirados do livro Faust, editado por Giulio Einaudi (tradução de Maria José de Lancastre).
Faust é um álbum para ouvir com calma, com a solenidade e a simplicidade que tanto Pessoa como Deidda nos permitem.
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Coro polifónico do teatro São Carlos de Lisboa, diretor Pedro Santos
Sopranos: Raquel Alão, Carolina Raposo, Sandra Lourenço
Contraltos: Maria Luisa Tavares, Manon Marques
Tenores: Pedro Miguel, Armenio Granjo
Baixos: Rui Borras, Carlos Pedro Santos
Arranjos coro: Nino La Piana
Piano: Nino La Piana
Trompete: Laurent Filipe
Violoncelo: Daniela Brito
Contrabaixo: Massimo Cavalli
Bateria: Jorge Moniz
Os poemas de Fernando Pessoa são retirados do livro Faust, editado por Giulio Einaudi (tradução de Maria José de Lancastre).
Faust é um álbum para ouvir com calma, com a solenidade e a simplicidade que tanto Pessoa como Deidda nos permitem.
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