sexta-feira, 21 de outubro de 2022

NOVO DISCO DE COELHO RADIACTIVO E OS PLUTÓNIOS





















Durante quase oito anos o Coelho Radioactivo, projecto cantautoral de João Sarnadas, pareceu escorregar lentamente para um hiato permanente, cuja promessa foi sendo esperançosamente quebrada por algumas aparições ao vivo que nunca se cumpriram num verdadeiro regresso. Nunca houve num entanto um afastamento entre Sarnadas e a música. Mesmo durante este período de silêncio radioactivo, que levava amigos e conhecidos a perguntar a Sarnadas quando o encontravam na rua “Então? Ainda estás na música?”, Sarnadas editou dois discos em nome próprio na sua editora Favela Discos, deu concertos a solo e em diversos grupos, fez música com Well, fundou José Pinhal Post-Mortem Experience, tocou ao vivo com Live Low e com os Glockenwise, fez música para dança e teatro, e por aí fora. E mesmo tendo o Coelho permanecido na toca durante todo este tempo, havia um disco meio gravado por lançar a remoer, que se tornava cada vez mais pesado, disco esse que sai finalmente cá para fora.

Quem acompanhou o percurso de João Sarnadas nos seus projectos mais recentes poderia tentar adivinhar que o próximo disco de Coelho Radioactivo seguisse uma linguagem espaçada e delicada, ou uma abordagem cada vez mais experimental à canção. Contudo, esse prognóstico estaria errado. Este disco é por vários motivos uma rotação de 180 graus no percurso que o músico tem vindo a fazer. Os primeiros 90 graus pelo simples facto de este ser o primeiro disco de um Coelho acompanhado, o primeiro disco em que as músicas não foram feitas de um modo solitário, mas em conjunto com um grupo de amigos, Os Plutónios, numa garagem em Mataduços. Já os restantes 90 graus, têm precisamente a ver com o facto de o disco ter sido feito numa garagem. Como sabemos os discos feitos nesses locais míticos para as bandas são muitas vezes mais dados a guitarras eléctricas do que a dedilhados folk. Assim, é com 31 anos que Coelho e companhia lançam um disco de rock e de garagem, com uma instrumentação descomprometida, de guitarra eléctrica, baixo, bateria e teclado.

Se o seu Canções Mortas é um disco tão pessoal que quase chega a ser constrangedor, este disco deixa de falar tanto de um eu e procura falar sobre um “nós” mais geral. Também há nele músicas sobre amor, mas não é esse o foco do disco, aqui fala-se sobre o ser humano na sociedade que construímos, é falada a nossa condição, o nosso fracasso em atingir os nossos objectivos, o nosso fracasso em comunicar, a nossa relação com o trabalho, o dinheiro e o nosso bem-estar. Evitando ao máximo tocar estes temas sensíveis de
um modo condescendente ou reprovador, mas antes num tom franco e contemplativo. Assim, é sem grandes pretensões que o Coelho Radioactivo regressa, acompanhado de amigos de longa data e antigos colegas de escola, Carlos Rosário, Pedro Teixeira e Ricardo Barros, contando ainda com participações de Luís Severo e Catarina Branco num disco de pop rock, tão descomprometido quanto o Coelho consegue ser.

ALBUM LINER NOTES

Passados quase oito anos do “Canções Mortas” lanço finalmente o meu terceiro disco acompanhado pelos meus queridos Plutónios, Carlos Rosário, Pedro Teixeira e Ricardo Barros. Foi dos discos que mais me custou lançar cá para fora, passou por incertezas e incapacidades minhas, momentos em que parecia muito distante, e outros momentos em que parecia estar ali quase ao meu alcance. Por outro lado, foi o primeiro disco de Coelho Radioactivo feito na sua totalidade em partilha com outras pessoas.
Coelho Radioactivo nasceu algures em 2007, por essa altura já tinha conhecido o Ricardo Barros e o Carlos Rosário, no quinto e sétimo ano respectivamente. Pela altura do lançamento do meu primeiro EP, em 2009, eles tinham uma banda chamada Triple Plug, com outros amigos, entre os quais Pedro Teixeira. Quando surgiu a possibilidade de ir tocar ao festival termómetro achei que o melhor seria ir acompanhado de uma banda, fiz o convite aos três ilustres acima mencionados, e estavam assim nascidos Os Plutónios.

Continuámos obviamente com a colaboração, às quatro músicas que aprendemos primeiro fomos acrescentando outras, eu trazia uma música de Coelho já feita, e fazíamos um novo arranjo à banda de rock, guitarra eléctrica, baixo, teclado e bateria; algumas músicas chegavam a ter até mais de uma versão ao longo do tempo, conforme o que andávamos a ouvir e a tocar. Eventualmente começámos a ter uma linguagem mais definida, e foi aí que começaram a surgir as músicas deste disco, músicas que agora só fazem sentido quando tocadas por esta banda, e que não teriam grande piada se eu as tocasse sozinho.

Depois da gravação das bases das canções, o disco entrou no campo do Production Hell, regravaram-se instrumentos, regravaram-se vozes, reescreveram-se letras, cortaram-se músicas, perderam-se ficheiros, foi- se perdendo e ganhando ânimo, e desistindo e voltando ao disco. Finalmente, passados 8 anos lá conseguimos lançar um disco com o qual estamos contentes, não sem a
ajuda de amigos que foram passando pelo estúdio e dando umas palavras de apoio, uns ouvidos amigos e umas vozes afinadas, entre os quais estão claro a Catarina Branco e o Luís Severo que numa visita a Aveiro passaram pelo estúdio e acabaram a gravar uns coros surpresa na Falamos do Escuro. Acabo este texto com um agradecimento a todos os que fizeram parte deste disco, directa ou indirectamente.

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