terça-feira, 3 de janeiro de 2023

EM JANEIRO NA ZDB





















Sexta 13 / 22H
Iceboy Violet (UK) ⟡ NICØ (PT)

Alma volátil na sempre fervilhante música urbana inglesa, Iceboy Violet faz da subversão um exercício de criatividade constante. Os encontros com a riqueza textural do noise e a fúria crua do grime alinharam os astros em direção a uma redescoberta de si – e no que poderia aportar nesta almejada viagem. Mais que um disco, The Vanity Project, é uma pujante afirmação de intenções. Contra a normativa binária, as manhas da indústria discográfica ou as armadilhas que, de uma forma ou de outra, a sociedade de hoje bafeja no pescoço de cada um de nós. NICØ encontra conforto na fragilidade do improviso e na efemeridade das patches. Acompanhado de um sintetizador modular em constante mutação desde 2020, os seus livesets oscilam entre as frequências do IDM, glitch, ambient, hyperpop – mas também pelos ritmos frenéticos do drum&bass e do jungle.

Sábado 14 / 22H
Hetta ⟡ Hisou ⟡ Sonitus Missarum (PT)

Segundo o festival A Colina de 2021, os Hetta conseguiram partir do math-rock, do screamo e de outros subgéneros “demasiado intelectualizados” para chegar a algo “puro e violento”: os constantes pára-arrancas e esfacelamentos corrosivos, aliados ao facto do vocalista, Alex Domingos, se aventurar insistentemente a entrar pelo público adentro, dá a sensação de que o perigo está iminente. Heróico, trágico, sinistro e patético… Em japonês existe um vocábulo que reúne todas estas qualidades simultaneamente, hisou, e quem carrega esse estandarte na dianteira é Alexandre Fernandes, Alexandre Rendeiro (Alek Rein/baixo) e Ricardo “Caguincha” Mendes (bateria). Sonitus Missarum, conjunto “power noise” que conta com Pedro Melo Alves e João Valinho nas duas baterias, Gonçalo Almeida no baixo eléctrico e João Almeida no input mixer.

Quinta 19 / 22H
Tiago Sousa – ‘Organic Music Tapes Vol. 2’ (PT)

Tiago Sousa apresenta o segundo volume da sua série Organic Music Tapes – editado pela Sucata Tapes. Álbum em que encontramos, em contraponto com as suas composições para piano, uma forte presença do órgão eléctrico. Esta edição em cassete, revela uma motivação determinantemente sónica, influenciada pelo minimalismo americano dos anos 60, em particular Terry Riley, Steve Reich ou Philip Glass, ao mesmo tempo que um novo carácter toma conta do discurso pianístico de Tiago.

Sexta 20 / 22H
Império Pacífico – 'Clubs Hit' (PT) ⟡ Mantle of Gets (UK)

A maravilhosa ginga urbana dos Império Pacífico continua a abrir caminho à nova expressão eletrónica feita por cá. Desde logo, ressalta a abordagem orgânica com que Luan Bellussi e Pedro Tavares operam. Clubs Hit traz um conjunto de oito temas dignos de um sol de verão tardio e inesperado. Panda Bear, Rabu Mazda, Simão Bárcia e Noiva surgem por aqui na qualidade de convidados, alargando a panorâmica destas paisagens – e o alcance da viagem. De regresso à ZDB, os Império Pacífico preparam-se para estrear estas novas composições. Clubs Hit terá o seu eco nos próximos tempos, mas tudo deverá arrancar aqui, nesta noite. Imperdível. Na primeira parte, o novo projecto Mantle of Gets, moniker de Luke Williams (SKAM Records), identifica espaços generativos de transição e abstracções abrasivas, medidas maquinadas e pulsos melódicos camuflados.

Quinta 26 / 22h
REIF c/ Richie Culver (UK) ⟡ carincur (PT) ⟡ Alcaide (PT)

Continuando a senda colaborativa já em 2022 com Pavel Milyakov tcp Buttechno em ‘A Change of Nothing’, Culver atira-se de forma revelatória à sua solidão em duas fases: primeiro com a edição de ‘Post Traumatic Fantasy’ pela muito activa Superpang e com o supracitado postal de vivências em Hull de ‘I was born by the sea’ pela REIF. Passeio por entre possíveis memórias e pedaços lacónicos de realidade despejados de maneira bem paciente em retalhos de spoken word que confundem significados e se encrustam no torpor das camadas de pads e acordes dolentes de sintetizador. Através do quadrinómio espaço/corpo/voz/máquina como principais materiais plásticos, carincur explora fenómenos acústicos, percepção auditiva e visual, a voz como aparelho de síntese e a criação de vozes pós-humanas, usadas para entender as transições entre corpos orgânicos e electrónicos, onde quaisquer novas adições de tecnologia “externa”, são vistas como extensões do corpo.

Sexta 27 / 22H
Summer of Hate ⟡ Máquina (PT)

Summer of Hate têm um pé na pop dos anos sessenta e outro nos anos oitenta, nomeadamente, no shoegaze, no pós-rock e no pós-punk britânico. No final de 2022, lançaram o seu primeiro longa-duração gravado em estúdio, Love is Dead! Long Live Love, onde tentaram, como escrevem no seu bandcamp, «incorporar as nossas influências psicadélicas / shoegazey / pós-rock numa escrita clássica de canções pop, imaginando como é que este tipo de som existiria nos anos 1960». Em poucas palavras, os MДQUIИД tentam reproduzir, em formato power trio clássico guitarra+baixo+bateria, a estética que geralmente se associa ao body music, ao industrial e ao techno, construindo pontes diplomáticas entre a malta da música de dança, os psicadélicos e a malta do punk.

Sábado 28 / 22H
Maria Putas Reis Bêbadas ⟡ Tradição (PT)

Se quisermos encontrar o melhor de Maria Reis, vamos encontrar em Maria Putas Reis Bêbadas. Se queremos o melhor de Putas Bêbadas, também será assim. Ou não. Pode ser uma coisa totalmente diferente. O que não acontece é isto: uns a tocarem as músicas dos outros. Não, isso nunca poderia acontecer numa banda da Cafetra. Eles nunca tocam as músicas dos outros, por mais identidade que tenham, quando pegam na ideia do outro, sabem bem torná-la deles: a ideia de Cafetra está tão embutida em tudo o que cada um deles faz que, quando passa de mãos, torna-se noutra coisa qualquer que não uma coisa do outro. Mas deles. E deles é este Maria Putas Reis Bêbadas, mais uma ideia inspirada da megalomania da amizade, onde se transformam canções grandes em coisas ainda maiores. Sozinhos são grandes, em união são um grande ainda maior.

Sem comentários: