Festival Causa|Efeito – o Novo Jazz na Nova
PROGRAMA
28 junho, quarta-feira
17:30 – Mesa redonda “Jazz – que presente”
Com Stewart Smith, Pedro Costa, Guy Peters, Pedro Rôxo
19:30 Escadarias – Sérgio Carolino
Sérgio Carolino – Lusofone “Lúcifer” solo e pedaleira eletrónica
21:30 Auditório - Carlos Bica “Playing with Beethoven”
Carlos Bica – contrabaixo
DJ Ilvibe – gira-discos
Daniel Erdmann – saxofone tenor
João Barradas – acordeão
29 junho, quinta-feira
19:00 Auditório – Luís Lopes Abyss Mirrors
Luís Lopes – guitarra elétrica
Flak - guitarra elétrica
Jari Marjamaki - eletrónicas
Travassos - eletrónicas
Felipe Zenicola – baixo elétrico
Yedo Gibson - saxofones tenor, alto e soprano
Bruno Parrinha – saxofones alto e soprano
Helena Espvall - violoncelo
Maria da Rocha - violino
Ernesto Rodrigues – viola
21:30 Auditório – Susan Alcorn/José Lencastre/Hernâni Faustino
Susan Alcorn – guitarra pedal steel
José Lencastre – saxofone alto
Hernâni Faustino – contrabaixo
30 junho, sexta-feira
18:00 Auditório - João Barradas/Hugo Carvalhais
João Barradas – acordeão
Hugo Carvalhais – contrabaixo
19:30 Auditório – The Selva
Ricardo Jacinto - violoncelo e eletrónicas
Gonçalo Almeida - contrabaixo e eletrónicas
Nuno Morão - bateria e percussão
22:00 1/2 Auditório – Susana Santos Silva/Carlos Bica
Susana Santos Silva – trompete
Carlos Bica – contrabaixo
23:30 Páteo – Move (Yedo Gibson/Felipe Zenicola/João Valinho)
Yedo Gibson – saxofones tenor e soprano
Felipe Zenicola – baixo elétrico
João Valinho – bateria
1 julho, sábado
16:00 Auditório – Concerto pedagógico comentado Isabel Rato Quinteto (famílias)
Isabel Rato - piano
João David Almeida - voz
João Capinha - saxofone alto
João Custódio - contrabaixo
Alexandre Alves – bateria
18:00 Auditório – One Small Step
Janne Eraker - sapateado
Vegar Vårdal – violino e voz
Roger Arntzen – contrabaixo
19:30 Auditório – Margaux Oswald / Jesper Zeuthen Duo
Margaux Oswald – piano
Jesper Zeuthen – saxofone alto
22:00 Auditório – Sophie Agnel/John Edwards/Steve Noble
Sophie Agnel – piano
John Edwards – contrabaixo
Steve Noble – bateria
23:30 Páteo – Luís Vicente Trio + Tony Malaby
Luís Vicente – trompete
Tony Malaby – saxofones tenor e soprano
Gonçalo Almeida – contrabaixo
Pedro Melo Alves – bateria
No âmbito das celebrações dos seus 50 anos, entendidas como um momento para comemorar meio século de inovação que nos projecta para o futuro, e do lançamento do Programa Nova Cultura com a criação de uma Pró-Reitoria para esta área, a Universidade Nova organiza no Campus de Campolide um festival de quatro dias apresentando uma criteriosa selecção dos mais inovadores músicos de jazz da cena portuguesa e internacional, programada por Pedro Costa. Pensado com a dupla função de diagnóstico dos caminhos do novo jazz e de montra do jazz de experimentação nacional para críticos e curadores nacionais e estrangeiros, o Festival terá lugar nos espaços da Universidade – Reitoria e Colégio Almada Negreiros – e propõe-se como catalisador do diálogo entre a cultura de inovação própria da NOVA e da sua investigação e a experimentação na prática artística. O Festival contempla actividades com jornalistas e programadores nacionais e internacionais, especialmente convidados para acompanhar o festival, e com estudiosos do Jazz, envolvendo a investigação da NOVA, para que o futuro seja estudado no presente. Inclui ainda um concerto didáctico, pensado para o público mais jovem e famílias, potenciando a descoberta de sonoridades desconhecidas. Causa e efeito, o princípio da improvisação: deste Festival virão pistas para o futuro, inovação, descoberta, surpresa.
Apresentação – Pedro Costa
Ao contrário do pensamento conservador de que o jazz deverá obedecer a uma só forma sob o jugo do swing, existem cada vez mais músicos de jazz a procurar novas linguagens ou micro linguagens para expressarem a sua identidade. Para caracterizar o Jazz no seculo XXI, podem- se encontrar numerosas linhas de evolução no que toca à forma, ao conteúdo e até ao cada vez mais abrangente leque de instrumentos utilizados ou à forma como se utilizam os instrumentos convencionais.
Se no início do Jazz sobressaíam os clarinetes, trompetes, trombones e tubas, logo se lhes juntaram no primeiro plano os saxofones (primeiro o alto e depois o tenor), o piano, contrabaixo, guitarra e bateria. Com estes instrumentos, basicamente, foi escrita a história do jazz dos 100 anos seguintes.
Quanto à sua forma, o Jazz foi “escravo” do ritmo sincopado do swing até aos anos de 1960 quando mestres como John Coltrane, Miles Davis, Albert Ayler, Ornette Coleman o libertaram desse jugo e abriram a caixa de pandora que veio realçar o papel da improvisação. Quando na mesma década, beneficiando das descobertas do free, o jazz veio em força para a europa, rapidamente o submergiu na chamada nova música ou música contemporânea. Isto, resultou na ausência de tonalidade ou a total abertura da forma e da linguagem convencional do jazz.
Curioso como foi um americano a maior inspiração na criação do modelo europeu. John Cage foi um pioneiro da utilização do espaço (ou do silêncio), da música aleatória e da música eletroacústica, utilizando instrumentos não convencionais ou dando uso não convencional aos
instrumentos convencionais.
Assim, a maior contribuição da Europa ao jazz foi o advento da improvisação não idiomática. Seguindo a abertura criada primeiro pelo jazz modal e depois pelo free jazz (especialmente o de Cecil Taylor), juntou-se o abandono de uma linguagem ligada ao espectro do jazz. Músicos como Evan Parker, Peter Brötzmann, John Stevens, Derek Bailey, Trevor Watts, Alexander Von Schlippenbach, Tony Oxley, Paul Lovens, Han Bennink abandonaram o uso de qualquer linguagem na improvisação total que exerciam. Assim, o largo espectro oferecido por esta nova música foi largamente explorado e os cânones do jazz completamente abalados.
Enquanto o free jazz americano extrapolava as melodias ancestrais do gospel e dos blues mantendo a música ligada à terra e à tradição afro americana, a improvisação não idiomática europeia libertava a forma, o conteúdo e o ritmo.
Com o passar das décadas, o não idiomático acabou por se transformar num idioma e, contra todas as premissas, a ausência de linguagem transformou-se numa linguagem em si.
Numa tentativa de caracterizar o jazz do seculo XXI, podemos afirmar que não só as novidades de Cage continuam presentes como se nos deparam hoje em ambos os lados do Atlântico.
Chegou a vez de o jazz europeu influenciar o modelo original americano. No contínuo ideal de cada músico um jazz, ou um género de jazz, temos atualmente várias linhas de evolução desta música. O seu cruzamento com outras músicas (da chamada world music ao rock, da música eletrónica ao hip hop, etc), a criação de micro linguagens dentro de uma unidade ou de um grupo de improvisação, desenvolvimento da composição para fora da caixa suprimindo os clássicos arranjos e fugindo aos padrões rítmicos do jazz, a utilização de instrumentos e técnicas não convencionais (eletrónica, sapateado, instrumentos preparados, técnicas extensivas, reducionismo, etc) até à impensável ausência de solos.
A cada vez maior inclusão de mulheres/improvisadoras no Jazz é também algo que contribui sobremaneira a definir um presente para esta música. Como nunca, com o precioso auxílio das políticas de igualdade de género a que assistimos na Europa e nos EUA, constatamos não só a um novo percurso de democratização no jazz contemporâneo, mas até a uma redefinição no conteúdo do mesmo. A sensibilidade feminina e a sua forma de interpretar os vastos caminhos da improvisação são, talvez, a nota de maior inovação no Jazz do seculo XXI.
Como se pode constatar, o jazz nunca foi uma música de museu e a sua constante mutação continua a sugerir pistas para podermos afirmar que tudo é possível nesta música como em nenhuma outra. As premissas que criaram o jazz não são, de forma alguma, indispensáveis à sua definição atual. Hoje, é possível fazer jazz sem forma, sem swing, sem solos e sem idioma mas dificilmente já sem a presença feminina.
Que raio de música é esta afinal?
Apresentação – Pedro Costa
Ao contrário do pensamento conservador de que o jazz deverá obedecer a uma só forma sob o jugo do swing, existem cada vez mais músicos de jazz a procurar novas linguagens ou micro linguagens para expressarem a sua identidade. Para caracterizar o Jazz no seculo XXI, podem- se encontrar numerosas linhas de evolução no que toca à forma, ao conteúdo e até ao cada vez mais abrangente leque de instrumentos utilizados ou à forma como se utilizam os instrumentos convencionais.
Se no início do Jazz sobressaíam os clarinetes, trompetes, trombones e tubas, logo se lhes juntaram no primeiro plano os saxofones (primeiro o alto e depois o tenor), o piano, contrabaixo, guitarra e bateria. Com estes instrumentos, basicamente, foi escrita a história do jazz dos 100 anos seguintes.
Quanto à sua forma, o Jazz foi “escravo” do ritmo sincopado do swing até aos anos de 1960 quando mestres como John Coltrane, Miles Davis, Albert Ayler, Ornette Coleman o libertaram desse jugo e abriram a caixa de pandora que veio realçar o papel da improvisação. Quando na mesma década, beneficiando das descobertas do free, o jazz veio em força para a europa, rapidamente o submergiu na chamada nova música ou música contemporânea. Isto, resultou na ausência de tonalidade ou a total abertura da forma e da linguagem convencional do jazz.
Curioso como foi um americano a maior inspiração na criação do modelo europeu. John Cage foi um pioneiro da utilização do espaço (ou do silêncio), da música aleatória e da música eletroacústica, utilizando instrumentos não convencionais ou dando uso não convencional aos
instrumentos convencionais.
Assim, a maior contribuição da Europa ao jazz foi o advento da improvisação não idiomática. Seguindo a abertura criada primeiro pelo jazz modal e depois pelo free jazz (especialmente o de Cecil Taylor), juntou-se o abandono de uma linguagem ligada ao espectro do jazz. Músicos como Evan Parker, Peter Brötzmann, John Stevens, Derek Bailey, Trevor Watts, Alexander Von Schlippenbach, Tony Oxley, Paul Lovens, Han Bennink abandonaram o uso de qualquer linguagem na improvisação total que exerciam. Assim, o largo espectro oferecido por esta nova música foi largamente explorado e os cânones do jazz completamente abalados.
Enquanto o free jazz americano extrapolava as melodias ancestrais do gospel e dos blues mantendo a música ligada à terra e à tradição afro americana, a improvisação não idiomática europeia libertava a forma, o conteúdo e o ritmo.
Com o passar das décadas, o não idiomático acabou por se transformar num idioma e, contra todas as premissas, a ausência de linguagem transformou-se numa linguagem em si.
Numa tentativa de caracterizar o jazz do seculo XXI, podemos afirmar que não só as novidades de Cage continuam presentes como se nos deparam hoje em ambos os lados do Atlântico.
Chegou a vez de o jazz europeu influenciar o modelo original americano. No contínuo ideal de cada músico um jazz, ou um género de jazz, temos atualmente várias linhas de evolução desta música. O seu cruzamento com outras músicas (da chamada world music ao rock, da música eletrónica ao hip hop, etc), a criação de micro linguagens dentro de uma unidade ou de um grupo de improvisação, desenvolvimento da composição para fora da caixa suprimindo os clássicos arranjos e fugindo aos padrões rítmicos do jazz, a utilização de instrumentos e técnicas não convencionais (eletrónica, sapateado, instrumentos preparados, técnicas extensivas, reducionismo, etc) até à impensável ausência de solos.
A cada vez maior inclusão de mulheres/improvisadoras no Jazz é também algo que contribui sobremaneira a definir um presente para esta música. Como nunca, com o precioso auxílio das políticas de igualdade de género a que assistimos na Europa e nos EUA, constatamos não só a um novo percurso de democratização no jazz contemporâneo, mas até a uma redefinição no conteúdo do mesmo. A sensibilidade feminina e a sua forma de interpretar os vastos caminhos da improvisação são, talvez, a nota de maior inovação no Jazz do seculo XXI.
Como se pode constatar, o jazz nunca foi uma música de museu e a sua constante mutação continua a sugerir pistas para podermos afirmar que tudo é possível nesta música como em nenhuma outra. As premissas que criaram o jazz não são, de forma alguma, indispensáveis à sua definição atual. Hoje, é possível fazer jazz sem forma, sem swing, sem solos e sem idioma mas dificilmente já sem a presença feminina.
Que raio de música é esta afinal?

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