sexta-feira, 7 de julho de 2023

NOVO VÍDEO DE TIAGO SOUSA

 Agora que se fecha o ciclo do segundo volume das Organic Music Tapes, estreia o novo vídeo para a música The Tone of One.

"Em Janeiro, eu e o Mário montámos um “cine-concerto” na Cooperativa Mula para mostrar alguns dos vídeos que temos feito em colaboração num contexto de projecção com música ao vivo. Além dos vídeos previamente publicados, Sunflowers e Eyes Velazques-Grey, foram apresentados dois novos vídeos para dois temas do álbum Organic Music Tapes vol 2 que agora vamos publicar no YouTube. Em ambos, The Tone of One e For Such Paths I Long, estabelece-se um diálogo entre o autor e o ChatGPT que serve de oportunidade para experimentar e problematizar esta tecnologia a partir deste contexto de criação artística.

É uma discussão que tem sido mantida nos últimos meses. Estaremos de facto na presença de uma mudança de paradigma? Da minha parte, continuo profundamente céptico quanto a chamar à actividade destes algoritmos de inteligente uma vez que tem como ponto de partida, ou uma má-concepção do que é inteligência, ou uma estratégia de marketing de agentes económicos interessados em maximizar o seu lucro.

A tese geral de que o funcionamento destes algoritmos produz uma actividade que imita a actividade do cérebro produzindo inteligência parece-me fundamentalmente falhada porque parte da concepção cartesiana da separação entre os processos mentais e os processos fisiológicos. De acordo com a neurocientista Lisa Feldman, um cérebro carece de função sem a existência do corpo físico uma vez que participa na manutenção da alostase geral do organismo. Deste modo, são inteligentes os processos pelos quais humanos e outras criaturas vivas, até mesmo organismos unicelulares, procuram e mantém os recursos de que necessitam, de forma equilibrada e eficiente. Essa é a força motivadora do cérebro, a possibilidade de optimizar essas funções. Feldman considera que seria necessário apetrechar os sistemas algorítmicos com algo semelhante a um corpo físico para que fosse possível afirmar que cumprem a mesma função do cérebro.

Aquilo que nos é dado a ver até aqui, são sistemas computacionais que carecem de motivação própria. São essencialmente autómatos. É necessário o input humano para que se produza um texto, uma imagem, ou outro resultado. Quando falamos de criatividade humana, geralmente assumimos que existe uma intenção de concretização da visão particular do artista. Existem intenções e objectivos intrínsecos, que levam um artista a aproximar-se de uma forma particular. Se esses algoritmos não têm objectivos intrínsecos, importa talvez perguntar em nome de que valores e com que motivações são estes sistemas considerados inteligentes ou criativos.

Na sua génese, o capital apropria-se de trabalhos já existentes, mas a pressão das lutas operárias e da competição obriga-o a uma sistematização cada vez maior da produção. O que vejo aqui é o exercício de um lobby de quem deseja desesperadamente que essa coisa que criou seja realmente uma inteligência artificial geral e que, para tornar isso possível, tem a necessidade de diminuir o que significa ser humano para estabelecer equivalência.

Quanta desumanização é necessária para realizar esse projecto, por exemplo, com a exploração de trabalho fantasma, que desumaniza o trabalhador, necessário para corrigir e adaptar os produtos da produção algorítmica. Por meio de novas formas do chamado microtrabalho, em que pessoas recebem quantias mínimas, ou nenhuma quantia de todo, por tarefas que verificam, editam ou produzem dados; como exemplo daqueles que verificam a veracidade dos resultados dos mecanismos de pesquisa para identificar elementos como rosto ou carros e imagens, e é assim que eu vejo a actividade destes algoritmos até ao momento presente. Como um dispositivo capitalista para disciplinar e colonizar os diferentes aspectos da vida."

Tiaga Sousa

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