© Francisco Zenha Preto; Carolina Torres
Luís Catorze, não descurando a extravagância com que assina, debuta-se com um longa duração duplo: Altura Certa/Recomeço (20/22).
O ponto de partida é, aparentemente, um dos de sempre: as contradições, questões e dúvidas que emergem da idade, tempos e vivências de um jovem, neste caso da urbana Lisboa.
No entanto, já bem patente nos singles de adiantamento - Altura Certa e Cuidado Comigo - os evidentes contrastes e empréstimos entre os lados que compõem o disco duplo servem precisamente de veículo narrativo.
Altura Certa (20) é ligeiro e quente, arranjado com cordas e sopros acústicos por Luís Catorze, Bernardo Ramos e Rodrigo Domingos, sugerindo-se à vulnerabilidade. Recomeço (22) mergulha-se no lado que o antecede. A produção digital das canções, com auxílios de Bejaflor e de Rodrigo Castaño, surgem da samplagem de Altura Certa (20), explorando de forma pesada e fria os mesmos temas (e até letras) - as dores de crescimento; a relação com o prazer, gratificação e validação; relação com a tecnologia - como que de um despertar de um sonho de um disco para o outro, para um realidade contemporânea, digital e distópica.
Mas não é só na forma que Altura Certa/Recomeço (20/22) faz jus à extravagância de Luís Catorze: “a extravagância é um assunto sensível, penso que o surrealismo hoje em dia não costuma ser tão assumido e a verdade é que a vulnerabilidade na escrita deste disco contrasta com essa extravagância presente na música”.
O Luís vai nu.

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