E
de repente… a gaveta ficou vazia. As palavras reencontraram a música e
tudo começou a fazer sentido. Depois de algumas hesitações, o cantautor
João Reigado concretizou um dos maiores objetivos que tinha em mente:
editar um álbum de originais.
“Rascunho” foi o nome escolhido para um trabalho que conta com 15 temas, nascidos da simbiose entre as palavras, o piano e a voz do artista.
“Durante muitos anos, acumulei canções numa gaveta imaginária — uma daquelas gavetas que só abria às escondidas, como quem guarda segredos ou tenta esconder meias desemparelhadas. Ideias soltas, demasiado imperfeitas para verem a luz do dia. Faltava-me a coragem e aquela dose de ousadia, que, pelos vistos, nos abana quando nos damos conta de que já não há tempo a perder com gavetas fechadas. Felizmente, surgiu o empurrão, insistente e generoso, vindo de quem me é mais próximo, mostrando-me que, muitas vezes, os rascunhos que escondemos com tanto zelo são, na verdade, os retratos mais sinceros do que somos. “Rascunho” surge dessa vontade de tornar público um reflexo musical do que sou”, refere o artista.
O álbum foi construído essencialmente com base no conceito voz e piano, mas alguns temas foram merecedores de um tratamento especial, estilo quarteto de jazz, tal como demonstra o primeiro single, “Karma”. À voz e ao piano juntaram-se a bateria de Diogo Melo de Carvalho, os baixos e contrabaixos de Vasco Sousa e a guitarra de Ruben Portinha que, além disso, foi o produtor e um dos convidados vocais deste disco, no tema “Não há bela sem senão”, onde também tocou guitarra.
Outro dos convidados foi João Afonso (em dueto no tema “Certo e errado”), cujo talento, a carreira e a voz tão caraterística vieram enriquecer ainda mais a obra. O mesmo se pode dizer de José Manuel David, um multi-instrumentista do melhor que há em Portugal que, no caso, gravou harmónica no tema “Chuva vai” e trompas na faixa “Comboios”.
“Para dar vida às canções, contei com pessoas que admiro profundamente. O Ruben Portinha é daqueles amigos com quem nos sentimos crescer: a sintonia de pensamentos e de ideias musicais fazem de cada colaboração um encontro entre velhos conhecidos. Enquanto produtor do álbum, trouxe um cuidado exemplar, uma atenção meticulosa aos detalhes e uma abordagem sensível que elevou cada canção, tratando-as como se fossem tão dele quanto minhas. O João Afonso, cuja voz inconfundível e talento como cantautor sempre me inspiraram, foi uma escolha natural — uma colaboração que surgiu de uma afinidade construída ao longo de pequenos encontros que se tornaram marcantes. O José Manuel David, surgiu como proposta do Ruben Portinha e que de imediato aceitei, dada a sua vasta experiência musical e sensibilidade única. Os sopros que acrescentou a dois temas nos quais colaborou, captaram de forma ímpar a atmosfera pretendida. O Vasco Sousa foi outra sugestão que rapidamente se revelou uma escolha fundamental. A profundidade e o equilíbrio que trouxe deram às canções exatamente o que elas precisavam, conferindo-lhes uma base sólida e uma elegância ímpar. Quanto ao Diogo Melo de Carvalho, já conhecia os seus trabalhos em projetos musicais que admiro e, tendo cruzado caminhos noutros contextos, sabia que traria consigo uma sensibilidade musical única e uma riqueza de soluções artísticas inigualável. Cada um deles deixou a sua marca indelével no “Rascunho”, ajudando-me a contar estas histórias com uma profundidade que só a música pode alcançar”.
Mesmo no fim do alinhamento, há uma faixa escondida. Numa espécie de passagem de testemunho, ou de ritual de iniciação, o cantautor convoca o filho Lourenço Reigado, um jovem e promissor saxofonista, para um solo que, ao mesmo tempo, fecha uma obra e abre portas para o futuro, numa demonstração de cumplicidade entre duas pessoas que são pai e filho e que partilham a paixão pela música.
O trabalho gráfico, desenvolvido por Armindo Serra, dá continuidade ao nome do álbum. A partir de imagens recolhidas nos ensaios de pré-produção e em fotografias, desenhou (rascunhou) a lápis os traços dos músicos, conferindo assim ao resultado final mais um toque de personalidade.
“Rascunho” apresenta-se ao mundo em dezembro de 2024, em formato CD e com distribuição nas plataformas digitais.
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