Uterus é o tema que se veste de prelúdio, um anúncio ao renascimento manifestado no disco Portal. Uterus é em si mesma uma canção de abertura a um novo mundo, um novo ciclo, uma chamada para a transição que é esta viagem que compõe o Portal. É também uma consagração ao feminino, ao cálice criativo, ao vazio que potencia tudo e todos.
Lugar almeja habitar um espaço de homenagem ao canto e à voz como lugares de pertença. Em Lugar eu insisti na costura do ritmo Batuko com um Garba - e as quatro línguas cantadas representam os pontos cardeais incluídos num centro: esse Lugar que teima em não chegar, e a tanto demanda. Sempre quis ter almoços de domingo. Nasci nos anos oitenta, em Lisboa, fruto da alquimia entre uma mãe das Olalhas em Tomar e um pai de Diú na India: cedo a inquietação surgiu. A que lugar pertenço? Em que tradição(ões) me reconheço? Que ritmos são os “meus”? Este melting pot tem sido lugar fértil: uma rampa de lançamento para transformar dor em amor, numa osmose de aparentes dissonâncias e discordâncias.
Aritmética Cósmica é um apelo. À visão mais ampla e grandiosa que se possa ter sobre o sentido da vida. A vida existe e só por si é sagrada, e transborda propósito. A existência renasce de si mesma, e mesmo que muitas vezes duvide do destino a que os caminhos parecem levar-me, uma Visão ampla, resgata-me sentido: um sentido para além do que eu possa compreender com a minha mente…
Contornos expressa um lugar muito delicado, de questionamento. Um lugar árido que pode ser tão fértil ao mesmo tempo. Escrita em momentos de sensação de uma solidão primordial, questiona a fé no invisível. No que ainda não é manifesto. Haverá maior milagre da manifestação do que a união de dois universos - criação de um novo? Haverá maior processo de solidão e união em simultâneo, o de, se ser humano?
Home Será a vida uma eterna tentativa de regressar a casa, trazendo todos os nossos pedaços duais e paradoxais connosco mesmos? Interessa-me o que é transversal à vida. Interessa-me o tecido que nos une enquanto seres humanos, para além das diferenças culturais, sociais e pessoais. Interessa-me reconciliar-me com a sensação de dualidade primordial.
Camaleão permite-me debruçar sobre temas complexos com a leveza de ritmos arrojados. Cantada a duas vozes com Nilson Dourado, aqui revelo uma faceta mais atrevida e irónica acerca de temas como inclusão, pertença e identidade. A sensação inquietante de com-fusão é abençoada pela expressão musical e só por isso a alquimia já acontece.
Oxalá é sem dúvida uma canção de puro amor. De reconciliação com a minha terra Mater e de encontro com a minha terra Pater. Um caminho de união entre todos os nossos nortes e suis. Foi escrita em 2020, quando o Mundo atravessava uma transição única, e em que o amor e a fé foram as minhas coordenadas. Durante o processo de produção e arranjos musicais, o produtor do meu disco, Nilson Dourado, sentiu que o tema se desenvolvia num caminho que ia ao encontro da estética de Celina da Piedade, cujo convite foi respondido com uma calorosa participação. Esta é uma canção folk contemporânea, adornada com laivos de world music e fusão, trazendo uma ambiência familiar, onde diversos universos e estórias dialogam.
Dragonfly em co-autoria com Ruca Rebordão na percussão. O single de edição do disco surge como uma canção de agradecimento aos ancestrais, às memórias e às histórias como fonte de inspiração, e é neste pedido de bênçãos que eu também me ancora para seguir a minha jornada enquanto criadora.

Sem comentários:
Enviar um comentário