João Pais Filipe
TEOCALLI
Edição vinil e digital
Fica disponível hoje em formato vinil e digital Teocalli, um disco que regista o trabalho que o percussionista João Pais Filipe desenvolveu para dialogar com a obra do coletivo mexicano Los Ingrávidos. Esta edição conta com o apoio do Batalha - Centro de Cinema.
"Este álbum resulta de um convite a João Pais Filipe para desenvolver uma composição para a obra Teocalli, do Colectivo Los Ingrávidos. Esta peça sonora original foi apresentada em Fevereiro de 2024 no Batalha Centro de Cinema, numa performance que acompanhou a exibição do filme homónimo e que integrou um programa mais extenso em torno da obra do colectivo, comissariado em diálogo com o Institute of Contemporary Arts London.
Sediado no Porto, João Pais Filipe (n. 1980) é um dos mais conceituados percussionistas e compositores da cena contemporânea portuguesa. Ao longo dos anos, a solo e em colaboração — destacam-se, aqui, parcerias com nomes como Valentina Magaletti e Burnt Friedman —, testou convenções musicais diversas, interessando-se frequentemente por ontologias ancestrais, na sua emanação sónica. No confronto com a obra do colectivo mexicano (que nasce especificamente para a performance expandida apresentada no Batalha), a música de João Pais Filipe percorre um trilho de purga sensorial, interpretando sem freios a dimensão contingente e xamânica que o colectivo introduz (e reivindica) no seu cinema político, multinaturalista, de agitação.
Na língua asteca Nahuatl, falada no território que actualmente corresponde à região central do México —, a expressão “teocalli” tem diversos significados: pode indicar um “lugar sagrado”, uma “energia criativa” ou algo “divino”; pode, também, descrever o porão piramidal onde são construídos templos. Entre elementos geológicos, naturais, cósmicos, humanos e ilustrações históricas, o filme abre múltiplas possibilidades de penetração cognitiva e sensorial. E foi precisamente a partir desta força propulsora visual que a composição de João Pais Filipe se constituiu, abraçando os seus fraccionamentos, circularidades e interrupções, em transe. O poder sónico desta composição comunica com a dialéctica mitológica e metamórfica do filme e do próprio cinema do Colectivo — com todas as suas fantasmagorias objectais, documentais e humanas, com toda a sua pungente proposta de exumação imagética, que nos absorve, assombra e nos conduz a uma compreensão meta-temporal e terrena do mundo.
Numa das teses incluídas na Tese sobre o Audiovisual (Tese 71), o Colectivo articula a seguinte ideia: “La razón especulativa es la perspectiva relacional, antropofágica y autofágica del Materialismo Chamanico.” A composição sonora de João Pais Filipe não pretende somente acompanhar esta semântica regenerativa e libertária de Teocalli; propõe, antes, um espírito musical que consegue, por si só, especular sobre uma certa sensação de transcendência histórica através do universo auditivo. "
Guilherme Blanc, diretor artístico do Batalha Centro de Cinema
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